Centrão e Trump. A mesma luta?

Foto-Tiago-Sousa-Dias.jpg

Costa de São Bento não quer saída de Costa da Rua do Comércio

Quando se observa a relutância em levar até às últimas consequências os escândalos da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e a disponibilidade condenável para alimentar bancos falidos “sem custo para o contribuinte”, com fundos públicos à custa do empobrecimento dos portugueses, uma pergunta surge: qual é a diferença entre estas pessoas e Donald Trump?

No primeiro mês da sua presidência, Donald Trump, o pobre investidor que herdou 410 milhões de dólares do pai, grande parte através de manobras de evasão e fraude fiscal, partilhou com o mundo esta reflexão: “Tenho tantas pessoas, tantos amigos meus, bons homens de negócios que não conseguem empréstimos. Não conseguem dinheiro porque os bancos não emprestam devido às regras e à regulamentação”. A solução foi ordenar a alteração das regras, enfraquecendo legislação destinada a evitar uma crise como a de 2008.

Trump é motivado, em parte, pelo desejo de restaurar o seu próprio acesso ao crédito bancário. Por via das sucessivas falências dos seus negócios ruinosos foi esconjurado pela banca americana, recorrendo, por isso, a dinheiro russo e a crédito problemático na banca alemã.

Esta ideia de que o sistema bancário existe para servir os poderosos e seus amigos, a quem em Portugal se convencionou popularmente chamar DDT (donos disto tudo), foi abraçada por, sabemos hoje, um cortejo de pessoas sem escrúpulos digno de figurar ao lado do vendedor americano de banha da cobra.

Em Portugal nem sequer foi preciso alterar o panorama regulatório. Bastou colocar as raposas a guardar a capoeira e fingir que não havia problemas. É difícil imaginar que, nos círculos do poder e seus arredores, ninguém tivesse a menor noção do regabofe que de Berardo a Vara e por aquela lista fora se tinha instalado no banco público e deixasse passar gestores potencialmente manchados da Caixa para postos regulatórios. A porta giratória entre a CGD e a administração do Banco de Portugal, é um sinal preocupante da impunidade do sistema e da promiscuidade que se instalou.

Enquanto a Caixa contrata um inquérito que é, ele próprio um banho de conflitos de interesses, a classe política mais próxima dos protagonistas, vulgo PS e PSD, corre e pula sobre as brasas, com socialistas a chutar para canto e sociais-democratas a sugerirem a autopunição do suspeito.

Como podem uma classe média cada vez mais abaixo da média, millennials portugueses a viverem de recibos verdes indecentes em casa dos pais e idosos com pensões miseráveis, rever-se num sistema que lhes nega todas as oportunidades e os esmaga com impostos para salvar os centuriões da banca(rrota)?

As coisas ainda podem piorar. Há outros exemplos de Trump que Portugal pode copiar, como forçar os consumidores a recorrerem a arbitragens onde 80% dos casos são decididos contra os cidadãos, para não falar dos milhões que não recorrem à arbitragem devido aos elevados custos e à falta de poder económico para enfrentar grandes empresas, como bancos, seguradoras e empresas de telecomunicações. Ou tentar desregulamentar o crédito predador, com casos de taxas de juro anuais superiores a 500%. Já agora, não esquecer a revogação da regulamentação que impunha aos financial advisors colocar o interesse do cliente aconselhado sobre contas poupança-reforma acima dos lucros e interesses do banco ou corretora. Portanto, volta a ser legal enganar os clientes, causar-lhes perdas financeiras e arruinar-lhes os fundos de investimento para a reforma.

Há milhentas formas adicionais a que a classe política pode recorrer para esbulhar quem trabalha e se alimentar à sua custa. Nos extremos da esquerda e da direita, quem ainda não teve oportunidade de participar no saque, oferecerá soluções mágicas que nada resolverão e reflectirão uma deriva totalitária. Ainda vamos a tempo de, dentro da democracia, limpar a casa doa a quem doer. 

Foto: Tiago Sousa Dias

Luís costa Ribas