Tudo Morre

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Quando era jovem, o então monge Ikkyu e seu irmão estavam arrumando o quarto de seu mestre, e, num acidente, o irmão quebrou a tigela da cerimônia do chá favorita do sábio professor. Ambos ficaram assustados, pois a tigela era muito estimada pelo mestre, pois foi um presente do Imperador. Entretanto, Ikkyu disse ao irmão:

“Não se preocupe. Sei como abordar a questão com nosso mestre!”

Juntou os pedaços de cerâmica, escondeu-os no manto, saiu para o jardim do templo e sentou-se a esperar pelo velho sábio. Quando este se aproximou, Ikkyu propôs-lhe um Mondo (uma sequência de perguntas e respostas):

“Mestre, é dito que todos os seres e todas as coisas no Universo estão fadadas a morrer?”

“Sim”, respondeu o Mestre, “o próprio Buda assim afirmou, e tal conceito é inegável: todas as coisas têm de perecer”.

“Sendo assim, devemos compreender a natureza da impermanência, e superar o sofrimento ignorante pelas perdas, que são, afinal, relativas e inevitáveis”.

“Com certeza, tal compreensão faz parte do caminho correto!” disse o mestre feliz pela sagacidade de seu jovem discípulo. Neste momento, Ikkyu retirou os cacos de sua manga, pousou-os à frente do mestre e disse:

“Mestre, sua querida xícara de chá morreu…”.

E saiu ligeiro da presença do surpreso sábio…

Miguel Tomás

Contos ZEN