25 DE ABRIL SEMPRE!

MANUELA JONES34

 

Este ano, em Portugal celebra-se o 50º aniversário do 25 de abril de 1974. Um marco histórico para o país que representou o fim de uma ditadura de quase cinquenta anos e o início de uma nova era de liberdade e democracia. Eu, nascida em 1966, não vivenciei diretamente este período da História, mas vivi sim os seus efeitos que foram profundamente sentidos em toda a sociedade portuguesa.

A crise académica em Coimbra em 1969 foi um sintoma da tensão que existia antes do 25 de abril. Uma tensão que permeava todas as camadas da sociedade e que só poderia ser resolvida com uma mudança radical. O movimento estudantil em Coimbra, que exigia uma reforma universitária, foi reprimido pela polícia, mas a semente da mudança já estava plantada.
Quando o então estudante universitário Alberto Martins, presidente da DG/AAC em 1969, pediu a palavra ao presidente Américo Tomás, num contexto de ditadura.
Foi com o discurso:
- Peço a sua excelência, senhor presidente da República, para falar nesta sessão. A palavra foi- lhe negada. A partir daí iniciou a luta ativa dos estudantes contra o regime.
- Não nos calaremos!
Acho que foi o primeiro ensaio para o 25 de Abril de 1974.

Eu era apenas uma criança quando o 25 de abril aconteceu, mas lembro-me de como a sociedade civil mudou rapidamente após esse período. Houve uma explosão de criatividade e liberdade, não só na cultura, mas também na economia e na política. A sociedade portuguesa finalmente teve a oportunidade de se expressar livremente e ir em busca de caminhos para um futuro melhor.
Até na forma de vestir Portugal mudou.
Os cravos vermelhos trouxeram mais cor à vida e tiraram as sombras do luto do qual o país se vestia.

Mas ao mesmo tempo, houve muitos desafios enfrentados pela sociedade portuguesa no período pós 25 de abril.
Os retornados que vieram das ex-colónias, enfrentaram muitas dificuldades na adaptação, incluindo discriminação e falta de emprego. As guerras sociais e políticas surgiram, e a democracia ainda tinha muito que aprender para lidar com as tensões da representação política.

No entanto, apesar desses desafios, a evolução da sociedade portuguesa desde o 25 de abril é inegável. A democracia fortaleceu-se e estabilizou-se. Portugal progrediu em muitas áreas, incluindo o desenvolvimento económico, a cultura e a educação.

O 25 de abril marcou o início de uma nova era para Portugal, uma era de esperança e oportunidades. E, cinquenta anos depois, convém lembrar que a mudança que essa revolução trouxe, ainda é um guia para o futuro de Portugal, um futuro de liberdade, igualdade e justiça social.
Apesar do marco histórico que foi o 25 de abril e o progresso significativo que Portugal alcançou ao longo dos últimos cinquenta anos, é difícil negar que, atualmente, estamos a enfrentar muitas dificuldades como sociedade.
Embora tenhamos tido conquistas significativas no que diz respeito à liberdade de expressão e à evolução da sociedade civil, estamos agora a viver um período de regressão económica.

Infelizmente, muitos dos problemas enfrentados pela sociedade portuguesa, hoje têm as suas raízes em questões subjacentes que datam do período antes do 25 de abril. Embora tenhamos lutado duro para deixar a ditadura para trás, a realidade é que a economia portuguesa ainda é frágil, e muitas vezes, as dificuldades da vida são intransponíveis.

A crise económica que abateu o país nos últimos anos foi particularmente difícil para muitos portugueses. O desemprego é um problema crescente, e as oportunidades para os jovens são escassas. Mesmo entre as pessoas que trabalham, muitos enfrentam condições precárias e salários insuficientes para subsistir as suas necessidades básicas. Muitas famílias trabalham e vivem na rua.
Professores a viver em carrinhas.

As reformas sociais necessárias, chegam de forma tardia e são muitas vezes escassas, o que afeta principalmente a já desfavorecida população idosa. Além disso, a inflação galopante reduz o poder de compra de muitas famílias.

Em médio e longo prazo, esses problemas estão a afetar-nos cada vez mais. Muitas famílias são separadas, para tentar melhores condições noutros países, mas também reduz a coesão das relações afetivas.

Embora não saibamos como o futuro se irá desenrolar, é evidente que a situação atual não é fácil. No entanto, é importante não esquecer as lições do 25 de abril e continuar a lutar por um Portugal mais justo e igualitário. Ainda temos muito trabalho a fazer, mas com persistência e coragem poderemos alcançar o futuro que merecemos.

Manuela Jones