FILHOS SÓ DA MÃE

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O sexo, além de ser bom para quem gosta de o fazer, reúne várias boas razões para ser feito: uma delas, ainda que talvez a menos usada, é dar continuidade à espécie. Já há algum tempo que a ciência lhe retirou a exclusividade nesta matéria, mas agora uma investigação japonesa parece querer excluir também o homem do processo, ao reproduzir células germinais humanas (ou gâmetas) a partir do sangue da mulher.

«Em vez de serem concebidos numa cama ou no assento traseiro de um carro, os bebés vão passar a ser gerados em clínicas». Alguns já são, mas é assim que Henry T. Greely, advogado, perito em bioética e autor do livro The End of Sex and the Future of Human Reproduction, dá o alerta, em tom provocador, em entrevista ao El Mundo, para os caminhos controversos que estão a seguir as investigações em matéria de reprodução medicamente assistida e manipulação genética.

 

Ao que se sabe, foi dado mais um passo na ciência para a reprodução medicalizada que dispensa a interação sexual entre um homem e uma mulher. Uma investigação japonesa, publicada na revista Science e liderada pelo biólogo Mitinori Saitou, conseguiu criar gâmetas a partir do sangue de uma mulher. Gâmetas são as células sexuais de todos os seres vivos.

 

Não foi ainda possível obter um óvulo maduro, pronto para ser fertilizado in vitro, no entanto, outros ensaios com ratos – porra para os ratos! - conseguiram chegar a células reprodutivas completas. O processo chama-se gametogénese in vitro passa a reprodução para uma placa de Petri, sem necessidade de doação de óvulos ou esperma.

 

Se os gâmetas, masculino e feminino, puderem ser obtidos a partir de células do sangue da mulher, o género masculino tornar-se-á dispensável. O que continua a ser imprescindível é um útero para implantação do embrião… por enquanto. Isto porque já existem úteros artificiais, uma técnica que os especialistas apelidaram de EUFI (Extrauterine Fetal Incubation ou Incubação Fetal Extra-uterina).

Para o perito em bioética, esta hipótese «ainda está longe no tempo, mas seria possível criar um órgão externo a partir de células e estar ligado a mecanismos que lhe forneçam oxigénio, nutrientes e sangue com os níveis corretos de hormonas».

 

Apesar de parecer um cenário de filmes de ficção científica, é uma hipótese que traria algumas vantagens para quem opta pela reprodução medicamente assistida. Carlos Simón, diretor da Igenomix, empresa espanhola pioneira em genética reprodutiva, concorda com este caminho.

 

«Este é um tema muito delicado, é necessário assegurar todas as questões éticas e de saúde, mas tem um potencial enorme. A gametogénese in vitro pode reduzir os processos de fecundação in vitro, porque já não seria necessária a criopreservação ou recorrer a dadores. Uma pequena biópsia da pele e tirar sangue bastaria».

 

Por enquanto, estas práticas seriam ilegais no nosso país e a Lei da Procriação Medicamente Assistida tem gerado debate desde que o chumbo do Tribunal Constitucional em abril. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas a tecnologia veio para modificar definitivamente os conceitos culturais que resistem há milhares de anos. Coitados dos homens que querem sê-lo, pois o mundo será cada vez mais das mulheres a quem o sexo não apetece.

Ou será que o futuro será de “monstrinhos” construídos por robôs dominados pelos mentecaptos do PAN?

 

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