Editorial 08-06-2019

Fantasias

 

Acabo de ler mais um texto de “Os contos de Fajão” do falecido Pe. A. Nunes Pereira. Recordo-o com saudade, e, por muito que procure, não encontro a caricatura que ele me fez e eu gostava de aqui escarrapachar.

“A visita do Bispo” – o que está escrito, e o que não está e o que não está e em Fajão me contaram – dava para umas boas paródias daquilo em que se transformou este país de trapaceiros (medíocres uns; de alto cotulo, outros), elo que não resisto a mais umas facaditas.

Deixo em paz os Berardos, os Silvas, os Varas, os Medinas, os Césares e outros que encheram e enchem o bandulho à custa do apertar do cinto do Zé povinho.

Faço por esquecer os autarcas que, à molhada, estão a cair em desgraça junto da PJ; esqueço o ministro do ambiente, Matos Fernandes, boa pessoa ao que dizem, que, quando fala, me faz lembrar Bruno de Carvalho, não pelo que diz e desdiz, mas pelo tom de voz. Não esqueço, porém, Rui Rio, cada vez mais isolado mercê da campanha, possivelmente paga, com que a imprensa o mimoseia. Não gosto dele, mas estou à espera do safanão que ele é capaz de ar na altura que considere acertada.

Também não vou falar do presidente que cada vez me desilude mais nem de Constâncio da boa reforma, cinzentão, e sofrível, que passou pelos pingos de chuva aquando governador do BdP, agora sob uma saraivada de se lhe tirar o chapéu e que o está a descredibilizar por completo, se é que alguma vez foi credível.

Quero esquecer Guterres, o “picareta falante”, mas não consigo: zunzunam-se-me os seus discursos extensos e intensos com que, persuasivo, sem empregar mais que cinquenta/ sessenta palavras, encantava quem o ouvia, e eram muitos os camaradas, e não só, que o faziam. Não esqueço Sócrates, não pelo que o pôs na crista da onda, e dos tribunais, um tipo com discursos inebriantes, bem trabalhados, que chegavam ao coração, e à carteira, de amigos e inimigos.

Todavia, superior a qualquer deles, “admiro” um Costa que, exaltante, mesmo a falar com a boca cheia de favas para que ninguém entenda as palavras que pronuncia, porta voz de Centeno, consegue descortinar vacas voadoras e, mesmo que com um ou outro furo – ou combustível contrabandeado - manter a geringonça a rolar na direcção que traçou, a do abismo financeiro.

Uma boa semana. Vou continuar a reler “Os contos de Fajão”.

 

ZEQUE