Editorial 26/04/2024

EDITORIAL 26 04 2024

 

25 DE ABRIL EM CONSTRUÇÃO - PASSADOS 50 ANOS!

Depois das celebrações convém reflexão.

A comemoração do quinquagésimo aniversário do 25 de Abril de 1974 lembra um evento da nossa História, resultante do movimento político e social, ocorrido nesta data, que depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933 (os portugueses estiveram 41 anos sob a ditadura de Salazar), e que iniciou um processo para a implantação de um regime de Liberdade de Expressão e de envolvimento de todos num processo Democrático.

Este processo, de trazer a democracia para Portugal, ainda está a ser feito e, infelizmente, está longe de estar concluído. Não terminou nem vai terminar enquanto metade da população estiver a ganhar o ordenado mínimo, ou pouco mais, e, por isso também, sem capacidade de expressão para se afirmar, apesar dos imensos episódios de corrupção de dinheiros públicos e de abuso do poder. De pouco adianta falarmos de democracia, quando a população por medo de perder o pouco que tem, cala a exploração e não participa no processo democrático de Portugal.

Também por isso o processo da Democracia ainda não está concluído enquanto ainda existirem governantes que não desejam ser escrutinados. Desejam não ser confrontados politicamente e têm enorme dificuldade em usar a transparência. Sendo que transparência não é apenas mostrar os discursos em forma de monólogos, mas responder ao contraditório, com educação democrática e sem ameaçar com o uso do poder.

Em Coimbra, primeira capital de Portugal, casa escolhida por Dom Afonso Henriques para fundar o nosso país. Também cidade universitária e universal tem a obrigação histórica de continuar a defender a Democracia. Pediu a Palavra em ditadura, teve a coragem de ser mais do que cada uma das ações individuais. Sem medo e com a certeza de que só se vive quando se pensa pela própria cabeça. Ora foi neste espírito que se ganhou força para enfrentar a PIDE (braço armado da ditadura salazarenta). É esta a tradição de coragem que tem que ser retomada em Coimbra, para apontar os erros de más políticas.

Hoje, diferente do período anterior a 1974, não lutamos contra a ditadura defendida pela PIDE/DGS. Hoje lutamos contra a ostracização; lutamos contra o medo de perdermos o ordenado; lutamos contra o abuso de poder de nos ameaçar com a transformação das instituições como se fossem bufos da PIDE.

Hoje, 50 anos passados do 25 de Abril de 1974, e em Coimbra, ainda há um eleito autárquico que entendeu denunciar ao DIAP a livre expressão de apontar o erro político. O atual presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, entendeu usar o Ministério Público para lidar com o contraditório político. O que apenas revelou a escondida tirania do quem foi eleito por sufrágio universal.
Bem sei que apontar o erro político incomoda tanto mais quanto mais verdadeiro for, mas é isso que faz a democracia ensinada a partir do 25 de Abril de 1974.

Nestes 50 anos, que nos separam do 25 de Abril de 1974, ainda nos falta cumprir o pão, habitação, saúde e educação. Foi cumprida a Paz e deixámos de enviar homens para combater nas guerras ultramarinas, mas ainda não temos Liberdade de nos envolvermos na Democracia.

Os artigos de O Ponney foram publicados com a missão de que cada um possa refletir para mantermos a Democracia e a Liberdade, mas também fazer evoluir Portugal.

Vamos todos construir o que foi iniciado no dia 25 de Abril de 1974.

José Augusto Gomes
Diretor do jornal digital O Ponney