Editorial 01/03/2024

01 03 2024

EDUCAÇÃO E CIÊNCIA SERÃO PARENTES POBRES EM PORTUGAL?

A pergunta escolhida para título deste editorial pode ter como resposta a concordância ou a discordância. Mas dentro da boa maneira portuguesa ainda podemos criar uma terceira resposta onde se mistura o sim com o não.

Talvez a nossa maneira de juntar os opostos esteja mais próximo da verdade e é essa a maneira de nos educarmos na nossa “ciência”- tão natural que já nem damos por isso - talvez esteja aí um problema!

Penso que, nós portugueses, temos essa qualidade que nos permite um pensamento mais abrangente, ou mais ‘inclusivo’ como é agora moda, que nos permite alguma distanciação dos opostos e percebemos que é lá que circula a verdade entre um e outro.

Por piada, gosto de dizer que os vetustos portugueses, que pensaram embarcar, encararam o que se ensinava na grande universidade de Sorbonne - considerando a queda do mar e os monstros além mar para explicar o que estava além - e por outro lado a nossa fome, as nossas enormes necessidades. Estava a dualidade criada pelos opostos e instalado na mentalidade da época. Pela nossa mentalidade de povo português, misturado pelas muitas etnias, acabámos, também, por misturar os opostos e criámos a terceira resposta onde argumentámos uma vaga esperança que o paraíso se encontrava guardado pelos monstros, que nos fez formar a “escola de Sagres”.

Claro que a mistura dos opostos também traz um lado mais confuso, menos pragmático e que obriga a uma ação mais tardia. Sim, é o outro lado da nossa qualidade.

Ora foi dessa confusão que me alimentei, no final dos anos 70 e principio dos anos 80, quando a televisão apresentava 3 programas: o ideal da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (CEE) apresentado em episódios ; também os programas que tinham o título “Conversas Vadias” que nos levavam a vadiar pelo pensamento com o Professor Agostinho da Silva; e os programas “ A Terceira Vaga” apresentados pelo, também, brilhante pensador Alvin Toffler.

Os programas que defendiam a entrada na CEE argumentavam que os países mais ricos ajudavam os países mais pobres dentro da Europa para que impedissem as guerras internas (vínhamos da primeira e da segunda guerra mundiais). Era a promessa de que se ganhava mais, mantendo a estabilidade entre os países da Europa, do que mantendo os países separados. Em Portugal, apregoava-se o ideal, o sonho de estarmos juntos com os países que tinham vindo da guerra. Mas dentro da CEE a discussão era outra - Federalismo europeu ou não? Em Portugal a questão era mais simples: convencer os portugueses a desejarem entrar na CEE. Confesso que ainda acredito nessa união de países, mas de países que tenham uma base mais próxima (eventualmente a união dos países de expressão portuguesa que trataremos numa outra edição) a verdade é que, como bom português estou a criar uma terceira resposta - sim, à ideia da união de países, mas juntando continentes diferentes que são o grito do nosso misturado sangue.

Enquanto se tentava convencer os portugueses a entrar na CEE, Agostinho da Silva dizia no seu primeiro programa “Conversas Vadias” a Maria Elisa que os países da CEE “não nos faziam favor nenhum em entregar dinheiro a Portugal, pois nem o frete de abrir o mundo nos pagariam. Abertura do mundo onde esses países mais lucraram”. Só alguns deslumbrados ouviam a mensagem do Filósofo português. Eu era um desses deslumbrados. Hoje continuo a ouvir a Mensagem do Professor Agostinho da Silva e acredito nas suas contradições, mas tenho dúvida das suas certezas.

Os programas de Alvin Toffler “A Terceira Vaga” traziam-nos um outro ideal (aqui no O Ponney aconselha-se a leitura do livro para quem deseja ler sobre ideais). Falava-nos da divisão da História humana em três vagas: a Primeira Vaga a era da subsistência agrícola; a Segunda Vaga a subsistência por uma indústria onde o ser humano era ajudado por máquinas a produzir mais; e a muito embrionária Terceira Vaga onde a era do conhecimento nos mudaria o mundo e a noção de cada um de nós e do todo. Devorei os programas e empenhei os meus poucos tostões (ainda em escudos) para comprar o livro “A Terceira Vaga” que o li durante o meu período onde Portugal me exigiu quase 3 anos da minha vida dedicadas ao serviço militar. Nesse período aproveitei para entender melhor as ideias de Alvin Toffler enquanto me era dado a noção de disciplina militar e de solidariedade de espírito de corpo.

Era no desenvolvimento da Ciência, passada a tecnologia, que nos permitiria a libertação da sociedade de uma maior dependência do capitalismo. O que alinhava com os ideais de Agostinho da Silva - como descobri mais tarde. O desenvolvimento da Ciência era um dos motores mais importantes do ideal de dois homens muito afastados pela sua cultura. Tudo batia certo para mim - a conta ainda dá certo.

Agostinho da Silva defendia os 3 ésses : Primeiro “S” de Sustento; segundo “S” de Saber (onde se encaixa o tema desta semana) e o terceiro “S” é de Saúde. Considerava prioritário que toda a gente tivesse sustento básico que estava a ser garantido pela grande produção da Segunda Vaga - Toffler e Agostinho concordavam nisto. O próximo é o do Saber e que Toffler falava na Terceira Vaga como a maneira de desenvolver o Conhecimento.

No nosso artigo «INVESTIGADORES SÃO ESCRAVOS DAS UNIVERSIDADES?» damos ao conhecimento de todos os nossos leitores como funciona o processo errado como estão a ser tratados os investigadores científicos em Portugal. Há que pensar e estarmos unidos para exigir que melhorem a investigação científica em Portugal. Vamos exigir aos candidatos a primeiro-ministro de Portugal a carreira de investigadores universitários de maneira clara e justa.

Depois temos o artigo «SALVEM OS PROFESSORES!», outro grave problema, pois começa a faltar professores para substituírem os que se vão reformar. Para isso necessita-se, urgentemente, de um novo ideal para manter a carreira de professor atrativa.

Falamos do conhecimento mais distribuído. Assim como uma população mais distribuída pelo território de Portugal para que não haja problemas sociais e maiores conflitos nas duas grandes metrópoles nacionais no artigo «DEMOGRAFIA DESEQUILIBRADA EM PORTUGAL».

Depois levamos o leitor para uma outra reflexão importante: o que é isso de Portugal? Por isso levantamos algumas questões onde se considera «COIMBRA E A IMPORTÂNCIA PARA PORTUGAL». Declara-se que Coimbra foi muito culpada para formar a mentalidade portuguesa.

Continuando a reflexão em Coimbra, mas desta vez para um assunto mais imediato, consideramos o artigo «PENSAR MELHOR AS OBRAS EM COIMBRA» onde levantamos alguns erros que devem ser resolvidos para não andarmos continuamente a desperdiçar recursos municipais.

Continuamos em Coimbra para falar da Briosa e da derrota frente à LUSITÂNIA FC DE LOUROSA, pelo artigo escrito pelo polémico Fernando Batista. Obrigado Batista!

A investigadora científica Mara Braga traz-nos o artigo «DO BRASIL PARA PORTUGAL» para nos dar testemunho da passagem de gentes de um lado para o outro. Um artigo para refletir.

A nossa, sempre atenta, Manuela Jones traz-nos «A LENDA DA LAMPREIA DOURADA» para nos lembrar a sustentabilidade ecológica escondida nas lendas antigas.

O senhor Professor Paulo Oliveira traz-nos o anúncio «TAÇA DE PORTUGAL DE GINÁSTICA AERÓBICA ACONTECE ESTE FIM DE SEMANA EM COIMBRA». O Ponney convida todos a irem ver estes fabulosos espetáculos de ginástica realizados no Complexo polidesportivo Mário Mexia.

José Ligeiro traz-nos mais umas noções de sobrevivência na natureza. Um artigo que nos dá listas de atitudes e objetos para enfrentarmos a natureza (a humana e a natural).

Por fim, fica na área da Cultura o conselho para a leitura do livro “A Terceira Vaga” escrito por Alvin Toffler com que iniciámos este editorial.

Bom fim de semana e boas reflexões.

José Augusto Gomes
Diretor do jornal O Ponney