ENTARDECER
Não sei viver sem viver
Com o odor e com as cores dos mares
Onde navegam amores só meus
[Não vejas veres
Aonde não há roupas sujas
Para lavares
Vê antes bem-me-queres
Onde a excelência pretende
Afectos sempre cristalinos, claros]
Quando declinado [de tão encardo]
O círculo sem lado [Obtuso],
Que se haverá de fazer?
É opção de compasso,
Ou de tira-linhas,
Viver sem viver
Sem sorrir, sem ponta,
Entre linhas embargadas
Por ausência de tinta-da-china?
Agora sou eu que te profiro
Menina
Larga-me em paz, na minha paz,
No meu sorriso nas minhas sortes
De poder eu ser - e apenas eu
E mais meus amores, decidirmos
Satisfazer-nos de abraços deleitados,
Aconchegados em ninhos de sentimentos
Onde vivemos acalentados
Quase sempre, não sei viver sem viver.
Mas sei que planeio que a meiguice
Viva através da meninice
Que se partilha expectante
Sempre, mas sempre, a alegrar-se
Até que um amor eterno nos doa
Sem doer. Dentro de nós.
Porque pretendo não querer viver
Sem viver, mesmo que as aves
Nos céus voem libertas e em Paz
© Luís Gil Torga
Arte: Leonid Afremov