S.M.O.

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Eu era ainda muito garoto quando alguém que sabia a sério das coisas me explicou o que era o S.M.O. que vinha invulgarmente no final dos Pareceres jurídicos. “Sabes, filho, é uma questão de respeito pela opinião diferente. Eu penso assim agora; mas pode ser que alguém venha a pensar melhor, ou apenas diferente, e pode até acontecer que eu possa mudar de opinião: daí que se escreva S.M.O (Salvo Melhor Opinião). É uma questão de respeito pelas pessoas e pelas suas opiniões.”

Agora na minha humilde opinião, questão de respeito não tem relação com democracias ou ditaduras, é só uma questão de respeito puro pelo outro e pela opinião do outro, jurídica ou outra. É uma questão pessoal para quem tem respeito pelo próximo e um mínimo de educação.

Vem isto à baila a propósito de uma entrevista de Ferro Rodrigues onde este defende que “seria completamente estúpido fechar o parlamento no dia 25 de Abril”.

Não é que me interesse muito o caso nem a opinião de uma pessoa que, já há alguns anos atrás, queria sem pejo descarregar os seus desgraçados problemas intestinais sobre o segredo de justiça que vem na lei do país, em total desrespeito por esta, mas que mesmo assim foi posto à frente do órgão legislativo. Mas irrita-me que ele apelide de estúpido quem pense de forma diferente da dele. Irrita-me que ele se permita chamar de estúpidos os que pensem de forma diferente da dele.

Não me interessa nada o que ele pensa, não me interessa o que lhe vai no vazio daquela enorme cabeça colocada sobre aqueles ombros, não me interessa sequer que ele use e abuse do cargo que ocupa para abusar do poder que tem, como qualquer socialista e esquerdistas em geral, mas não lhe admito que chame de estúpidos os que pensem de forma diferente da dele.

Permito-me jogar nas mesmas regras com Ferro Rodrigues. Nós somos estúpidos? Oiça lá, ó seu imbecil! Quem é você para chamar de estúpidos quem tenha opinião diferente da sua? É por ser titular de um cargo político? E por isso se permite tal coisa? Por supor ter tal protecção nas leis do país? E chama-se a si próprio um democrata? Saberá V. Exa. exactamente o que é ser democrata? Respeitador de opiniões diferentes das suas? – Tenha vergonha na cara!

Não me interessa nada o que V. Exa. faz ou deixa fazer ou põe ou dispõe ou manda fazer ou permite fazer, como numa ditadura: V. Exa. interessa-me zero! Zero!

Mas não lhe admito que diga que quem tenha opinião diferente da sua possa ser estúpido.

Com todo o respeito, e S.M.O., V. Exa. não é nada, V. Exa. não é ninguém para poder dizer tal coisa! Meta a cabecinha nos ombros, se conseguir, e se conseguir ainda tente ser democrata e respeite também minimamente as pessoas que pensam de maneira diferente da sua.

Passe bem.

Vasco Gama Lobo Xavier