Retrato

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Pompeo Batoni foi um pintor italiano do século XVIII muito apreciado pelas suas qualidades de retratista. A ele se atribui este magnífico retrato do nosso rei D. João V, que nele figura com 32 anos de idade. O retrato encontra-se hoje no Palácio da Ajuda.

Apesar da idade, D. João V tem ainda, no retrato, a aparência de um adolescente. Algumas pessoas são assim, não envelhecem, ou só envelhecem tarde e com aquela rapidez da derrocada que antecipa a morte. Foi o caso deste nosso rei: o rosto oval, a boca carnuda, a tez rosada exprimem essa juvenilidade resistente, mas os olhos do monarca, se os fixarmos com cuidado, não são os de um rapaz. Manifestam, antes, a seriedade concentrada e a inteligência de um homem que os contemporâneos reconheceram sem excepção como um rei notável.

D. João V morreu em 1750. Foi poupado, assim, ao grande terramoto de 1755, que fez desaparecer muitos dos tesouros culturais que ele acumulara, sobretudo no Paço da Ribeira (no sítio do actual Terreiro do Paço). E foi também poupado ao espectáculo da ascensão política de Sebastião José, o Marquês de Pombal, um homem que ele desprezava e que só tomou o poder no reino sob o seu filho e sucessor, D. José.

O Marquês de Pombal não era um homem culto e escrupuloso. Esteve anos em Inglaterra como embaixador, para onde D. João V o despachara para o manter longe da vista, e não aprendeu em Londres – diz-se – uma palavra da língua dos nativos. Por qualquer razão que agora não interessa, Pombal lembra-me hoje o presidente americano, Donald Trump, que está de visita à velha Albion. E D. João V, quem me lembra? Se tivesse que encontrar uma correspondência, talvez a velha rainha Elizabeth, uma (falsa) múmia inteligente, culta e (suspeito que) quase imortal.

Finalmente: não sei se se prepara um terramoto em Inglaterra. Atendendo ao estado degradado das gentes e do tecido social daquele país, isso não me espantaria. Mas uma coisa eu sei: em caso de catástrofe, morta porventura no entretanto a velha Elizabeth, seria o Donald a sair com as ambulâncias e a reerguer os edifícios dos escombros.

E pronto, foi nisto que me fez pensar agora a trunfa rococó do grande farfateiro americano.

José Costa Pinto