O SEMINÁRIO DE RACHOL, NO TERRITÓRIO DE GOA

Pedro-Dias96.png

O Colégio de Rachol foi uma das mais importantes instituições que a companhia de Jesus teve, no Oriente e, por maioria de razão, no Território de Goa, ficando com comunicação fácil por via fluvial, com a antiga capital do Estado Português da Índia. Era conhecido também como Colégio de Salcete, por estar nesse território, a Sul da Ilha de Tiswadi ou de Goa. É hoje um seminário e tem a sua origem intimamente ligada ao de Margão.

A mudança definitiva dos jesuítas para este lugar deu-se por questões de segurança e, ajuizadamente, já que  Margão voltaria a ser alvo de ataques, sem conseguir oferecer resistência bastante.

A primeira pedra do excepcional edifício de raiz europeia, clássica, que chegou até aos nossos dias, foi lançada a 1 de Novembro de 1609, mudando-se canonicamente a instituição maranhense, para aqui, logo no ano seguinte. O padre Gabriel Saldanha adianta a data de 1 de Novembro de 1606. como sendo a do início da construção. e atribuiu o risco do edifício ao próprio reitor da instituição, o padre Gaspar Soares .

Apesar das muitas alterações que o conjunto de edifícios sofreu, desde a expulsão dos jesuítas, no tempo do Governo do Marquês de Pombal, em Lisboa, conservam-se em muito razoáveis condições e permitem perceber o que foi o Seminário, nos seus tempos áureos.

O conjunto dos edifícios está situado no alto dum morro, em posição dominante, dentro do recinto fortificado, e um pouco afastado da povoação, como se pode ver numa  fotografia aérea de 1940 que publicamos em anexo. A sua fachada é de desenho clássico, com cinco corpos marcados verticalmente por pilastras, sendo os extremos, os das torres sineiras, que conformam o andar mais alto, juntamente com um imponente frontão. O corpo central é o mais elaborado, com uma bem lançada sequência de aberturas, portal, janelão e óculo, todas de traça "serliana". Para além do grande portal axial, há mais duas entradas complementares, embora o interior seja de nave única. À direita da frontaria abre-se a portaria do Colégio. A parede lateral virada aos campos de arroz é a única livre, e foi tratada com cuidado, numa sequência elegante de panos divididos por pilastras toscanas, com grandes janelas rectangulares, tendo as baixas frontões triangulares.

O interior tem uma só nave coberta de madeira e uma capela única abobadada a formar a cabeceira. O arco cruzeiro e as paredes da capela-mor estão completamente forrados com talha dourada e policromada proto-barroca, por certo já do final de Seiscentos. Diga-se que o conjunto de talhas da igreja é notável, destacando-se o altar-mor barroco, com três andares, com colunas torsas triplicadas, para permitir a abertura de nichos em foram colocadas excelentes esculturas dos santos tradicionais da Companhia de Jesus. Igualmente de grande qualidade são os dois altares colaterais, dispostos de cada lado do arco cruzeiro, mais simplificados mas, como no mor, tem claramente a mão de artistas indianos, que tentaram interpretar um projecto de um tracista do Reino.

São muito elegantes os alçados laterais, bem vincados com pilastras toscanas sobrepostas, e com duas ordens de janelas; logo a seguir à entrada foi construído um coro-alto que comunica com o piso superior do pátio colegial. Este pátio é enorme mas não tem uma estrutura unitária, vendo-se perfeitamente que foi sendo construído, ao longo dos tempos, sem seguir um projecto único. A zona mais elaborada e de melhor desenho é a que fica junto da igreja, com belos arcos no piso superior. Todas as aberturas dão para longos corredores que conformam as restantes dependências, nomeadamente dos dormitórios, com onze celas por ala.

Pedro Dias