O predador das andorinhas

Ninho-roubado-as-andorinhas.JPG

Não é do pardal que falo pois esse sempre teve o hábito de abusivamente se meter nos ninhos daquelas ternurentas aves, mal elas chegavam na Primavera aos altos beirais, onde no ano anterior nidificaram, sendo seu objectivo primeiro proceder à sua reconstrução. Para isso, lá voa o casal um número infinito de vezes para apanhar a lama e o barro que depois há-de solidificar, antes de envolverem o seu interior com o macio capaz de receber os ovos e as crias.

E é nesta fase, com a cama já feita e sem trabalho, que o diabo do pardal lho ocupa. Disto já toda a gente ouviu falar, como ouviu igualmente falar dos cucos que sempre “ prantaram” os ovos nos ninhos das pegas, sendo estas quem choca e cria as aves bastardas que ali nasceram. Mas é de facto das andorinhas que volto a falar, desde logo porque agarrei a explicação que numa tarde destas o Zé da Neta estava a dar, para quem o queria ouvir, sentado no Cruzeiro.

Dizia ele, apontando para as andorinhas em voo rasteiro que íamos ter temporal. Temporal com este tempo? - questionámos. Sorrindo, aquele velho amigo explica que quando o astro está calmo e seguro, as andorinhas andam altas, pois é lá que andam os insectos de que se alimentam. Porém, quando a atmosfera fica pesada a bicharada desce e com ela as andorinhas, que têm de se alimentar. E vai mais longe: - Isto é bom, pois desta maneira elas agarram aqui as melgas e as moscas que ao contrário não nos deixariam estar sossegados.

 E a conversa estendeu-se ao míldio que estava a atacar os batatais e as vinhas pois a humidade era muita e as réstias de sol que às vezes rompiam eram moléstia. Ao longe, ouve-se então um forte trovão e gotas grossas de chuva começam a cair. Houve que regressar a casa, não sem antes olharmos para o Zé da Neta que sorria: - As andorinhas adivinharam ou alguém lhes disse? Da casa da tia Zulmira, que ficava ali a dois passos, vinha agora um cheiro a alecrim queimado. Era ela que já rezava a Santa Bárbara.

E volto de novo àquela estória dos predadores e concretamente a uma pequena ave que aqui tomou o nome de rabeta e que, sem dúvida, é hoje o maior predador das andorinhas, já que passou a ocupar os ninhos velhos e os novos nos pátios das casas antigas onde toda a vida existiram. Pois o diabo da rabeta, aquele pequeno pássaro, de facto elegante e que não para de esvoaçar e cantar, é neste momento o maior usurpador destes ninhos. Instala-se, cobre-os com erva e musgo e faz um pequeno buraco por onde só ele cabe. Porque são em grande quantidade e nidificam várias vezes, chegam a fazê-los dentro de bonés, de perneiras de calças ou de bolsos de casacos que tenham ficado pendurados no pátio. Como diz o nosso povo, quem não tem vergonha, todo o mundo é seu!

                                                                                                                                                                                                                                         António Castelo Branco