FOI VOCÊ QUE PEDIU UM PAÍS DE MÃO-DE-OBRA BARATA?

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Enquanto os apelos das 27 academias de ciências da UE aos decisores vai no sentido de verem a investigação científica como uma fonte de inovação que pode responder a muitos dos desafios económicos e sociais atuais. Portugal vai desinvestindo no desenvolvimento da ciência.

Na União Euopeia, referia Patrizio Bianchi, membro da Accademia Nazionale dei Lincei no ano passado: «Compreendo que os governos estejam pressionados pelas diferentes emergências, mas temos de ir além das emergências e dizer que precisamos de decidir juntos que temos de investir pelo menos 3% do PIB em investigação e educação. É esse o caminho para poder trabalhar em conjunto e construir uma Europa sólida, que é necessária para um mundo verdadeiramente incerto». lembramos que o conjunto da UE tem como meta investir pelo menos 3% do PIB nesta área, mas por agora o valor é de 2,27%.

Por outro lado e segundo dados da Eurostat feitas em 2023, a dotação orçamental do Governo português para a área do desenvolvimento da ciência foi, em média, de 76,60 euros por pessoa, inferior à verba destinada no ano anterior e quase 200 euros abaixo da média da UE.

Os 27 Estados-membros da União Europeia (UE) investiram, no seu conjunto, 123.684 milhões de euros para investigação e desenvolvimento (I&D) em 2023, o que equivale a 0,73% do Produto Interno Bruto (PIB) e representa um aumento de 5,3% face aos 117.424 milhões de euros alocados no ano anterior, revelam os dados divulgados pelo estudo da Eurostat.

A nível nacional, Portugal teve o sexto menor investimento orçamental em I&D do bloco comunitário no último ano, de 76,60 euros por pessoa, um decréscimo de 1,3% em relação ao valor alocado em 2022 (77,40 euros por pessoa) e bastante abaixo da média da UE (275,60 euros por pessoa).

Comparando com os números de 2012, quando o Governo português definiu, em média, 55,90 euros por pessoa para investigação e desenvolvimento, as dotações orçamentais de 2023 representam uma subida de 37%. No entanto, tendo em conta que a média dos 27 Estados-membros era, nessa altura, de 178,60 euros por pessoa, significa que a diferença entre o investimento em Portugal e o da UE foi aumentando muito ao longo dos últimos 11 anos.

Desde 2012, a dotação orçamental para I&D mais elevada tem sido registada no Luxemburgo, atingindo uma média de 646,60 euros por pessoa em 2023 — um valor que, no entanto, é inferior aos 662,80 euros por pessoa, definida em 2022. Seguem-se a Dinamarca (552,40 euros por pessoa) e a Alemanha (529,30 euros por pessoa) nos países com as verbas mais altas.

Já a Roménia destinou 21,20 euros por pessoa; a Bulgária destinou 33,10 euros por pessoa; e a Hungria foi de 48,10 euros por pessoa. Estando estes países na cauda da Europa na cauda do bloco comunitário no que toca ao investimento nesta área. Ao todo, 18 países investem menos em I&D do que a média europeia.

De acordo com o Eurostat, apenas a Hungria registou uma diminuição das suas dotações orçamentais para I&D (em termos de euros por pessoa) entre 2013 e 2023: de 66,9 euros para 48,1 euros (-28%).

Os maiores aumentos percentuais, por sua vez, observaram-se na Letónia (+291%, de 16,0 euros por pessoa em 2013 para 62,6 euros em 2023), na Polónia (+147%, de 37,8 euros para 93,3 euros) e na Bulgária (+133%, de 14,2 euros para 33,1 euros).

Por área de I&D, a maior parcela das dotações orçamentais na UE teve como destino o “avanço geral do conhecimento” (35,5%), financiado principalmente por uma dotação pública conhecida como fundos universitários gerais (GUF, na sigla em inglês), enquanto 17,3% foi dedicado ao avanço geral do conhecimento a partir de outras fontes que não o GUF, seguido de 11% para a produção industrial e tecnologia, 6,9% para a saúde e 6,0% para a exploração e aproveitamento do espaço, indica ainda o Eurostat.

Enquanto Portugal vai no sentido contrário à orientação da UE, Marileen Dogterom
Presidente, Academia Real Neerlandesa de Artes e Ciências dizia à Euronews:« Provavelmente precisamos da ciência mais do que nunca devido à complexidade dos desafios que enfrentamos. E, claro, a ciência tem sempre a ver com fornecer conhecimento, fornecer cenários.»

A UE também fica aquém nesta área quando comparada com outras potências - a Coreia do Sul (4,93%), os Estados Unidos (3,46%), o Japão (3,34%) e a China (2,41%) estão acima da média comunitária.

O aumento da concorrência entre os países e a existência de fortes desafios científicos e tecnológicos não deixam a UE numa boa posição, segundo a presidente da academia neerlandesa, Marileen Dogterom.

Os últimos governos ou vai desinvestindo, segundo dados da Eurostat, ou desinteressa-se ter uma política para o desenvolvimento da ciência, como se vê pelo aumento de investigadores precários e a falta de diálogo com as Instituições de Ensino Superior (IES), vai acabando por aumentar a precariedade de Portugal. Colocando a prioridade em ter cada vez mais mão-de-obra, cada vez mais barata e que nunca vai poder concorrer com a China.

JAG
09-05-2025