FAMÍLIA QUE CONTROLA PORTUGAL

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Aos 13 anos Marcelo Rebelo de Sousa, hoje Presidente da República escreveu:«Entendo, devido à base pagã desta festa, ser inadmissível a qualquer cristão a sua participação nela». O Carnaval é uma comemoração "alegre mas repugnante, avassaladora, mas bárbara". Trata-se de uma alegria que motiva "o caos espiritual do povo, a devastação do paganismo desolador, ou do ateísmo técnico e superficial".

Quem escreveu assim sobre o Entrudo, considerando-o um "centro de corrupção moral" não considerou que um dia ia ser Presidente da República e com poder para criar mecanismos para reduzir a corrupção e o abuso de poder em Portugal.

Esta redação é apenas uma das muitas que estão nos 48 cadernos do Liceu Pedro Nunes, onde foi o melhor aluno da sua época, guardados no Centro de Documentação da Biblioteca Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, em Celorico de Basto.

A realidade é que o poder sempre foi instrumento corrente na família de Rebelo de Sousa. Mandaram no Estado Novo e em democracia. Governaram nas colónias e em Lisboa e Marcelo Rebelo de Sousa iniciou-se como conselheiro de Estado de Cavaco Silva. Curiosamente, Marcelo Rebelo de Sousa defende, hoje, a compensação às ex-colónias.

Também o combate à corrupção e ao abuso de poder foi sempre colocado em terceiro ou quartos lugares de prioridades pela poderosa família e por Marcelo Rebelo de Sousa em particular.

A namorada de Marcelo pediu louvor para Ricardo Salgado quando caiu o BES. A senhora que vive na sombra do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa pediu que fosse dado o louvor a Ricardo Salgado que, alegadamente, liderou uma associação criminosa que, além de ter levado à falência de várias holdings do GES e à resolução do BES, também corrompeu cerca de 20 administradores e funcionários públicos venezuelanos para obter contratos de compra de produtos financeiros do BES e do GES em troca do pagamento de cerca de 116 milhões de dólares.

Rita Amaral Cabral tem ligações aos Espírito Santo e aos Mello e está com Marcelo Rebelo de Sousa desde 1981, mas não partilham casa. A namorada de Marcelo pertencia ao conselho de administração do BES quando o banco caiu

Herdeira rica, ligada a várias famílias bem colocadas, foi professora de Direito, mas também advogada de negócios. E é íntima de Ricardo Salgado e da mulher. Foi aliás através dela que Marcelo Rebelo de Sousa se aproximou do casal Salgado.

Se a namorada estava ligada a uma das histórias que mais envergonhou Portugal pela ligação de um banco com o poder do Estado, o filho do Presidente também tem uma história que usa o poder para abrir exceções que não estão previstas na lei portuguesa.

Nuno Rebelo de Sousa, diretor da EDP no Brasil, vive há década e meia em São Paulo. Desdobra-se em iniciativas. É presidente da Câmara de Comércio Portuguesa de São Paulo. Não há negócio que ele não conheça: influencia, facilita, abre portas, ajuda. Não se livra da fama de ter mexido os cordelinhos em favor de duas bebés luso-brasileiras que precisavam de tomar em Portugal o medicamento mais caro do mundo e que custou cerca de quatro milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde.

O que se não fosse o uso do poder as duas bebés não tomavam o medicamento. O que está errado é a exceção que é feita apenas a quem usa o poder, mas que o fecha a quem não o tem.

As meninas foram tratadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, sem filas de espera nem contrariedades. Nuno é um bom coração, um autêntico samaritano capaz de dar a camisa que tem no corpo, mas não influencia o suficiente para que todo o sistema de saúde possa ajudar quem não tem “padrinhos”. Essa injustiça já não é importante para quem tem poder como a família de Rebelo de Sousa.

O amigo Nuno Vasconcelos, o empresário que se instalou em São Paulo após o seu pequeno império – a Ongoing – ter soçobrado em dívidas de centenas de milhões de euros, é testemunha da bondade desinteressada do filho do Presidente Marcelo. “Não me admirava nada que tivesse sido ele a ajudar essa família. É um homem solidário e generoso, tal como o pai, que conheço muito bem desde criança. Ajuda toda a gente com necessidades”, disse ao jornal Tal e Qual.

Daniela Martins abalou de São Paulo com as duas filhas bebés, gémeas, luso-brasileiras, e apresentou-se sem consulta marcada, em finais de 2019, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. As meninas sofrem de atrofia muscular espinhal – uma doença neurodegenerativa, provocada por um gene defeituoso, que só pode ser tratada com um medicamento chamado Zolgensma. O remédio é conhecido como o mais caro do mundo e a única arma da medicina contra a atrofia muscular espinhal.

O serviço de neuropediatria de Santa Maria, coordenado por Levy Gomes, recusou a administração do tratamento. As meninas já tinham sido tratadas no Brasil com outros fármacos e, muito provavelmente, o Zolgensma perderia eficácia. O remédio caro não era uma opção clínica. Mas a mãe das meninas, Daniela Martins, viajou do Brasil com uma ‘cunha’ de peso – de tal maneira valorosa que a administração do hospital, então presidida por Daniel Ferro, e o diretor clínico, Luís Pinheiro, autorizaram o tratamento.

Mais ou menos por esta altura, Portugal comoveu-se com o caso de Matilde – uma bebé portuguesa, de três meses, que também sofria de atrofia muscular espinhal. O Serviço Nacional de Saúde hesitava em disponibilizar o medicamento. O país mobilizou-se e os pais de Matilde conseguiram angariar o dinheiro, quase dois milhões de euros, para pagarem o milagroso Zolgensma, pois faltava a “cunha”.

A história das meninas luso-brasileiras tratadas em Lisboa foi relatada no programa de informação ‘Exclusivo’, na TVI. A mãe das bebés, Daniela Martins, apanhada por uma câmara oculta, confessou que teve a sorte de ter conhecido a nora brasileira de Marcelo Rebelo de Sousa. São colegas de trabalho, na MDS, uma importante corretora portuguesa de seguros com escritórios no Porto, em Luanda, em Maputo e em São Paulo. A totalidade do capital da companhia, maioritariamente na posse da Sonae, da família Azevedo, foi vendido há dois anos, por 100 milhões de euros, ao grupo de corretagem britânico The Ardonagh.

Nuno Rebelo de Sousa era casado com Rita Sousa Coutinho. Um namoro desde os tempos da Universidade Católica, onde se formaram em Gestão. Marcelo era amigo da família Sousa Coutinho. A mãe de Rita foi uma das primeiras mulheres gestoras em Portugal: lançou no nosso país, ainda antes do 25 de Abril, a cadeia de supermercados Pão de Açúcar. A filha seguiu-lhe as pisadas na gestão. Rita e o marido, quadro da EDP, mudaram-se para São Paulo.

Rita, entretanto, fundou a Ocean, Participações, Investimentos e Consultoria – uma companhia dedicada ao desenvolvimento dos negócios de retalho com interesses na China, no Brasil, em Portugal e nos Emiratos Árabes Unidos. Nuno Rebelo de Sousa manteve-se em São Paulo, sempre ao serviço da EDP.

A mulher, de quem tem uma filha, Maria Eduarda, de seis anos, saiu da EDP e empregou-se na corretora MDS – onde Daniela Martins em boa hora a conheceu: não fosse isso e, muito provavelmente, as filhas não teriam direito ao tratamento em Lisboa. Nuno Rebelo de Sousa, amigo de ajudar o próximo, terá tratado de tudo. O pai não se lembra de alguma vez ter falado com o filho sobre o assunto – mas garante que não falou com ninguém. Limitou-se a reencaminhar uma carta para os gabinetes do primeiro-ministro e do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Mas Marcelo, que fala sobre tudo e mete-se em tanta coisa, por vezes, confunde-se e mete os pés pelas mãos.

Tal carta, segundo o chefe da sua Casa Civil, Fernando Frutuoso de Melo, não era propriamente uma carta – mas dois relatórios médicos enviados do Brasil que deram origem a uma carta que ele próprio redigiu e enviou para aqueles dois gabinetes oficiais. A cartinha, por voltas do destino, foi parar ao Ministério da Saúde. A secretária da ministra, Marta Temido, e o secretário de Estado Lacerda Sales interessaram-se pela sorte das bebés, tantos foram os telefonemas para o serviço de neuropediatria do Hospital de Santa Maria.

A realidade é que o poder é usado apenas por interesses pessoais e não para interesse da comunidade. Isso é considerado abuso de poder.

AF