DIÁRIO DE UM PORTUGAL ESQUECIDO
Enquanto o interior de Portugal continua a chorar as consequências dos incêndios, onde é consensual a falta de investimento para prevenir o que já se sabe que acontece todos os anos em Portugal, a capital vai ser dotada de infraestruturas no valor de mais de 15 mil milhões de euros.
Na Grande Lisboa vai ser executado o maior conjunto de grandes obras públicas anunciados pelo governo. O custo previsto para o novo aeroporto, com duas pistas, vai custar 6,1 mil milhões de euros; com o TGV entre Lisboa e Valença a custar, pelo menos, 7 mil milhões de euros; com a Terceira Travessia do Tejo a custar 2,2 mil milhões de euros. Fazendo as contas dará 15,3 mil milhões de euros.
Sem questionar as prioridades do investimento para Portugal ou para a Grande Lisboa, o executivo de Luís Montenegro sustenta que a maior parte destes custos vão ser pagos pelos fundos europeus ou pelos concessionários. Afastando a ideia que, a verba, não vai sair, totalmente, do PIB. Ou seja, o capital que vem dos fundos europeus não tem nada com o erário público português.
Por outro lado, também é importante sabermos que o ex-bombeiro voluntário de Castanheira de Pera, Rui Rosinha, disse quando foi convidado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, para discursar nas celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, comemorações centradas em Pedrogão Grande. Mas que foram esquecidas como provam os incêndios deste ano de 2024, que provocaram a destruição da floresta, bens pessoais e mortes, mais uma vez. Não podemos esquecer que arderam quase 150 mil hectares em 2024, o terceiro pior ano da última década - segundo as estimativas do EFFIS (Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais).
No entanto já Rui Rosinha, ex-bombeiro da corporação de Castanheira de Pera, tinha colocado o dedo na ferida e denunciou “as medidas no papel” que foram prometidas depois dos incêndios florestais e nunca foram concretizadas no território. «O caminho tem sido muito difícil, porque foi prometido muito e chegou muito pouco ao território». Lembrando que as regiões afetadas pelo incêndio, que fizeram sete anos no dia 17 de Junho de 2024, afetando Pedrogão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos continuam abandonadas e sem apoio às vítimas daquela região e que neste ano, de 2024, voltaram a ocorrer no Centro de Portugal e no Norte. Sendo importante lembrar as prioridades para um bom desenvolvimento de Portugal, como país, e não como apenas gerido como área metropolitana.
O Ponney lembra o que Rui Rosinha denunciou, no seu discurso, que «a tragédia expôs as vulnerabilidades da região pelos imensos problemas estruturantes» contando casos concretos que ainda continuam por resolver. Disse no seu discurso que deveria envergonhar os políticos que tiveram poder para tomar medidas, mas não o fizeram. Incluindo o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
«Se necessitar de ir com o meu filho ao médico à noite, não tenho resposta neste Concelho nem nos outros que nos rodeiam» continuando a enumerar as várias falhas estruturais: «O IC8 continua uma via perigosa com muitos acidentes mortais. As comunicações são muitos más havendo muitas “zonas sombra” (sem possibilidade de rede) e que foi um dos graves problemas na tragédia dos incêndios, mas que continua sem resolução deste grave problema».
Continuou «as nossas gentes são resilientes, mas têm que ser dadas condições para que todas as pessoas possam viver com dignidade em todo o território de Portugal».
A realidade é que o interior de Portugal vai continuar a ser votado ao abandono pelos políticos com poder, pois nas campanhas apenas contam a grande Lisboa e o grande Porto pela sua densidade populacional. O interior semi-abandonado, onde Coimbra está incluída se os conimbricenses continuarem a olhar para o lado, vai continuar a ser esquecido pelo governo de Lisboa, independentemente do partido mais votado.
No final do discurso deste ex-bombeiro, diga-se em abono da verdade, porque os políticos eleitos regressam a Lisboa e o interior despovoado e sem investimentos continua, e continuará, longe das medidas governamentais que dão prioridade às regiões que têm um maior peso a quem os elege.
Enquanto os decisores regressam a uma área metropolitana com o devido investimento, parte da população tem que decidir entre: aumentar o número de gente a viver em Lisboa ou no Porto; ou regressa para regiões interiores de Portugal sob a ameaça de incêndios se houver uns dias de sol.
JAG