DESPERDÍCIO ALIMENTAR A QUANTO OBRIGA?
O desperdício alimentar é uma questão que surpreende pelos seus efeitos mais do que parece e que tem mais consequências graves do imaginamos.
Comece por imaginar que se estraga uma laranja por semana em sua casa e vamos partir deste acontecimento, muito provável, em cada uma das nossas casas, para começarmos a ter uma pequena ideia sobre o desperdício alimentar.
Considerando os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre as estruturas familiares, e que tem por base as estatísticas dos Censos 2021, em Portugal existem 4.149.096 famílias - ora se multiplicarmos pelo peso médio de uma laranja cerca de 80 gramas dá 332 toneladas de lixo por semana. Por semana!
Podemos fazer outras contas para vermos quanto se desperdiça em dinheiro.
Neste momento o quilo da laranja ronda 1,98 euros em preço de hipermercado. Se multiplicarmos as 332 toneladas pelo preço de quilo dá a quantia de 657.360 euros por semana.
Se acrescentarmos outros produtos que se estragam, por semana, em cada família todos estes valores disparam para um problema de quantidade de lixo produzido e com grande peso na carteira familiar.
Na UE, considera-se que (com valores muito por baixo) se perde 89 milhões de toneladas de alimentos que se perdem e desperdiçam, gerando por ano o equivalente a 170 Milhões de toneladas de dióxido de carbono lançado para a atmosfera, bem mais do que o produzido por vacas confinadas. Um relatório europeu que analisa o desperdício de alimentos sob a perspetiva ambiental, refere que, se o desperdício alimentar fosse um país, seria o terceiro maior emissor de gases com efeito de estufa, depois dos Estados Unidos e da China (os maiores produtores de dióxido de carbono a nível mundial).
Nos diversos estudos feitos colocam 4 divisórias para se estabelecer onde há mais desperdício: na produção - durante ou imediatamente após colheita; na transformação - durante o processo industrial ou embalamento; na distribuição - durante a distribuição a mercados, cadeias de distribuição por grosso ou retalho; e no consumo - nos restaurantes, cantinas, nos hotéis e nas famílias. Pelos estudos é exatamente na área de consumo que se tem os números mais preocupantes para o desperdício alimentar.
Este é um problema que tende a aumentar, se considerarmos a exigência de menos tempo com as famílias e mais tempo no local de trabalho.
Uma das soluções para que se façam aproveitamento de resíduos agrícolas e ainda se protejam mais os produtos naturais, foi criado por Investigadoras da Universidade de Coimbra que criaram embalagens comestíveis a partir de resíduos agro-alimentares.
Esta equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), com a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), desenvolveu embalagens comestíveis a partir de resíduos do sector agro-alimentar e da pesca. As embalagens comestíveis, que constituem «uma alternativa sustentável ao plástico», são «filmes obtidos a partir de resíduos de diferentes alimentos, nomeadamente de cascas de batata e de marmelo, fruta fora das características padronizadas e cascas de crustáceos» - afirmam as investigadoras de Coimbra.
«Além de revestirem os alimentos, prolongando a sua vida útil na prateleira do supermercado», as embalagens também «podem ser ingeridas». Os novos invólucros criados por Marisa Gaspar e Mara Braga, do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), foram «pensadas essencialmente para revestir frutas, legumes e queijos, incorporando na sua matriz compostos bioactivos/nutracêuticos, tais como antioxidantes e probióticos, com potenciais efeitos benéficos para a saúde» referem as investigadoras.
Com esta embalagem, é possível, por exemplo, «cozinhar brócolos ou espargos sem ser necessário retirar a embalagem, uma vez que a película que os envolve é composta por nutrientes naturais com benefícios para a saúde».
A solução proposta pela equipa de Marisa Gaspar e de Mara Braga pode ser «muito vantajosa tanto para indústria como para o consumidor», sustentam as investigadoras que trazem uma parte substancial da solução para o problema do desperdício alimentar, dado que usam desperdícios para preservar mais tempo útil aos alimentos durante a Distribuição e o Consumo.
AG