ACERCA DO BLOCO DE ESQUERDA

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O empresariado português - de grande dimensão, de média dimensão e até algum do de pequena dimensão - considera o Bloco de Esquerda hostil à sua actividade. Entende que um poder político entregue ao Bloco de Esquerda não deixará de traduzir um caminho aberto para a perseguição da sua acção habitual.

O modelo que Portugal tem adoptado, desde o 25 de Abril de 1974, combina a vertente pública e privada, no que toca à actividade económica. Isto tem sido sucessivamente sufragado ao longo do tempo e não parece que o eleitorado acolha com simpatia a supremacia de uma vertente sobre a outra.

O Bloco de Esquerda é herdeiro do que de mais dogmático existiu no passado acerca deste modelo de equilíbrio. É um partido de ideólogos razoavelmente fanatizados no que toca à defesa do modelos de economia estatizada, ou seja nacionalizada ( embora, por táctica pontual, os seus principais teorizadores evitem o emprego do segundo vocábulo ).

Se fosse possível imaginarmos um Poder político entregue ao Bloco de Esquerda, haveria uma grossa fatia de protagonistas privados da economia que entrariam imediatamente em pânico. E com sobejas razões, dada a fórmula agressiva com que o Bloco de Esquerda encara o privatismo económico.

Concedamos que o Bloco de Esquerda , por manobra de cálculo, trate de salientar que as suas reivindicações estatizantes só abrangem certos e escolhidos sectores. É verdade ! É verdade, para já. Mas não temos dúvidas que a eventual - e felizmente mirífica conquista do Poder por parte do Bloco de Esquerda - daria origem a paroxismos incoercíuveis  de esquerdismo .

Não duvidamos que esta opinião irá ser interpretada por muitos bloquistas como direitista, ultra-conservadora e talvez mesmo fascizante. Há vocábulos e juizos aprioristas que lhes estão na massa do sangue, no vermelho do seu ADN , em que se misturam Mao, Trotski, o Maio de 68, as nossas crises académicas de 69 e as épicas cavalgadas dos enfrentamentos heróicos, de canhotas em punho, que provocaram a imortalidade do Senhor Pai das manas Mortágua.

Se disto não duvidamos, também temos como certo e fáctico que os tempos são outros, que estamos em regime de sufrágio universal, que existem instrumentos de negociação colectiva do trabalho, que são livres a imprensa e a opinião cidadã e , sobretudo, que não é fácil o equilíbrio de uma fórmula económica susceptível de combinar um ideal (utópico) de pleno emprego com  a área produtiva que , num país como o nosso, mais emprego pode e deve oferecer aos actuais e potenciais desempregados : a área de um empresariado não governamental, naturalmente sujeito ao cumprimento das obrigações fiscais a que está obrigado.

Amadeu Homem