PCP É FUNDAMENTAL PARA A DEMOCRACIA

CARLA MARQUES7

 

O Partido Comunista Português está a ser esquecido como um dos partidos mais importantes na luta contra o fascismo do Estado Novo de Salazar.
E isso, na minha opinião, é muito perigoso.

A luta de camaradas que colocaram as suas vidas e a vida dos seus familiares contra o fascismo salazarento, não pode, nem deve ser esquecido.

Independentemente de se concordar ou não com o marxismo-leninismo, como ideologia, a verdade da nossa luta não pode ser apagada.

Tal como não pode ser apagada a diferença entre ‘ideologia’ e ‘programa político’. Essa confusão interessa sobretudo aos partidos novos, sejam eles de Esquerda ou de Direita. Não havendo uma ideologia clara, bem fundamentada que junta pessoas em nome de um ideal, passa a haver um espaço vazio onde cabe apenas um “programa político mercantilista” de acordo com o que a maioria quer ouvir. Bem ao jeito das práticas capitalistas.

Essa demagogia de “maleabilidade política” vai desacreditando a luta verdadeiramente política que deve ser enquadrada na ideologia, no ideal, que deve ser criada de maneira clara com objetivos realistas.

O PCP, contrariamente à esmagadora maioria dos partidos portugueses, tem uma ideologia, o ideal, que desenvolveu para defender as classes exploradas pelo sistema onde o capital e o mercado se movem.

É importante lembrar a todos, concordem ou não, o que Karl Marx disse e escreveu. Na palestra de Marx em 1865, mais tarde publicado sob o título “Valor, Preço e Lucro”, dá um resumo conciso e lúcido da base do nosso ideal.

Transcrevo apenas uma parte para que possam refletir:
« Como os valores permutáveis dos artigos são apenas funções sociais dessas coisas e nada têm a ver com as qualidades naturais, temos primeiro que perguntar: qual é o elo social comum de todos os artigos?
É o trabalho.
Uma certa quantidade de trabalho tem que de ser exercida para produzir um artigo. E não me refiro simplesmente ao trabalho, mas ao trabalho social.
Uma pessoa que produz um artigo para uso pessoal imediato cria um ‘produto’, não um ‘artigo’ (...) Um artigo tem um “valor” porque é a “cristalização do trabalho social”(...) O preço, tomado por si só, não passa da expressão monetária do valor. O que o trabalhador vende não é diretamente o seu trabalho mas o seu poder laboral, o qual põe temporariamente à disposição do capitalista.»

Este pensamento explica a forma como hoje os trabalhadores continuam a ser explorados e enganados, com o argumento que os ordenados têm que ser em função do preço de mercado dos produtos ou serviços que produzem. A ratoeira para continuar a haver explorador e explorado continua. Hoje, refinado com argumentos elaborados pela Direita e pela “Esquerda caviar”. A primeira, a Direita, para defender os exploradores a segunda para se esquivarem da ideologia e ganharem poder para proteger os novos exploradores - um truque usado para quem não se assume integralmente a favor das classes desfavorecidas.

Uma ideologia, como ideal para mudar a perceção da realidade, tem que enfrentar paradoxos. Claro! Mas também não é um paradoxo a Terra mover-se à volta do Sol? Não é um paradoxo a água ser formada por dois gases altamente inflamáveis?

Termino a lembrar que estes novos partidos que saltam para ribalta usam os argumentos como outrora usaram todos aqueles que “provavam” que era o Sol que rodava em volta da Terra e que a água nunca poderia ser constituída por gases altamente inflamáveis.

O esquecimento da importância do PCP, na luta contra a ditadura fascista de Salazar, e a falta de ideais políticos que nos levam ao abismo da ditadura são os caminhos tortos que aniquilam todos quantos lutam pela justiça.

Espero, sinceramente, que não seja necessário entramos realmente numa ditadura para nos apercebermos dos erros que deixámos cometer quando ainda tínhamos tempo de mudar o paradigma político.

Termino a agradecer a José Augusto Gomes por provar o seu verdadeiro espírito democrático ao dar espaço a todos, mesmo aos que pensam num ponto diametralmente oposto à sua posição política.

Com esta atitude de O Ponney se faz a real democracia, sem as manobras fascistas.

Avante O Ponney!

 

Carla Marques
Professora