"O cão e o livro"...
Devia estar a ler. O livro que se deitou comigo está a dormir. Eu sei que não se importa se lhe tocar e abrir, até iria sorrir. Acorda e adormeceu num instante, tal e qual o meu cão. Nunca vi nada assim. Dorme profundamente e cheio de confiança. Desperta a qualquer momento caso assim entenda. O que aprecio mais não é o seu acordar, mas sim o abrir dos olhos sem se mexer. Abre dois focos luminosos e segue-me sem sair do seu lugar. Tudo bem, julgo que é o seu pensar. O livro não tem olhos, mas tem uma alma que me segue sem olhar. Sabe o que penso e por isso quer ensinar-me. Hoje não me apetece ler, mas sim aprender. É possível? Claro que é. Basta vê-lo, tocar-lhe e recordar as páginas lidas. Trata-se da forma mais curiosa de ler. Ler sem abrir o livro, apenas recordar o que já foi lido. Não foi muito. Tanto importa se foi pouco ou não. O que interessa é que me faça companhia e o tenha à mão. Ler um livro fechado é uma verdadeira fonte de inspiração, é como acompanhar o ritmo e suspiros do coração.
Salvador Massano Cardoso
Imagem retirada da net