NOITE DE INTRIGA NA UNIVERSIDADE: O ROUBO DO BADALO DA CABRA

JO JONES65

 

Capítulo primeiro

Dizem que amor de estudante,
Ai, não dura mais que uma hora.
Só o meu é tão velhinho,
Inda se não for embora.

A cabra da velha Torre,
Ai, meu amor chama por mim.
A cabra da velha Torre,
Meu amor, chama por mim.
Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.

Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobrais, quem morreu?

Coimbra pra ser Coimbra,
Três coisas há-de contar:
Guitarras, tricanas lindas,
Capas negras a adejar.

Zeca Afonso

As palavras de Zeca Afonso, embora ainda não conhecidas nesta época, capturam a essência do espírito estudantil que pairava sobre a Universidade de Coimbra. À sombra da Torre, quatro estudantes preparavam-se para um ato audacioso. Roubar o badalo da famosa Cabra, um símbolo que, apesar de sua história centenária, continuava a definir a vida académica.

A Cabra e o Cabrão, Balão e os quartos, sinos emblemáticos da Torre da Universidade, fazem parte de uma tradição que remonta ao século XVI. O relógio da Torre foi encomendado em 1545 pelo Reitor Frei Diogo de Murça, com a função de regular a vida académica. Os sinos não eram apenas instrumentos que marcavam o tempo, eram também os guardiões das tradições da cidade e da academia.

A Cabra, a sineta menor, foi fundida em 1741 e refundida em 1900. Ela é conhecida por tocar em intervalos regulares, anunciando o início das aulas, o recolher e outras cerimónias especiais. Já o Cabrão, maior e mais grave, datado de 1824, é o responsável por tocar em momentos cerimoniais, acompanhando os estudantes nas suas vitórias e derrotas. Além deles, o "Balão" é o maior sino e tem um papel importante na vida académica, tocando as horas e marcando momentos significativos como a imposição de insígnias. O “Quartos”, por sua vez, é o sino que marca os quartos de hora, sendo uma parte crucial da rotina dos estudantes.

Esses sinos tornaram-se não apenas instrumentos de medição do tempo, mas símbolos da identidade estudantil. Com o passar dos anos, a Cabra ganhou uma reputação nos corredores da Universidade, sendo muitas vezes alvo de piadas e histórias de estudantes que, com um misto de amor e ódio, se viam manipulados pelo seu som.

Mas eis que, três estudantes em direito que no século XIX tiveram uma " brilhante" ideia, roubar o badalo da Cabra.
Não era apenas uma brincadeira de juventude, era uma forma de desafiar a tradição e conquistar mais tempo livre. Alfredo, Domingos e Luís, cansados da rotina exaustiva dos estudos, decidiram que a noite seria a oportunidade perfeita. O grupo já era conhecido por suas façanhas, e Domingos, em particular, já tinha um grande histórico. Já haviam roubado as setas em prata da estátua do São Sebastião, que se encontra nos Arcos do Jardim, deixando um cartaz dizendo:
«- Basta de tanto sofrer!»

Portanto, achavam que um novo "golpe" seria fácil.

- Às seis em ponto, quando a Cabra tocar, é nossa oportunidade . O guarda-mor estará distraído com o som dos sinos - Disse Alfredo, determinado.

- Se conseguirmos, seremos os heróis desta Universidade!

Com passos silenciosos, os estudantes dirigiram-se à Porta de Minerva, que se fechava rapidamente ao cair da noite. A escuridão envolvia a cidade e, com ela, a esperança do sucesso iminente.

Alfredo, munido de uma chave falsa,conseguida no ferro velho, conseguiu abrir a porta da Torre. Depressa subiram a escadaria em caracol, degrau a degrau pela calada da noite.

A adrenalina aumentava a cada passo. O som do badalo, que entoava na memória de todos, e parecia vibrar no ar.
-Estamos quase a chegar - lhe. Sussurrou Capom, enquanto o grupo se aproximava do cimo da torre como um macaco.
Uma vez no topo, a visão de Coimbra iluminada pela lua parecia prometer novas aventuras, mas a prioridade era bem clara: o badalo da Cabra.

Na próxima semana daremos continuidade a esta aventura dos três estudantes destemidos.
Boas leituras e não se esqueçam que na próxima semana as façanhas continuam numa segunda parte.

Bom fim de semana
Boas leituras.

Manuela Jones