MOBILIDADE SUSTENTÁVEL EM COIMBRA: A URGÊNCIA DE CORREDORES BUS E FISCALIZAÇÃO PARA TRANSPORTES PÚBLICOS EFICAZES

SANCHO34

 

A cidade de Coimbra, historicamente conhecida pela sua importância cultural, académica e turística, encontra-se numa fase de transformação urbana devido à implementação do novo projeto de Metro-Bus. Este meio de transporte, anunciado como uma solução moderna e eficiente para o sistema de transportes públicos da cidade, veio acompanhado de inúmeras obras e alterações nas infraestruturas viárias, provocando, entre outras mudanças, a redução significativa dos corredores BUS previamente existentes. Esta diminuição tem suscitado diversas preocupações entre os habitantes, dado que impacta diretamente a qualidade dos transportes públicos de Coimbra, prejudicando o quotidiano de uma parte significativa da população, sobretudo os que não são abrangidos pela nova rede do Metro-Bus.

Atualmente, estima-se que cerca de 85% da cidade de Coimbra não esteja bem servida pelo Metro-Bus. Este facto tem gerado frustrações e inquietações entre os residentes dessas áreas, que sentem que a modernização dos transportes públicos não está a atender as suas necessidades. Afinal, todos os habitantes de uma cidade, independentemente da sua localização dentro do perímetro urbano, têm o direito a um transporte público que seja eficiente, pontual e acessível. Contudo, a realidade que enfrentam é outra: a redução de corredores BUS e a falta de alternativas eficazes têm agravado os atrasos nos transportes públicos, tornando o acesso ao centro da cidade e a outros pontos essenciais mais demorado e incerto.

Antes do início das obras para a instalação do Metro-Bus, Coimbra possuía um conjunto de corredores BUS que, embora não fosse perfeito, assegurava uma circulação mais rápida e eficaz dos autocarros, especialmente nas horas de ponta, em que o trânsito se torna mais denso. No entanto, com as recentes alterações viárias, muitos desses corredores foram removidos ou significativamente alterados, o que resultou num aumento dos tempos de espera e no incumprimento dos horários previstos para muitos passageiros.

É importante frisar que uma cidade moderna, que pretende ser competitiva e sustentável, deve apostar em transportes públicos de qualidade. Uma rede de transportes eficiente deve, antes de mais, garantir que os horários são cumpridos de forma rigorosa. Atrasos sistemáticos nos transportes públicos não só prejudicam os passageiros em termos de gestão do seu tempo, como também têm um impacto negativo na perceção geral de sustentabilidade da cidade. Além disso, a imprevisibilidade dos horários afeta negativamente a
confiança dos cidadãos no sistema de transportes, o que, por sua vez, pode levar ao aumento da utilização de viaturas particulares, intensificando os problemas de trânsito e poluição que a cidade já enfrenta.

A modernização dos transportes públicos não se obtém, como alguns poderiam pensar, simplesmente aumentando o número de autocarros ou contratando mais motoristas. Embora a quantidade de veículos e profissionais ao serviço seja um fator importante, não é o único elemento a considerar. Um sistema de
transportes público eficaz depende, acima de tudo, da forma como está estruturado e organizado. Se não existirem condições adequadas para a circulação dos veículos — como é o caso dos corredores BUS —, um aumento do número de autocarros pode apenas resultar em mais veículos presos no trânsito, sem qualquer melhoria substancial no serviço prestado à população.

Um sistema de transportes eficaz deve ser pensado de forma inclusiva, garantindo que serve todos os cidadãos, independentemente da sua localização na cidade. Quando uma parte significativa da população, neste caso 25%, não é bem servida pelo Metro-bus, é fundamental que sejam tomadas medidas para garantir que essas pessoas não são deixadas para trás. Neste sentido, a reposição e até o aumento dos corredores BUS em Coimbra não deve ser visto como uma solução temporária, mas sim como uma medida estrutural necessária para assegurar que o sistema de transportes público funcione de forma equilibrada e equitativa.

Coimbra, enquanto cidade histórica e universitária, tem uma responsabilidade acrescida em promover soluções sustentáveis e inovadoras, que contribuam para um futuro mais verde e inclusivo. Outro ponto a sublinhar é a necessidade de Coimbra manter uma visão holística da mobilidade urbana. O Metro-Bus, embora seja um avanço em termos de infraestruturas de transporte, não pode ser a única solução
apresentada pela cidade.

É imperativo que os responsáveis políticos e urbanistas de Coimbra compreendam que a reposição e o aumento dos corredores BUS não é uma mera questão de conveniência, mas sim de justiça social. A falta de acesso a um sistema de transportes eficiente afeta de forma desproporcional os grupos mais vulneráveis da sociedade, incluindo idosos, estudantes, pessoas com mobilidade reduzida e famílias de baixos rendimentos. Muitos destes grupos dependem exclusivamente dos transportes públicos para se deslocarem para o trabalho, escola ou para acederem a serviços essenciais, como cuidados de saúde. Sem um sistema de autocarros eficaz, estas populações enfrentam barreiras adicionais no seu dia a dia, contribuindo para o aumento das desigualdades sociais dentro da cidade.

Além disso, é também importante que Coimbra invista em campanhas de sensibilização e educação para promover o uso do transporte público, destacando as suas vantagens em termos de sustentabilidade ambiental, poupança económica e qualidade de vida.

Em conclusão: a reposição e o aumento dos corredores BUS em Coimbra são medidas essenciais para garantir um sistema de transportes públicos eficiente, inclusivo e sustentável. Diariamente, em várias zonas de Coimbra, assiste-se a carros mal estacionados, muitas vezes em locais não permitidos, como passeios ou faixas de rodagem, o que dificulta a circulação dos transportes públicos e contribui para o aumento dos atrasos. Este tipo de estacionamento irregular não só atrapalha o trânsito, mas também cria situações de insegurança para peões e ciclistas. Para que os transportes públicos sejam uma alternativa viável e
atrativa ao carro próprio, é necessário garantir que as vias estão desimpedidas e que os autocarros podem circular sem interrupções causadas por veículos mal estacionados.

Além disso, é crucial que a fiscalização seja consistente e rigorosa, com a aplicação de multas e penalizações apropriadas para quem desrespeita as regras de estacionamento. Apenas desta forma os cidadãos começarão a perceber que o transporte público é uma opção mais rápida e eficiente, ajudando, assim, a reduzir o congestionamento automóvel e a promover um ambiente mais sustentável e saudável na cidade.

Sancho Antunes
Motorista