DOIDICES À PARTE

MARIA JULIA HUMOR5

 

A pergunta parece óbvia e necessária, pelo menos para mim que voto nesta pergunta que se deve fazer, indagando se enlouquecemos todos.

Juro-vos que me veio logo à mente, antes ainda da propagação generalizada do politicamente correto e da difusão da ignorância que é objeto do escrutínio desta vossa cronista a importância dessa questão. Poderia ser outra, mas hoje ainda faz mais sentido: «Enlouquecemos todos?»

Por entre esta cogitação, ocorreu uma pequena revelação, contraintuitiva, enquanto escarafunchava para ver se vos trazia uma resposta pronta daquelas que se colocam no micro-ondas e já está. Afinal enlouquecemos todos ou não? E cai-me a resposta: estou aqui para dizer “não”! Não enlouquecemos todos!

Sem que se ilumine de imediato uma boa explicação para a minha resposta ela surgiu, como escrevi: contraintuitiva! Não enlouquecemos todos! E sem que me paguem para vos dar a resposta, como fazem os psiquiatras, os psicólogos e até os padres, pastores e afins, tenho pelo menos o consolo de estar de acordo comigo mesma e de conciliar as divisões internas, feitas de vozes que teimam em ditar-me o ponto da consciência que me obriga a dar-vos os argumentos filosóficos para vos afirmar categoricamente: “Não enlouquecemos todos!”

Não me venham com declarações de trampas, nem guerras injustas, nem misseis nem exploração das pessoas por alguns pequenos homens (nós, as mulheres estamos fora disto), nem obrigações do politicamente correto em forma de ditaduras adocicadas.

Não! Para mim é claro: “Não enlouquecemos todos!”

O único argumento que me ocorre é que antigamente não se usava capacete para andar de bicicleta. Parece que até já estou a ouvir um enorme coro de vozes dos meus leitores: «- Mas, oh Maria Júlia, que raio tem isso a ver com a loucura das pessoas?»

Acalmem-se gente sem fé! Deixem-me explicar sem grandes delongas. Não andais à procura de textos curtos? Pois explico-vos sem grandes artifícios de escrita e de lógica de 5 cêntimos. É que antigamente não se usava capacete para andar de bicicleta. Esta era a minha geração que quando caia, o trambolhão era grande da bicicleta, ficávamos todos inconscientes no chão até nos chamarem para jantar.

Nessa altura levantávamos do chão, púnhamos cuspo (era assim que chamávamos à saliva) nos arranhões que nos ardiam à bruta, sacudíamos a roupa e lá íamos jantar como se nada fosse. Claro que escondíamos o trambolhão às mães e o tempo em que perdíamos os sentidos.

Isso prova que a humanidade nunca vai enlouquecer, porque ser-se humano já é participar nesta grande loucura de acharmos que somos eternos enquanto estamos vivos.

Ou se quiserem fica a moral desta minha crónica de hoje: ANTIGAMENTE NÃO BRINCAVAMOS EM SERVIÇO!

Maria Júlia