A LOUCURA DA AURORA

MCM4.jpg

Há um ano, na noite de 31 de Dezembro, a Terra deu mais uma volta em torno do sol. Na verdade, todos os dias a terra dá mais uma volta em torno do sol, mas é na passagem de Dezembro para Janeiro que a comemoramos. Estávamos em plena pandemia e nada fazia sentido, quando lembrados os tempos de normalidade. O medo, a cautela, a prevenção, a contenção, a tragédia social, não só médica. Veio a noite de Fim de Ano. É sempre noite que aprecio porque gosto de me despedir do passado e abraçar o futuro. Porém, nessa noite, havia algo de sinistro à minha volta. Não era alegria, aquilo que a cidade manifestava. No bater das 12, ouvi gritos, como é costume, só que estes soavam a urros de loucura desesperada,, palavras de vernáculo e maldições atiradas das varandas para o Céu e os foguetes que explodiam. Encolhi-me na cama, debaixo dos cobertores, como se uma praga terrível me passasse à porta. 2021 foi um ano perturbante, estranho, maldito e, por isso, também maravilhoso.

E a Terra deu outra volta, uma das 365 voltas que completa por ano, e veio a noite de 31 de Dezembro, nascia 2022. Em casa, esperei pela meia-noite, ouvi os foguetes, os gritos começaram. Fui à janela e... e como é possível que a voz colectiva se altere sob mudanças imperceptíveis à consciência humana. Ainda estávamos em tempo de Pandemia, e anunciavam-se maiores restrições para breve. No entanto, nas varandas, gente juntava-se e gritava, acenando. Acenando ao mundo, com o mesmo grito colectivo, uno, sólido: FELIZ 2022!! FELIZ 2022!!

O Novo Ano era acolhido com uma bênção e senti uma paz feliz dentro de mim, uma espécie de certeza que, no dia seguinte, questionei, racionalmente. Quantas vezes temos essa esperança no início de um novo ano que se revela dramático? Ainda assim, esta certeza era diferente, era mais do que certeza, era como se a minha condição de humana se fundisse com essa noção. 2022 era abençoado à chegada e trazia com ele a liberdade e a felicidade. Passaram-se 14 dias e o Ano trouxe já muitas vivências e em todas senti essa espécie de sortilégio. Não foram pequenas vivências, mas grandes, daquelas que alteram o curso do estar e do ser.

Foi o grito às estrelas, ou grito das estrelas aos humanos, para que acreditassem em 2022.


MCM 

Imagem retirada da net