PÂNICO OU INTELIGÊNCIA NAS QUESTÕES AMBIENTAIS?
Não é tão simples, como aparenta, a resposta a esta pergunta.
Os alarmes que soam sobre as catástrofes ambientais e as suas consequências rodeiam-nos a cada instante e o efeito de dramatização tem a missão de chamar a atenção e o resultado é que cada mais pessoas fazem reciclagem do seu lixo.
Sete em cada dez famílias separam o vidro, o plástico e o papel em casa e depositam-no para reciclagem, constata o estudo «Hábitos e atitudes face à separação de resíduos domésticos 2015», apresentado pela SPV, demonstram o efeito benéfico da tomada de consciência por um certo pânico provocado.
No entanto a taxa sobre os sacos de plástico descartáveis não fez diminuir o uso destes recipientes como transportadores do lixo para os ecopontos. Quase metade das pessoas que separam as embalagens usadas utilizam-nos e apenas um quarto optam por sacos reutilizáveis. Esta é uma batalha ainda a ganhar, mas outra já caminha com melhor desempenho, já que «nunca como agora, as famílias portuguesas separaram tanto as embalagens usadas», informa a Sociedade Ponto Verde (SPV), em comunicado.
Não são as taxas e outros custos que convencem mais pessoas a colaborar com a solução ambiental.
Se na chamada de atenção teve um efeito correto divulgar mensagens com um certo pânico, já em prender o interesse para que cada pessoa colabore na solução do problema ambiental terá que passar por mais informação correta, o que se pode chamar de ‘comunicação inteligente’ em vez do pânico. Que já começa a ser entendido como informação sem sentido para a maior parte das pessoas.
Falar de “aquecimento global” e de “desertificação” durante o Verão, quando depois no Outono, no Inverno e na Primavera se anunciam enchentes e temperaturas demasiado baixas - onde se consome mais energia acaba por se tornar absurdo e ter um efeito contrário à maior sensibilização desejada. Não se usando o termo mais exato ‘alterações climáticas’.
O caso em que a Reitoria da Universidade de Coimbra proibiu o consumo da carne de vaca nas cantinas universitárias, em vez de criar debates sobre o consumo de carne ou sobre o desperdício alimentar é bem ilustrativo do oposto da ‘comunicação inteligente’, onde a discussão alargada com prós e contras é muito mais eficaz do que a ‘proibição’ ou as sanções criadas com taxas ou mais impostos.
O interesse e o desejo de agir em colaboração de um maior equilíbrio ecológico deve passar sempre por apresentar os factos como são. Sem que, agora, se continue a manter um discurso punitivo ou demonstrando incapacidade de entendimento da maior parte das pessoas.
É um erro manter-se o que está a provocar um efeito contrário ao desejado.
Outro erro é o de partidarizar as políticas ambientais - considerando a defesa do ambiente como sendo de Esquerda e as políticas de violação ambiental serem de Direita. O efeito desta divisão, não só é absolutamente incorreta, dado que a Direita iniciou os movimentos ecológicos e a Esquerda é a que mais intervenção faz pelo ambiente - é uma questão humana e transversal a divisões partidárias, como é completamente nefasta para com a intenção de reduzirmos o que prejudica o nosso planeta.
Também é um erro considerar que a Humanidade mundial deve voltar a um passado sem os avanços técnicos ou tecnológicos. Se a evolução tecnológica foi parte do problema é com esse avanço que se resolve o problema criado. Bem como o estudo das catástrofes ambientais criadas pelo ser humano e saber aprender com os erros para que não se repitam.
Apontamos os 10 dos maiores desastres ambientais do mundo, para que possamos entender que a questão na defesa do ambiente deve ser mesmo uma prioridade de cada um de nós e transversal às questões mundiais. Não contemplamos as guerras por nos parecer demasiado evidentes as consequências no ambiente mundial. É o caso da guerra que estamos a viver na Ucrânia e que deveria ter retaliações pelo país beligerante.
Númeramos estes 10 maiores desastres ambientais que provocaram as maiores feridas no desequilíbrio ambiental:
1. Radiação em Chernobyl, Ucrânia - enquanto país ocupado pela Rússia dentro da URSS (1986) aconteceu o pior desastre nuclear de toda história no dia 26 de Abril de 1986. Um dos quatro reatores da central nuclear explodiu e enviou uma radiação 100 vezes maior que as bombas de Hiroxima e Nagasaki para atmosfera da região, e que se espalhou pela Rússia e parte da Europa. O número de pessoas que perderam a vida e contraíram doenças passou dos 50 mil por causa da radiação. Hoje, a área permanece desativada e o reator está selado; porém, estudos afirmam que a sua deterioração gradual ainda significa novos riscos no futuro.
2. Vazamento de agro-tóxicos em Bhopal, Índia (1984) - Entre os dias 2 e 3 de Dezembro de 1984, um acidente em uma fábrica de pesticidas em Bhopal, na Índia, foi responsável por lançar cerca de 40 toneladas de gases letais de Isometilcianato na atmosfera. Aproximadamente 15 mil pessoas morreram entre as que foram afetadas a hora e nos meses seguintes com as que foram contaminadas e tiveram complicações. No total, 500 mil pessoas foram afetadas de alguma forma pelo desastre ambiental e a população sofre até os dias de hoje. A investigação identificou que vários controles existentes não atuaram ou estavam inoperantes, os quais poderiam ter evitado ou mitigado o desastre.
3. Derramamento de petróleo do navio Exxon Valdez (1989) no Alasca.
O navio petroleiro Exxon Valdez encalhou na costa do Alasca no dia 24 de Março de 1989. Como consequência, estima-se que cerca de 257 mil barris de petróleo foram lançados ao mar, causando a morte de centenas de milhares de animais nos meses seguintes. Por volta de 11 mil pessoas e mil embarcações se mobilizaram a fim de tentar conter e reverter o impacto ambiental.
4. Explosão da plataforma Deepwater Horizon, Golfo do México (2010)
Uma explosão no dia 20 de Abril de 2010 afundou a plataforma de petróleo Deepwater Horizon – sendo definitivamente o maior derramamento de petróleo já acontecido nos Estados Unidos, um desastre ambiental sem precedentes. O petróleo passou a vazar da tubagem estragada e formou uma enorme mancha negra no litoral americano. Além do impacto ambiental com a dizimação da fauna marinha, o acidente também teve consequências económicas e políticas, principalmente nas atividades de turismo e pesca da região. Sem contar que prejudicou a imagem política do presidente Barack Obama.
5. Explosão dos poços de petróleo, Kuwait (1991)
Depois de ser derrotado no Kuwait e obrigado a retirar do país, o ditador iraquiano Saddam Hussein ordenou a destruição dos poços de petróleo existentes no local – um desastre ambiental de graves consequências e com laivos de maldade. Com isso, cerca de 600 poços foram incendiados e queimaram por mais ou menos sete meses, lançando uma enorme nuvem venenosa na atmosfera, cheia de fuligem e cinzas – criando assim a “Chuva Negra”. Milhares de animais morreram intoxicados e o fumo matou pelo menos mil pessoas produzindo problemas respiratórios graves.
6. Desertificação do mar de Aral
O mar de Aral já foi o 4º maior lago de água salgada em todo o mundo, contudo, hoje é praticamente um “cemitério de navios”. Localizado na Ásia Central, o lago foi reduzido em 90% ao longo de nove décadas, causando a desertificação e um rastro interminável de impactos ambientais.
7. Acidente na usina nuclear de Tokaimura (1999) no Japão.
No dia 30 de Setembro de 1999, uma fábrica de processamento de Urânio no nordeste de Tóquio sofreu um acidente com operários que manejavam uma solução líquida – expondo centenas de pessoas a diferentes níveis de radiação. Os operários mais próximos ao local do acidente tiveram náuseas e seus rostos, mãos e corpos queimados poucos minutos depois.
8. Derramamento tóxico de alumínio em Ajka, Hungria (2010)
Uma fábrica de alumínio em Ajka, Hungria, acabou com um de seus diques de contenção arrebentados e derramou aproximadamente um milhão de metros cúbicos de resíduos tóxicos nas ruas mais próximas. O desastre ambiental, que aconteceu no dia 4 de Outubro de 2010, resultou em um “barro vermelho” que chegou a 2 metros de altura, matando quatro pessoas e deixando 123 feridos. Considerado o acidente mais grave da história da Hungria, estima-se também que pelo menos 400 moradores da região tiveram de ser removidos devido ao risco de queimaduras e irritação nos olhos que o chumbo e outros elementos corrosivos poderiam causar.
9. Envenenamento das águas com mercúrio em Minamata, Japão (1954)
Minamata é uma pequena ilha localizada no sudoeste do Japão, onde em 1954 alguns moradores passaram a observar comportamentos estranhos nos animais – especialmente em gatos, que estavam tendo convulsões e saltavam no mar. Em 1956, a doença manifestou-se no primeiro humano e ficou conhecida como “Doença de Minamata”. Os sintomas eram convulsões, perda e descontrole das funções motoras. Apenas dois anos depois estudos concluíram que a doença tinha relação com o envenenamento das águas com mercúrio e outros metais pesados, que infetaram peixes e mariscos, a fonte de alimentação da população de Minamata.
10. Falha do reator da central nuclear Three Mile Island, EUA (1979)
Em 9 de Abril de 1979, uma falha mecânica aliada a um erro humano num reator da central nuclear Three Mile Island resultou no lançamento de gases e efluentes radioativos na atmosfera. O desastre ambiental ficou conhecido como Pesadelo Nuclear da Pensilvânia, sendo que a população não foi sequer avisada sobre o acidente imediatamente e a evacuação ocorreu somente dois dias depois. Felizmente, não houve mortes relacionadas ao desastre.
Muitos destes desastres ambientais poderiam ter sido evitados se os trabalhadores tivessem tido um bom treino de Segurança a Saúde do trabalho. Por isso existe a preocupação e necessidade de encarar a Segurança do Trabalho de forma mais séria e mais responsável. Bem como uma vigilância maior por parte dos Estados de cada um dos países no mundo.
Estes acidentes são os verdadeiros causadores de um desequilíbrio ambiental. Por isso vale mesmo a pena cada um de nós ajudar à solução do ambiente e sermos mais conscienciosos em relação à nossa região, país e mundo.
Separar o lixo é muito importante, mas mais importante é a nossa consciencialização de um problema que é, afinal, de todos nós.
AF