INCENTIVO À VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

5 INCENTIVOS A VIOLENCIA1

 

A plataforma de videojogos Steam viu-se forçada a remover o jogo informático “No Mercy” (em português: “sem piedade”), criado pela empresa informática Zerat Games, neste ano de 2025. A instituição Centro Nacional de Exploração Sexual dos Estados Unidos (NCOSE) pediu a retirada, em todo o mundo, deste videojogo. Em causa estava o encorajamento para a prática de «violência sexual gráfica, o incesto, a chantagem e a dominação masculina, incentivando explicitamente os jogadores a envolverem-se em atos não consensuais e comportamentos misóginos e é descrito como tal».

O videojogo, para adultos, foi adicionado à Steam, em Março de 2025, e incluía uma narrativa baseada na dominação masculina, onde os jogadores são levados a tornarem-se «o pior pesadelo das mulheres», nunca aceitando «um não como resposta». Na sinopse, liam-se ideias como «contacto sexual sem consentimento», «dominação masculina» e incentivos ao incesto.

Chegando a ter esta descrição: «Se a tua mãe destruiu a tua família, tens um novo papel: não de resolver a situação, mas de tomá-la como tua. Descobre os seus segredos obscuros, domina-a e torna tuas todas as mulheres.»

Criando uma onda forte contra este jogo e este tipo de jogos.

Marie-Claire Isaaman, diretora-executiva da Women in Games, disse que «o facto de um jogo como este estar disponível no Steam - uma das maiores plataformas de jogos do mundo - é totalmente inaceitável. Envia uma mensagem clara e angustiante: a de que a violência contra as mulheres não só é tolerável, como pode ser jogada. Esta mensagem não tem lugar na nossa indústria, nas nossas comunidades ou na nossa sociedade.» Condenando fortemente o jogo e referindo que o conteúdo «não só é vil e perigoso, como promove ativamente a desumanização de mulheres e raparigas».

Embora profundamente perturbador, o conceito não é novo. Em 2019, um jogo chamado Rape Day apareceu com a premissa de «abusar verbalmente, matar e violar mulheres». Mas não chegou a ver a luz do dia. A onda de críticas que chegou à Valve, dona da Steam, levou a empresa a considerar que o jogo representava «custos e riscos desconhecidos». Que é o mesmo que dizer, como ofereceu um utilizador do X: «Íamos publicar o Rape Day se desse, mas podemos ser processados.» Sem questionar o teor dos jogos, apenas considerando o risco económico.

Já em 2018, um grupo de hackers entrou no sistema do jogo infantil Roblox e encenou uma violação de grupo ao avatar de uma menina real, de 7 anos, que jogava online no iPad da mãe. Questionada pela filha sobre o que se estava a passar no jogo, Amber Petersen, horrorizada, fez várias capturas de ecrã que mostravam a personagem da sua filha a ser violada por duas personagens masculinas.

Em Março de 2024, a UNESCO publicou um estudo que mostrava que os Large Language Models (modelos de IA com técnicas de aprendizagem e de geração de informação, como o ChatGPT) revelam "tendências preocupantes", sexistas, inclinadas para os papéis tradicionais de género, mas também indícios de homofobia.

Perante este confronto contra o videojogo No Mercy, obrigando à sua remoção de uma das maiores plataformas de jogos, a empresa criadora deste jogo, Zerat Games, enviou uma mensagem dizendo que «é apenas um jogo» e que os críticos «deveriam ser mais abertos a fetiches que não ferem ninguém, mesmo aqueles que a maioria das pessoas podem considerar doentios». A Zerat Games chegou mesmo a afirmar que o jogo foi removido das lojas mas não foi retirado da empresa. Ou seja, quem comprou o jogo continuará a ter acesso sem restrições.

É difícil não temer pelo futuro, quando se considera o que a IA está a fomentar junto de homens revoltados, frustrados, sentados em casa à frente de um ecrã. Basta ligar as notícias e ver o que se tem passado na vida real, no nosso país. São: a mulher que foi morta por Jair, seu ex-companheiro, em Oliveira do Bairro; o julgamento do homicídio de Mónica Silva, conhecida como a grávida da Murtosa, alegadamente morta por um homem que não queria assumir o bebé; a mulher que foi esfaqueada 150 vezes num parque de estacionamento pelo homem que conheceu no Tinder e mais tarde rejeitou; ou britânico de 60 anos que tentou matar a namorada, atirando-a ao rio Tejo em Lisboa.

O Ministério Público abriu um inquérito, em Abril deste ano, que visa investigar se o conteúdo do jogo se enquadra em crimes relacionados com o discurso de ódio contra as mulheres, apologia da violência sexual e incitação à prática de crimes sexuais e até agora desconhece-se a decisão em Portugal.

Este tipo de acontecimentos têm que nos fazer pensar.

AG
13-06-2025