Editorial 05/09/2025

EDITORIAL 05 09 25

A VOZ DA DEMOCRACIA

Ontem, quinta-feira, fui surpreendido com uma interessante conversa. Daquelas conversas que nos estruturam ideias. O assunto era sobre ditaduras versus democracias. Sim, é pluralmente oposto.

Defendi que era mais perigosa a pequena tirania, usada por quem é eleito democraticamente, do que as diversas cores das ditaduras. O meu interlocutor, pessoa com forte e poderoso curriculum político, não concordou. Dizia-me algo como : «- Qualquer ditadura, seja comunista como a de Fidel, Estaline, Mao; ou de Direita como o fascismo, o corporativismo do Estado Novo, ou o nacional-socialismo, perseguiam, torturavam e matavam. Como podes dizer que as ações de tirania numa democracia são piores do que as criminosas ditaduras?»

A polémica construtiva instalou-se. É evidente que uma qualquer ditadura é muito pior, para uma sociedade, do que um conjunto de tiranias de um político eleito democraticamente. Concordei de imediato com esta ideia. O que não contradiz a ideia de que é “mais perigosa a pequena tirania, usada por quem é eleito democraticamente, do que as diversas cores das ditaduras”. As ditaduras são ofensivas aos valores humanistas, mas as ações tirânicas, usadas por quem foi eleito democraticamente, são muito mais perigosas. Pois são elas que, sorrateiramente, vão abrindo as portas às ditaduras.

As imposições do “quero-posso-e-mando” - com o argumento de ter sido eleito; as imposições linguísticas - que nos obrigam a reduzir o pensamento em favor de um “dobrar-a-língua”; as medidas políticas opacas pela burocracia; os abusos de poder ou a corrupção (passiva ou ativa) que desacreditam a democracia; a pressão psicológica para desmotivar a defesa de quem apela à justiça e o perseguir quem não é do mesmo clube, ou que é mais político do que partidário, criam brechas na democracia. Brechas que, ao longo do tempo, se transformam em grandes arcadas que permitem a entrada das ditaduras com tapetes vermelhos.

As pancadas contra a Democracia, na forma das pequenas ações de tirania do eleito democraticamente, são mais perigosas do que a ditadura em si. Pois na ditadura sabemos quem é o adversário da democracia, são cometidos os crimes mais hediondos, mas conhecemos bem as ações do ditador. Nas pequenas ações tirânicas, dos eleitos pela democracia, passam quase despercebidas, com o argumento de que quem as denúncia são apenas “vozes da oposição” e está criado o nevoeiro que esconde a gravidade de ser mais uma brecha na democracia.

O perigo contra a democracia espreita em cada ação tirânica. Sobretudo quando executada, em plena democracia e usando os meios de liberdade que permitem o pensamento livre democrático. Porque ao contrário: o tolher do pensamento com o argumento de que se é ignorante; o assediar os cidadãos para privá-los da sua opinião ou a falta de transparência nas ações políticas, sobretudo quando acompanhados com abusos de poder, são graves sintomas de que a democracia já está a adoecer. E deve ser a montante de uma ditadura que devemos combater, com mais força, para que não cresça o suficiente para poder cometer crimes contra a humanidade. Como diz o povo “cortar o mal pela raíz” é aí que deve estar a nossa luta.

Claro está que, depois desta conversa elevada, cada um de nós enriqueceu a sua visão política graças à democracia que permite a que cada um possa falar sem mordaças. É essa a democracia que defendemos, mas não pode haver democracia sem imprensa livre para fazer escrutínios.

Distinguir o “trigo do joio” é fundamental e por isso o artigo «LIXO NÃO É LUXO» numa denúncia à forma como se definem prioridades políticas.

O artigo «CÂMARA DE COIMBRA POUPA 108 MIL EUROS NA CULTURA» revela uma parte do processo com que se gerem os dinheiros públicos.

O Ponney informa como é que uma das medidas, não prometidas na última campanha autárquicade 2021, está a ser tão zelosamente cumprida no artigo «O APOIO QUE NÃO FOI PROMETIDO NA ÚLTIMA CAMPANHA».

Como nem sempre as tiranias se revelam imediatamente trazemos o artigo «A QUEDA DAS MÁSCARAS», para apontar muitas das brechas na democracia.

Terminamos os artigos de destaque com um artigo «SILÊNCIO HIPÓCRITA» que conta um pouco onde se esconde a violência doméstica. Um artigo escrito pela nossa colaboradora Manuela Jones.

Depois lembramos o concurso de cartoons para divulgar e lembrar que Santo António esteve em Coimbra. Um concurso feito pela Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais com o empenho do seu presidente, Francisco Rodeiro.

Abrimos os artigos de opinião com o artigo «QUEM ERAM OS 2 ASSASSINOS DE D. CARLOS, O NOSSO PENÚLTIMO REI DE PORTUGAL?» escrito por Paulo Freitas do Amaral. Depois Judite Ramos traz-nos «A ARMADILHA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL» e finalizamos com um artigo sobre a saudade da nossa muito ativa Manuela Jones.

Bom fim de semana e boas leituras;
José Augusto Gomes
Diretor do jornal digital O Ponney