Editorial 11/07/2025

EDITORIAL 11 07 2025

 

ESTA COISA DO SOL E DA CHUVA

 

Hoje de manhã o sol foi de férias curtas, dando espaço para uma chuvita que regou as plantas, e no domingo, com sol, terminam as Festas da Cidade e da Rainha Santa, com a procissão da ascensão.

A imagem simbólica da Rainha regressará ao lado emotivo de Coimbra. Santa Clara, com a sua história de amores, desde o amor dado aos mais humildes pela Rainha Santa, até aos amores carnais de D. Inês de Castro, Santa Clara (outrora São Francisco da Ponte) é o lado emotivo que contrabalança com o lado mais racional da margem encimada pela torre da Universidade.

Sem muita luz, para que se entenda Coimbra no seu todo, quer lembrada ou não, a verdade é que o espírito estará sempre nesta terra, mesmo antes de ser Coimbra e ser apenas Emínio (em latim é Aeminium) . Do lado da universidade impera sempre o espírito de D. Dinis. Representado pela sua enorme estátua, construida em tempo do Estado Novo, em frente à Faculdade de Matemática. O que é interessante vermos a racionalidade da terra a sussurrar a quem a habita, independentemente da cronologia.

Do outro lado do rio Mondego, no morro de Santa Clara, a grande estátua da Rainha Santa Isabel, que encima a ladeira, obrigando à penitencia dos apeados, numa ação de sofrimento antes de se encarar a emoção. Na minha leitura do espírito da terra, tudo conspirou para que a ladeira lembre a humildade antes de se ser abraçado pelo amor. Tal como do outro lado o Quebra-Costas obriga à subida ao conhecimento racional.

Também por conspiração dos espíritos da terra encontram-se as grandes estátuas, a Rainha e o Rei, quase que num despique entre a emoção e a racionalidade. O Rei de costas para Santa Clara, para a emoção, e a Rainha virada de frente para a racionalidade do morro universitário. Outrora casados.
Se voltarmos a olhar para Coimbra, no seu todo em torno da cidade, como se fosse uma grande obra de arte, cabe-nos explicar como é que tudo conspirou para nos dar luz sobre o espírito da cidade. Claro que este olhar é só para quem ama Coimbra como amou a Rainha Santa Isabel.

Por exemplo o Milagre das Rosas tem muito para nos contar. Penso que poucos terão dúvida, mas uma lição ficará para quem gosta de Coimbra.

O Rei D. Dinis, apesar de não querer a universidade em Coimbra e de ter o coração mais a sul do que a Rainha, não deixava de ter coração de poeta e também não era tão má pessoa que odiasse os mais necessitados. Mas porque entendia que quem quisesse seguir os passos de Jesus Cristo, no abandono dos bens materiais, não fazia crescer a nação economicamente (como se diz hoje) ia contra a Rainha que partilhava o que tinha com os pobres e ricos de espírito.

Por isso a Rainha entendia outra coisa oposta ao do Rei. Entendia que quem abdicasse dos bens se aproximaria de Jesus, era a crença contra o poder terreno e contra o poder do Vaticano, este era o caminho pela ladeira inclinada, para a boa governação. Onde quem tinha o poder deveria ter votos de humildade, subir a pé a ladeira da Rainha Santa Isabel, despojar-se dos bens materiais, desejar ser puro de coração, perdoar e servir primeiro quem tiver fome de alimentos, justiça ou conhecimento.

Já o Rei tinha que ser mais pragmático, mais imediatista, mais de acordo com os jogos do poder. Talvez que, simbolicamente, quem amava Coimbra (como amava a Rainha Santa) já não se alinhasse com quem tinha o poder executivo (terreno ou religioso). A verdade é que a Santa Rainha pediu para dormir o sono eterno em Coimbra (Mosteiro de Santa Clara). Mas por via das enchentes do Mondego, oferecido pelas grandes chuvas, o túmulo é levado para o morro de Santa Clara garantindo que o “quadro” de Coimbra revelasse, pelo sol, o claro confronto entre as duas formas de governar, ou entre as duas formas de pensar.

Já D. Dinis, tão adorado pela racionalidade, com estátua defendida pelo Estado Novo, pediu para adormecer o sono eterno muito longe de Coimbra. Lá para onde apostava que seria a nova capital: em Lisboa (Mosteiro de Odivelas).

Nos dias de hoje, não há tempo para entender o que nos envolve. É mais alto o desafio da liberdade moderna, ou a combinação de liberdade e isolamento que nos confronta, sendo o de construirmo-nos. O perigo é o de se poder emergir do processo como uma criatura não inteiramente humana.

Talvez por isso as artes do disfarce estão tão bem desenvolvidas que podemos estar certos de subestimar o número de sacanas que conhecemos ao longo da vida. Há casos onde esses sacanas têm a esperança, sobretudo quando estão a seduzir novos amigos, de passarem por pessoas muito decentes. São aquelas pessoas que têm os livros de religião e de ética apenas para segurarem as janelas quando se parte a corda da persiana.

Só usando do tempo para ver o todo desenhado em Coimbra a traço fino, poderemos identificar o que a luz solar nos revela e as chuvas nos levam para estarmos mais acima.

Assim abrimos O Ponney com o artigo «MULTISPORT WEEKEND COIMBRA ENTREGOU À CAVALO AZUL 1500 EUROS ANGRIADOS EM CAMINHADA SOLIDÁRIA». Mil e quinhentos euros é bastante dinheiro entregue à associação Cavalo Azul e por isso foi investido o aparato com a oferta de um cheque gigante e a fotografia de algumas das grandes figuras com poder em Coimbra. Se considerarmos que em Portugal, o gasto médio mensal com compras de supermercado por pessoa varia entre 120€ e 200€ (segundo o InfoMoney) estes mil e quinhentos euros dão para compras de supermercado aproximadamente para 10 pessoas num mês. O que é melhor do que nada.

O segundo artigo tem o título:«NÃO É BONITO ANDAR A ENGANAR» e traz a reflexão sobre uma contradição. Vale a pena ler.

O terceiro artigo traz-nos o enigmático assunto sobre a «DEMOGRAFIA NUM LAR DE IDOSOS». Com algum humor, naturalmente, consideramos como pode evoluir a demografia num lar de idosos. Um artigo para ler e refletir.

Porque os artigos de O Ponney são essencialmente de reflexão e menos de puramente informativos, o artigo «COIMBRA - UMA CORRIDA CONTRA O ESQUECIMENTO» voltamos ao desafio da reflexão sobre o que é Coimbra, para que se saiba distinguir o que está certo em Coimbra, ou não.

O artigo «TRANSPORTES DE COIMBRA NÃO CONQUISTAM ESTUDANTES», traz-nos o facto indesmentível que a organização dos transportes municipais estão muito afastados de políticas de boa gestão. E essa falta, também, se reflete na captação de mais estudantes em Coimbra.

Depois anunciamos como pode ser voluntário na Cáritas em Coimbra. Uma boa ação que merece a nossa atenção.

A secção dos artigos de opinião inicia com o artigo de Yousef Hassan, onde é oportuno explicar um pouquinho sobre o que é o islamismo. Ainda que muito pela rama fica um pequeno levantar do véu.
O artigo da nossa sempre próxima e amiga Manuela Jones, traz-nos a velha lenda da cobra de Coimbra como é contada.

Terminamos os artigos de opinião com o texto de José Vieira, que como jornalista e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APMEDIO (Associação Portuguesa dos Media Digitais Online), nos traz a estratégia para os órgãos de comunicação social regionais.

Mais artigos encontra no nosso O Ponney.

Desejo um excelente fim de semana entre o sol e uma certa chuva que nos vai regando as plantas.

José Augusto Gomes
Diretor de O Ponney