Editorial 04/07/2025
AS PERIPÉCIAS DA LIBERDADE
Hoje, em dia da Cidade de Coimbra, cabe-me falar da dificuldade de se ter um jornal isento em Coimbra.
Permitam-me o desabafo de que o cargo de diretor de um jornal nascido em 1929 em Coimbra, como é O Ponney, é uma tarefa pesada. O que me leva a perguntar: o que pensava Castelão de Almeida quando criou um jornal a 19 anos depois da Instalação da República?
Ninguém sabe!
Nem os contemporâneos, que com ele contactavam, sabiam bem o que pensava o nosso irreverente pai de O Ponney. Pelo que escreveu mostrava-se irreverente, amante da verdade e da Liberdade. Não se continha quando era necessário apontar o dedo a companheiros de lutas e com mesma força apontava, com galhardia, o seu sujo de tinta dedo ao poder instituído ou até ao Diário de Coimbra. Era a voz discordante. Se todos iam numa direção, Castelão apontava outro sentido. Podia não ser oposto, mas sempre vinha com uma direção diferente.
Isto num sentido de liberdade que não deve ser aviada em “pharmacia” em doses homeopáticas. Ou como escrevia João Chagas, contemporâneo de Castelão de Almeida, embora mais velho, que dizia: «Quer dizer, a liberdade para o systema liberal é um veneno. Elle receita. O juiz Veiga avia. O Governo Civil é a pharmacia da liberdade. Ali se manipulam, a pisam, a clarificam, a passam a filtros de papel pardo. Por isso a liberdade de que gostamos é uma liberdade de pharmacia. Não podemos fazer uso d’ella senão em virtude do medico - que é o Governo».
Se em verdade vos digo que não há ninguém que saiba o que pensava Castelão de Almeida, em verdade, também, vos digo que não faço esforço nenhum em ser irreverente. Nem nenhum esforço a defender a Democracia para dar voz a todos, mesmo os que defendem uma opinião diferente da do diretor de O Ponney. A isenção democrática obriga-me, pela ética, a não criar barreiras a opiniões diferentes - como desejam os “velhos e velhas do Restelo”. Este é o verdadeiro sentido da Liberdade por muito que incomode gente que defende a contenção da liberdadezinha a ser aviada na “pharmacia” em doses receitadas por quem se arroga saber qual a quantidade certa que cada um tem de tomar.
A “bem da nação”, ou do que pensava Salazar (que ele fazia questão de fazer ser uma e mesma coisa entre a vontade dele e a vontade da nação), a liberdade era algo muito restrita. Neste século XXI continua o receituário. A proibição de falar, quem fazia oposição ao Estado Novo, onde estavam também incluídos os comunistas, era justificada com o mal que “essa populaça” fazia à nação. Hoje continuam essas restrições. Sujeitando a liberdade a uma regulamentação onde se perde a noção do que é liberdade de pensar ou liberdade de verter águas.
Restringir a liberdade é “criar um breviário portátil a todas as ditaduras” já alertava João Chagas muito antes da ditadura do Estado Novo tomar posse. Não se impede nem a “ditadura do proletariado”, nem a ditadura do Estado Novo com restrições à liberdade de expressão - muito antes pelo contrário é com as restrições que se mata a democracia. Só se combate as muitas formas de ditadura com o raciocínio baseado em factos e pela História, que para ser disciplina de pensamento tem que ser isenta. Doa a quem doer. Doa a quem doer!
Por isso, hoje, O Ponney tem cada vez mais pessoas a enviarem artigos de opinião. Não me permite a ética proibir um artigo de opinião contrária à minha, mas obriga-me a democracia a escolher artigos jornalísticos que se baseiem em factos claros. É esta a direção de O Ponney que não se vende e que luta contra qualquer “liberdade de pharmacia”.
Só neste sentido apresentamos o artigo «PERIPÉCIAS NAS GREVES DOS SMTUC» onde contamos os factos que se nos apresentam sobre um assunto que implica uma maior ou menor sustentabilidade ambiental para Coimbra. Os trabalhadores dos SMTUC estão isolados do poder municipal, nacional e do sindicato. A luta pela verdade não deve terminar.
Se cada vez mais trabalhar rende cada vez menos, por isso se importa gente para que não tenha consciência do que deve ganhar para sobreviver, só nos resta os jogos de azar. Mas quanto recebe mesmo se lhe sair o Euromilhões? Saiba a resposta neste artigo «IMAGINE QUE GANHA EUROMILHÕES». Para além de por breves momentos sonharmos com tanto dinheiro...que temos que entregar ao Estado.
Pela cada vez mais apertada regulamentação da liberdade apontamos o dedo ao «NEVOEIRO NO CASO DAS GÉMEAS». Um caso que se vai dissolvendo na nova polémica divisão entre “portugueses de primeira” e por vontade deste Governo “portugueses de segunda”, mas...e o chamado “caso das gémeas” onde “portugueses ALFA” se distinguem? Os casos não se devem confundir, mas devem-se arrumar.
Como não está arrumado o caso dos trabalhadores que não são abrangidos pelas leis laborais. Sendo os trabalhadores que estão protegidos pela lei os “trabalhadores de primeira” e os trabalhadores fora da lei laboral os “trabalhadores de segunda”. Não sabia que havia esta divisão? Pois existe em Portugal e está apontada no artigo «TRABALHADORES SEM PROTEÇÃO LABORAL». E que faz o Estado? Pois permite! Dado que até dá jeito para fazer um quadro laboral bem bonito, com menos gente a receber dos descontos que fez para o desemprego, útil para apresentar nos debates partidários, mas muito longe da realidade.
Se o Estado arrecada tanto dinheiro para onde segue essa verba? Temos como ponto de partida para pensarmos o artigo «A QUIMERA DA BOA GESTÃO DOS DINHEIROS PÚBLICOS». Um artigo para pensarmos antes de alinharmos em protestos “porque sim” devemos pensar qual é que poderia ser a solução.
Nos imensos artigos de opinião que O Ponney recebeu, desta vez vieram seis artigos, o critério de publicação foi feito pela ordem que nos chegaram.
Começam os artigos de opinião com o artigo de Daniela Sousa que nos traz a sua opinião sobre a falta de sentido democrático nas reuniões ordinárias da Câmara de Coimbra.
A opinião de Maria Júlia sobre os fogos em Portugal transportam-nos a uma realidade dura, mas em tons de Humor. Pena é que não escreva para o Movimento de Humor.
Sancho Antunes, um grande amigo meu apesar de discordar de muitas opiniões e ações dele, traz-nos um artigo de que estou em perfeito acordo.
A minha querida amiga Rosário Portugal traz-nos a sua opinião sobre o mais abuso de Platão e cada vez menos Prozac, de que estou brutalmente de acordo.
A minha amiga de infância, Manuela Jones, traz-nos a continuação de um conto de Coimbra que não deve morrer pela sua tradição.
Terminamos o grupo de artigos de opinião com a posição vincada de José Vieira que nos traz o sufoco dos jornais regionais.
Como está muito calor para andar na rua, sugiro procurarem um lugar fresco para lerem O Ponney.
Desejo-vos bom fim-de-semana.
José Augusto Gomes
Diretor do jornal O Ponney