UC ANDA A BRINCAR ÀS HIPOCRISIAS?

UC ANDA A BRINCAR AS HIPOCRISIAS1

 

Brincar é uma atividade lúdica que nos faz aprender o que, de forma geral, é louvável se fosse aplicado na Universidade. O problema é quando o verbo ‘brincar’ é usado apenas para um pequeno grupo do topo da pirâmide social numa perspetiva hipócrita. Isto com o significado daquele que finge ser o que não é. Foi o que aconteceu esta segunda-feira (25 de Março) com a assinatura de “contratos-programa de apoio à contratação para a carreira de investigação científica”entre a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, que termina mandato, e o Ensino Superior feito na Sala do Senado da Universidade de Coimbra (UC).

Disse a senhora Ministra, do extinto governo liderado por António Costa (demissionário do cargo de Primeiro-ministro) que «estes contratos representam um passo determinante para o desenvolvimento académico e científico em Portugal». Na realidade o objetivo é apenas, teoricamente, manter a imagem que o governo de António Costa apoiou a ciência. O que não é nada verdade.

Vamos saber porquê.
A Ministra Elvira Fortunato disse, durante a cerimónia, que este contrato vai apoiar «1065 doutorados exclusivamente para a carreira de investigação científica» com a finalidade de promover a estabilidade laboral e apoiar o “emprego científico”. Não sendo verdade que este financiamento vai apoiar o desenvolvimento da Ciência nem tão pouco resolver o problema da precariedade dos investigadores. Pois a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) já tinha apresentado a proposta às universidades que a FCT apoiava com os três primeiros anos para a contratação de investigadores e as universidades apoiavam com o resto do tempo a carreira de investigadores. Havendo o interesse da Fundação para a Ciência e a Tecnologia desenvolver as investigações científicas portuguesas e havendo o interesse das universidades de publicitarem as inovações feitas localmente.

Porém o que aconteceu foi que algumas universidades (a de Coimbra e a de Lisboa foram taxativas e encabeçaram essa recusa), representadas pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), entendeu não aceitar esta proposta para a contratação dos seus investigadores. A Universidade de Coimbra e a de Lisboa recusaram a proposta da FCT com o argumento que tinha que ser o governo a assumir a total responsabilidade e falando pelo CRUP.

Quando a senhora Ministra Elvira Fortunato entendeu desbloquear a verba, com este contrato e num Orçamento de Estado permanente, o que vai acontecer é que essa verba vai ser canalizada apenas para a contratação de professores universitários para substituir os professores jubilados. Também é verdade que a UC tem feito muito pouco para combater a endogamia académica, havendo até, em alguns casos, uma sucessão apenas digna de um sistema monárquico dentro de determinadas famílias de Coimbra.

Ora, essa verba, é apenas canalizada para a substituição de professores sendo demasiado evidente que não vai ser usada para criar a carreira de investigadores científicos (em Coimbra e em Lisboa).

PORQUE É QUE A ALGUMAS UNIVERSIDADES NÃO APOIAM A CARREIRA DE INVESTIGADORES ?

Algumas universidades, como a de Coimbra e Lisboa, não querem apoiar a carreira de investigadores porque sabem que os investigadores precários vão sempre necessitar do apoio de uma instituição para poderem desenvolver os seus projetos. Estão dependentes das instituições o que permite o uso da injustiça. Ficando assim com a “faca e o queijo na mão”. Com isto, as universidades ainda ganham publicidade com os projetos, feitos pelos investigadores precários, e, como se fosse pouco, ficam com uma parte dos dinheiro dos projetos, com argumento de gestão administrativa destes. Nesta situação é apenas lucrativa para as Universidades, ficando ainda com o problema da substituição de professores resolvido de forma externa.

Sabendo deste mecanismo, as instituições que assinaram este acordo, ainda assim, conseguem fingir que este contrato-programa tem um objetivo que não é o real. Os investigadores precários continuam a ser o “mexilhão” do dito popular “quem se lixa é sempre o mexilhão”.

A injustiça prolonga-se onde as instituições continuam a “brincar” sem resolverem nada, para quem tem situações de trabalho precário, mas aumentam as regalias de quem já as tem. Isto aumenta as fraturas laborais entre professores e investigadores científicos que só prejudicam Portugal.

Com esta informação, já é fácil responder à pergunta que dá título a este artigo.

JAG