O URBANO, O DUARTE: TRAÇOS DE VIDA

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No próximo dia 17 assinala-se a morte do Cónego Urbano Duarte. Já se completam 40 anos sobre o seu passamento.

O tempo desaparece, como o fumo que se dissipa com o vento que trás e leva...

Esta figura incontornável da Igreja Diocesana de Coimbra e de Portugal, deixou traços da sua presença que não podem escapar-nos, por tudo quanto a sua frenética acção, a sua forma de se postular perante as injustiças, a sua vivência com os outros, a sua interpelação de jornalística, a sua motivação como sacerdote, a sua oratória como pedagogo, a sua prestação como professor e a sua grandeza humana, carregou para a minha vida e para de muitos outros.

Meses atrás, tive a franqueza de apresentar o nosso Urbano a um jovem amigo, o Paulo. Aqui fica o testemunho:

Eu fui discípulo (fiz e tento fazer o que posso) de Urbano Duarte. Bebi muita da cultura, da educação, da inteligência e da força interior desse Homem. O Cónego Urbano foi um beirão de cepa, acabando sacerdote, pedagogo, professor liceal, jornalista, assistente eclesiástico e orador.

Padre de qualificada personalidade, bondade, entrega, clarividência, humanidade e serviço à causa da Igreja e dos Homens, soube instruir jovens para o jornalismo e para a Vida, enformando-os, como quem coloca a massa para cozer o bolo, com a intenção de os lançar ao caminho. Pregando a Palavra de um Deus libertador, salvífico e arauto do amor entre os homens, Urbano deixou-me a responsabilidade de ser ético, deontológico e pugnar pela Verdade, na arte do jornalismo que decidi abraçar.

Urbano, e para que saibas, meu caro jovem amigo Paulo, foi um Padre que dignificou a Diocese de Coimbra e a Igreja de Portugal, assim como os condiscípulos Manuel Paulo, Manuel de A. Trindade e outros, porque "sofria" de grande inteligência e soube, com estudo, leitura e experiências de vida, moldar-se de uma interioridade superior, revestida de uma espiritualidade que brota das entranhas da alma, no caso, a dele.

Urbano, foi uma figura de grande mérito e um vulto regional e nacional da Igreja de Cristo, que não temeu as injúrias dos que, blasfemando, o etiquetaram de "cónego vermelho". E, por tão pouco: por denunciar injustiças, por falar do divórcio no seu tempo, por criticar a ditadura e por se afirmar um amante da liberdade pessoal, humana e de consciência. Os seus artigos, com a chancela de "SINTOMAS", no semanário "Correio de Coimbra", eram o descritivo de narrativas a que assistia, portanto, acontecimentos reais. A eles emprestava a sua astúcia de análise, a que juntava a sua pena com um português de um paladar que fazia lembrar o melhor manjar de uma das mais concebidas ementas, dos restaurantes mais badalados do Planeta... Urbano sabia ver, cheirar e ouvir o Mundo que o rodeava e conseguia, com uma argúcia que só os eleitos conseguem ter, apresentá-lo com a mansidão e a mensagem das Escrituras. Porque queria mudar as nossas Vidas e introduzir-lhes benfeitorias que nos fizessem Homens Novos e capazes de construir um Mundo Melhor... Era um verdadeiro senador. Como um dia escreveu, um outro seu discípulo, o Mário Martins, Urbano era o “Sr. Comendador”…

E olha, meu jovem amigo, foi por ele que me afoitei a seguir o caminho do jornalismo, servindo.

Mas olha que o trilho se mostrou difícil, apesar de ele me ter informado disso e de muito mais.

Quero referir que veio a ser, a título póstumo, condecorado com a Cruz de Grande Oficial da Ordem de Mérito, a 10 de Junho de 1993, pelo Presidente Mário Soares.

Deixo para os interessados: no próximo dia 17, na Capela do Seminário Maior de Coimbra, onde foi docente como também no Liceu D. João III, será transmitida a Santa Missa, a do VI Domingo da Páscoa, em que se recordará o nosso Urbano. Podem “sintonizar” na net. 

António Barreiros