O COLÉGIO DE SÃO BENTO

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Na Alta de Coimbra, não muito longe do Paço das Escola, e encostado ao vetusto aqueducto de São Sebastião, fica o que resta do colégio de São Bento, em cuja enorme cerca foi construído o Jardim Botânico, quando da Reforma Pombalina, logo após 1772.

Foi fundado no ano de 1555, por iniciativa de frei Diogo de Murça, reitor da Universidade, a partir de 1543, para monges-estudantes da ordem beneditina, tendo os primeiros membros, e ainda durante vários anos, ficado instalados nos próprios paços reitorais. As obras do edifício privativo não começaram imediatamente, mas só duas décadas depois. Certo é que em 1572, os beneditinos já tinham terrenos fora do circuito das muralhas da cidade, junto ao aqueduto que então estava a ser remodelado.

Em 1576, as obras do novo edifício estavam começadas, e foi autor da sua traça Afonso Álvares, sucedendo lhe, mais tarde, o seu sobrinho Baltazar Álvares. A igreja privativa, de grandes dimensões e excepcional categoria, que só ficou acabada no início do século XVII, foi sagrada em 1634.

Quando da construção dos novos edifícios universitários e dos arruamentos adjacentes, o templo foi destruído. Corria o ano de 1932, quando a bárbara decisão foi aprovada pelo Governo da República, com a aprovação de muitos, ou mesmo da maioria dos professores universitários.

Conhecemos a planta da igreja, de nave única e três capelas nos flancos, e sobre elas grandes janelas, um transepto muito amplo, abobadada na nave e com uma cúpula no cruzeiro. Era decorada com excelentes azulejos de tapete seiscentistas de fabrico lisboeta e adornada por inúmeras esculturas em madeira policromada que saíram do cinzel de frei Cipriano da Cruz, a maioria das quais se conserva, felizmente, posto que dispersas. Mostramos aqui um desenho executado pouco antes da destruição que mostra o flanco direito da nave.

A frontaria era muito simples, quadrangular, com dois andares e com empena triangular, com três panos na vertical vincados por pilastras da ordem toscana simplificada. A entrada era feita por triplo arco e sobre estes, havia três grandes nichos, acima dos quais ficavam quatro janelões e um óculo que iluminavam o coro-alto. Conhece-se uma fotografia da fachada íntegra, com os estudantes do Liceu à sua frente, e outra já na fase da sua lamentável destruição, que também incluímos nesta nota.

Resta hoje o edifício do colégio propriamente dito, formando um grande quadrilátero, com um amplo pátio central. Destacam se as fachadas nobres viradas à via pública, com as bem ritmadas ordens de janelas de molduras direitas ao gosto renascentista.

Com a extinção das ordens religiosas o colégio foi abandonado e em 1848 foi entregue à Universidade. No entanto, logo no ano seguinte, foi aqui instalada uma unidade militar, em parte das dependências. No ano lectivo de 1869-1870, foi transferido para aqui o Liceu de Coimbra, que estava sediado no colégio das Artes.

A partir da década de 1940 começaram a ser delineadas sucessivas campanhas de beneficiação no amplo complexo colegial. Entre as principais obras destacam-se o arranjo do pátio principal e a beneficiação e uniformização de salas, corredores, átrios e escadas, nos quais foram aplicados revestimentos azulejares reproduzidos a partir de originais seiscentistas.

O edifício está hoje ocupado por várias instituições universitárias da Faculdade de Ciências e Tecnologia.

Pedro Dias