Nas Repúblicas em Coimbra meu amor…

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Nas Repúblicas de Estudantes em Coimbra aprende-se o Caminho da Democracia e o Progresso do Exercício de Cidadania.“ Em Coimbra meu amor, a Loucura tem um Palácio!”

As Repúblicas de Estudantes em Coimbra também estão desde há década ou mesmo desde o início deste século a passar um mau bocado. O caso da casa Real República “Boa Bay Ela” que conheço muito bem, alertou para situação de decadência e superação. E até estiveram com um anúncio no Jornal. A par de outras para recrutar novos estudantes, mesmo estudantes Erasmus.

Ainda estudei na última década do séc. XX, nos anos 90 numa Universidade onde vinham parar estudantes de todo o país. De Norte a Sul, do Minho, e Trás  os Montes, ao Alentejo e Algarve, das Beiras, de África, dos Palops, das ilhas.  Coimbra, a Cidade e a Universidade eram um Micro cosmos do país. E assim também as Repúblicas de Estudantes ea vivência das Repúblicas. Foi talvez a última geração assim. As “coisas” social e sociologicamente mudaram muito. Por factores externos, uns para bem outros para mal, não interessa mudaram, é um facto.

A abertura de muitas Universidades no Interior do país, nas faixas litorais e mesmo nas ilhas com a abertura também dos clássicos cursos de Letras, de Direito e mais tarde Engenharias e Medicina. A Abertura e proliferação de universidades Particulares concentradas sobretudo em Lisboa e Porto com os mesmos cursos, com novos cursos alguns que não eram cursos e na realidade não servem para nada, com a proliferação de Institutos técnicos e Politécnicos.

Coimbra ressentiu-se disso, E também das casas da Repúblicas que estavam a ficar degradadas com falta de apoio financeiro e social e cortes dos apoios da Universidade e da autarquia. Com a especulação imobiliária, pois os proprietários das cassa com o advento do turismo e inseridas num contexto de “Gentrificação” querem fazer negócio de venda ou alguma rentabilização turística. Mas a vinda de estudantes estrangeiros, ainda assim estancou a hemorragia e contribui para um reaviver da juventude. É evidente que trazem novos hábitos e costumes. As tradições inventam-se e reinventam-se, trazem Juventude.

Os estudantes brasileiros em Coimbra são mais de dois mil, que cursam diferentes disciplinas e cursos, mas a Universidade de Coimbra UC, registou uma quebra de cerca de 49 % de alunos Erasmus a estudar na instituição em relação ao ano lectivo 2019/2020 devido à pandemia de covid-19.

Comparando com os dados de 2019/2020, a UC regista uma diminuição passando de 1.662 alunos Erasmus a frequentar a instituição no ano passado para 849 este ano, divulgou a instituição.

A República Boa-Bay-Ela, em Coimbra tomou uma resolução arriscada. Comprar a casa onde se encontra por forma a assegurar o seu futuro, num investimento de 150 mil euros que teve um apoio de 10% da Universidade.

A compra foi anunciada como formalizada com a assinatura da escritura e contou com um apoio de 75 a 80 mil euros por parte de 50 a 60 antigos repúblicos que se juntaram para ajudar a assegurar a continuidade da República, assim como de 10% do investimento total por parte da Universidade de Coimbra, UC, disse um dos antigos repúblicos que ajudou a organizar o processo. O restante será pago pelos actuais residentes, através de um empréstimo a dez anos que é assumido pela associação da República, explicou-se.

“Este apoio da Reitoria da Universidade de Coimbra é fundamental e agradecemos muito”, salientou um antigo republico que realçou ainda que, durante o processo, foi “um bocado decepcionante a falta de colaboração e de interesse” por parte de outras instituições da cidade. Por parte da Câmara de Coimbra, houve “um reconhecimento do interesse histórico e cultural, que isentou de IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis, mas limita-se só a este facto.

O reitor da UC defendeu que a instituição que lidera deve “empenhar-se na preservação do legado histórico das repúblicas enquanto património imaterial”.

A venda da casa não era iminente, mas, face à sua localização “numa zona de forte especulação imobiliária”, os antigos e actuais residentes decidiram avançar com a compra para garantir “o futuro da casa”.

“Havia o receio de que o interesse externo se pudesse agudizar com o aproximar do termo do contrato, já que em 2023 iria transitar para o novo regime de arrendamento urbano”, disse-se.  A República conta actualmente com 7 estudantes. Mas, sucintamente, veremos a História de cada uma delas e alguns que por lá passaram.

Antes alguns esclarecimentos prévios: O termo República" é originário do latim res publica, "coisa pública". Ou "casa": As suas origens remontam ao século XIV, quando D. Dinis, por diploma régio de 1309, promovia a construção de casas na zona de Almedina e que deveriam ser habitadas por estudantes, mediante pagamento de um aluguer, cujo montante seria fixado por uma comissão, expressamente nomeada pelo Rei, constituída por estudantes e por "homens bons" da cidade. A partir de um tipo de alojamento comum, permitindo minimizar os encargos financeiros, viriam a surgir, por evolução, as actuais Repúblicas. As "casas" caracterizam-se pela exaltação de valores universais que unem o passado ao presente. Vida em comunidade, soberania e a democraticidade. As decisões, tomadas por unanimidade e todos os membros responsabilizados na gestão da "casa".

Coimbra, berço da academia de Portugal e do Brasil. E também vinham de um tradição europeia das mis antigas Universidades europeias, de Salamanca a Bolonha, da Sorbonne, a Oxford, a Cambridge, a Leuven, a Heldelberg e mais… Então, uma república de estudantes, república ou solar de estudantes é uma organização sem fins lucrativos destinada a albergar estudantes do ensino superior e gerida por estes. Em Portugal, é abrigada por lei. As  Repúblicas de estudantes de Coimbra cerram fileiras para resistir como comunidades. Com a covid-19 adveio mais um teste à sua capacidade de sobrevivência, com algumas destas comunidades estudantis a cerrarem fileiras na partilha e na reinvenção em tempo de pandemia.

A curta distância da Sé Velha, a mais antiga república da cidade, os Kágados, tem as portas fechadas. Os seus membros decidiram ficar na casa, depois de a Universidade de Coimbra UC ter suspendido as aulas presenciais.

6 d  8  actuais residentes estão nas instalações, onde prosseguem, confinados, as actividades académicas. Apesar das restrições, preparam as refeições e confraternizam. “Ajudamo-nos uns aos outros e temos ainda mais vontade de estarmos reunidos”, sublinha um estudante.

Em Coimbra, há, actualmente, mais de duas dezenas de Repúblicas em funcionamento, estando a quase totalidade das mesmas agrupadas no Conselho de Repúblicas, CR, que se reúne a pedido de qualquer das casas que o compõe e que toma as suas decisões por unanimidade.

Possuem uma Vertente jurídica e graus internos. Segundo a lei portuguesa feita para as repúblicas de estudantes de Coimbra impulsionada pelo então deputado Miguel Anacoreta Correia da “Casa Comunitaria dos Symbas” desde que com a devida aprovação do reitor da universidade, as repúblicas e os solares de estudantes de Coimbra constituídos de harmonia com a praxe académica consideram-se associações sem personalidade jurídica. Esta lei seria alargada em 1985 curiosamente por pressão da Real República do LYS.O.S Porto, junto da  Assembleia da República. Estes, ameaçados de despejo pelo proprietário da casa, necessitavam de reconhecimento como República para poderem parar o processo. Hoje em dia, as repúblicas são um meio alternativo à praxe, sendo portanto, quase na sua totalidade, antipraxe, ou não praxantes.

Depois de aceite por votação, o novo residente fica algum tempo à experiência, durante o qual tem o título de Plebeu, Candidato, ou outras consoante a Casa, sendo, mais tarde, submetido a mais uma votação e podendo, aí, ser aceite como Repúblico, residente permanente. A gestão interna de cada república é feita pelos Repúblicos uma vez que são todos eles iguais. As Repúblicas abandonam a ideia de hierarquização, ao contrário da praxe, em prol de um pé de igualdade entre todos os residentes. É assegurada uma verdadeira vida comunitária, num verdadeiro espaço de liberdade. Aquando da formação de uma república, é decidido se a república aceita qualquer tipo de candidaturas ou apenas alunos de uma universidade ou faculdade. Existem repúblicas que dão preferência a homens, mulheres ou pessoas deslocadas não sendo tal, obrigatório para a admissão.

Uma república destaca-se das outras casas para estudantes pelo objectivo de, além do estudar, cursar, procurar, também, ensinar um "saber viver", "saber fazer" e "saber dizer", utilizando a vida boémia e convívios para despertar o debate e reflexão sobre temas mais complexos.

A notação de Plebeu e Repúblico para os residentes é uma das grandes tradições que vêm passando ao longo dos anos, assim como a de 1 ano vale por 100, que leva a uma celebração "à porta aberta" de um centenário todos os anos. Cada república também vai passando, ao longo dos anos, um hino e símbolos aos mais novos e, por vezes, um grito, que mostram a identidade dessa casa. A casa de banho e Cozinha, tal como a sala são comuns. De 10 em 10 anos comemoram-se os milenários. Têm pinturas alusivas nos quartos e salas, muitas de artistas conhecidos que passaram por elas e ou pela cidade bem como poesias de gente conhecida que pertenceu ás casas. Estas casas consolidaram-se muito com o avento da República embora tivesse havido pelo menos em Coimbra a  Real  República  o “Pagode Chinês, de cariz monárquico e fundada por monárquicos que informou o Dr. Manuel Guerra que era ali à Rua dois Contentes a seguir ao Jardim botânico da Cidade e ao Jardim Escola João De Deus. 

As Repúblicas substituíram e subsistiram a par das casas das ordens religiosas. Eram livres, muitas com tradições e uma leve linguagem de iniciação maçónica e Repúblicana, mais tarde, posteriormente, muitas declaradamente de Esquerda marxista ou mesmo anarquista. Ainda me lembro bem da Velha “ Trunfo é Copos conotada com a extrema esquerda anarquista e em que presenciei num centenário onde lá fui parar que no jardim fizeram uma enorme fogueira e tiravam as portas e janelas para fazerem lenha e mais chama. Uns Doidos.  Mas, a maioria das Repúblicas não são assim. Possuem regras muito bem definidas para uma boa vivência em Comunidade da casa, comunidade estudantil e comunidade urbana da cidade. Costumam ter uma Cozinheira, que lhes fazem o almoço e jantar, muitas delas já senhoras idosas que carinhosamente os tratam por meninos e muitos a elas por mãezinhas. Têm o apoio logístico para bens alimentares dos Serviços Sociais da Universidade de Coimbra e do seu Supermercado interno. Muitos trazem o vinho das suas zonas, aos garrafões, As Repúblicas tradicionais de Homens juntar-se umas duas Femininas, ás dos estudantes do Continente, duas ou três das ilhas, Açores e Madeira e duas ou três dos países africanos como Angola, Moçambique, S. Tomé, Cabo Verde, Guiné. E para tal tinha contribuído muito a Casa dos Estudantes do Império que havia sido fundada anos antes apar da de Lisboa. Digamos que eram umas filhas desta. Havia também alguns estudantes brasileiros. Iremos á descrição de algumas Repúblicas:

Real República dos Kágados; Sita na Rua Joaquim António de Aguiar, próxima do Largo da Sé Velha e fundada em 1933 onde anteriormente se localizara a República Porvir, extinta pouco tempo antes. Houve   uma espécie de passagem de testemunho. Um dos pontos altos da história desta República e das Repúblicas de modo geral foi a celebração do importante Pacto de Amizade e Aliança em 1948 neste local e a assinatura dos Estatutos do Conselho das Repúblicas. Inicialmente todos os seus membros eram da região do Minho, sendo que por ali passaram nomes como Orlando de Carvalho ,um dos mais ilustres Professores da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e o cantor José Mário Branco, estudante de História na Faculdade de Letras.

Durante 34 anos serviu na casa a Sr.ª Lili que, aquando da sua aposentação aos 75 anos, e que teria um fundo, “Fundação Lili”, para ajudar na  sua reforma e aquando da sua morte teve as mais elevadas honras académicas.

Actualmente, a República dos Kágados recebe no seu seio, dentro da evolução vários alunos estrangeiros do Programa Erasmus .

Real República Baco: Uma das grandes resistentes. Passou por variados locais ao longo da sua vida. No ano de 1934 seria   fundada na Rua do Forno de onde  transitou  para a Rua dos Militares. Com a demolição da Alta passou para a Rua dos Coutinhos e em 1972 voltou à Alta, Rua do Loureiro, onde ainda hoje se encontra. Entre os seus antigos membros contam-se políticos, cantores, guitarristas e poetas. Nomes como António de Almeida Santos, José Niza, etc. Teve muitos visitantes e convidados como o cirurgião sul-africano Christian Barnard ou Vinicius de Morais.

Sempre pautada pela diversidade dentro da união, nos anos 80 a Real República Baco tornou-se mista, passando a admitir membros do sexo feminino.

Real República Rás-Te-Parta: Fundada em 1943 na Rua dos Estudos, e depois foi  a Rua da Matemática seis anos depois onde ainda hoje se mantem.

Na sua constituição, os elementos possuem designações características da casa sendo que o líder do grupo é o ‘Ditador’. Depois há o ‘Guarda do Cofre Aberto’, o ‘Cronista’, o ‘Conservador de Objectos Palmados’ o ‘Chefe de Orquestra com um cavaquinho. Aí residiram Adriano Correia de Oliveira, então estudante de Direito e Luís Victor Gomes da Silva, um dos fundadores da ‘Clepsidra’ No ano de  1959 foram aí  recebidos Erico Veríssimo e Miguel Torga, que ali jantaram.

República dos Galifões: Diversidade que sempre pautou os seus membros, a República dos Galifões manteve-se fiel ao seu local de fundação na Couraça dos Apóstolos. No pós-25 de Abril assumiu explicitamente uma militância de extrema-esquerda dentro da República passando mesmo a designar-se por Comuna dos Galifões. Um incêndio de provável origem criminosa, em oposição ‘as suas actividades político-sociais no ano de 1985 interrompeu a sua actividade. Porém, no ano de 1987 o edifício foi comprado e foi criada a Associação República dos Galifões para promover a angariação de fundos através de actividades culturais, musicais e desportivas para reconstruir o edifício, o que aconteceu em 1996. Ainda me lembro de um Concerto do Sérgio Godinho no Teatro Académico de Gil Vicente, TAGV, por esses anos em que eu consegui ir ao camarim dos artistas para sacar um autógrafo e entro também um membro da República para lhe entregar um manifesto e disse-lhe, ainda me lembro. Ó Sérgio, Vê lá bem o que estes fascistas Reacionários nos fizeram. Queimaram a nossa República. Dizia isto enquanto lhe entrerregava o manifesto e baixos assinados e lhe mostrava as fotografias que tinha.  Mas parecia cá com uma moca!

Real República Ay-Ó -Linda: Criada no início por estudantes da Póvoa do Varzim no antigo Largo da Feira sendo que actualmente é uma das várias Repúblicas existentes no Bairro Sousa Pinto. Por ela que eu saiba passou o meu professor de Economia da FEUC, Eduardo Figueira, O Costa Pereira, creio que de Letras, e nos meus anos 90 o ex- Presidente da DG AAC da “Lista E” independente, à qual eu pertencia, António Vigário que se formou em Direito. Estive lá em vários Centenários.

Real República do Bota-Abaixo: Foi fundada durante o período de demolições da Alta e daí deriva o seu nome. Inicialmente era localizada na Rua do Borralho mas seria transferida para a Rua de São Salvador. Nos anos sessenta foi uma das mais frequentadas por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira. Estive em vários centenários e por vezes lá jantar com o Nuno Fonseca e Lois, Luís Paulo Sousa, meus amigos, ambos estudantes de Arquitéctura e que pertenciam ao Conselho de Repúblicas e à DG AAAC da “Lista E” com António Vigário .

Um noite tínhamos vindo de um intercambio com a Universidade de Parma em Itália,,1994 com a AAC e depois quando viemos vieram também os estudantes italianos. Nunca tinham estado num República assim. Então, a malta com os da casa improvisámos um Jantar com uma sangria improvisada com dois garrafões de bagaço que um tinha trazido da terra. Tinha mais bagaço, que vinho e gasosa. Ficaram com uma Bebedeira de caixão á cova.! Um casal até que se andava a enamorar foi ali que se desinibiram logo e houve palmas e rudo com os primeiros beijos na sala, por baixo das Pinturas do Marx e do Zeca Afonso. Casal Italiano abençoado no Bota!

Com o edifício bastante degradado, foram realizadas entretanto importantes obras de recuperação que incluíram apoios da Câmara Municipal de Coimbra.

Real República do Spreit-O-Furo: Situada na Ladeira do Seminário desde, talvez, o ano de 1951(?). Uma das praxes iniciáticas incluía descer a ladeira todo nu. Estive uma vez lá numa noite de comemoração das eleições ganhas pela Lista E à qual pertencíamos para DG AAC.

Real República do Prá-Kis-Tão. Está talvez, na casa mais bilhete postal da cidade, a ‘Casa da Nau’, edifício quinhentista, Imóvel de Interesse Público, onde anteriormente já havia existido a República Transatlântica. A casa era pertença do Dr. Abílio  Roque por Herança.  Com uma espírito tal que fomentou a criação de obras como ‘O Romance de Coimbra’, de Fernando Correia, editado no ano de 1932. Como visitantes encontram-se o escritor brasileiro Erico Veríssimo e Marcel Marceau. Costumam promover debates sobre temas quentes da sociedade portuguesa e europeia em geral. A sua convivência com   Álvaro Inácio influíra imenso no seu espírito. Mais do que os livros de Tolstoi, de Gorki, de Grave, de Marx e Kropotkine, que enchiam as estantes do seu companheiro de casa, influíra nele a palavra e a vida do Álvaro” Creio que quem esteve na casa foi o pai do meu amigo Tiago Magalhães, o Historiador Romero Magalhães

Real República dos Inkas.: Pertence à na Rua da Matemática em 1954, sendo um dos seus membros Miguel Cardoso, um dos fundadores da ‘Clepsidra’.

Real República dos Pyn-Guins: Seria fundada por semi-putos e putos, isto é, por segundanistas e terceiranistas junto ao Penedo da Meditação mas era uma República não oficializada do ano de 1952 a 1954. Depois, foi para a Rua Venâncio Rodrigues e posteriormente para a Rua Henriques Seco, nas traseiras do Liceu D. João III, actual Liceu Nacional José Falcão.

Real República Boa-Bay-Ela: Curiosamente teve na sua fundação maioritariamente alunos de Medicina da região de Aveiro e instalou-se  na Rua João Pinto Ribeiro em 1956, também junto ao  Liceu D. João III, actual Liceu Nacional José Falcão, mas do outro lado do Edifício, o lado oposto

Por ali passaram como visitantes a actriz brasileira Cassilda Becker e Fernandel além do cirurgião sul-africano Christian Barnard. Do meu tempo, passaram por lá o Coxo, de Economia, O Mário, O Rui Mário, creio que de Direito, O San Bento, que chegara ser Juiz e morreu cedo, no início de Carreira, o Petruska, de Medicina. Um Jaime que era de Lisboa e nunca mais apareceu. Parecia o Lucky Luke sempre de gabardine e cigarrinha na ponta do lábio, cabelo igual ao boneco, o meu amigo Carlos Patinho de Medicina Dentária, o karoka, o Chaparrinho, o Rolinha, o Madeiras, estes, de ciências, creio. Fui a muitos centenários até de manhã aqui. E a Jantaradas de Semana…

Solar dos Kapangas: Entre os anos de 1957e 58 ficou  instalada  na Rua Pinheiro Chagas e hoje  encontra-se sediada na Rua da Mãozinha desde 1961 e 62. Fazia vizinhança com antiga casa da minha avó materna, mesmo ao lado.

Real República dos Corsários das Ilhas: Também está Instalada num edifício quinhentista mas na Couraça dos Apóstolos e foi fundada curiosamente por

estudantes de origem açoriana, sendo uma das Repúblicas que melhor preservou o seu património de murais, decretos e cartazes. Actualmente assume-se como uma República não-Praxista.

Real República Rapó-Taxo:  Antes de passar para o Bairro Sousa Pinto em 1969, seria fundada na Rua Pedro Monteiro no ano de 1962.  O facto de ter duas entradas, pelo Bairro Sousa Pinto e Rua Venâncio Rodrigues, contribuiu para uma ligação activa aos movimentos académicos.

Solar Residência dos Estudantes Açoreanos: tendo sido fundada na Rua

Trindade Coelho em 1961-62, instalaram-se na Rua António Vasconcelos desde o ano de 1966. O contrato impede que se passe do título de residência para o título estatuto de República.

República do Farol das Ilhas. Primeiramente estava na Rua Teixeira de Carvalho desde 1962 com alunos provenientes da ilha da Madeira. Um dos seus fundadores foi Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira.

Real República Ninho dos Matulões: Sedeada   na Avenida Bissaya Barreto, esta República passou por diversos locais. Se Bissaya Barreto criou o Ninho dos Pequeninos, estes estudantes criariam o Ninho dos Matulões.  Ainda guardam e mantêm um copiógrafo, impressora clandestina onde muitos folhetos de contestação académica foram impressos, dos movimentos académicos. Com o 25 de Abril dá-se uma forte adesão dos membros ao PCP, situação que se mantém até aos dias de hoje fazendo escola. De alguns nomes, o Dr. Manuel guerra ligado ao Teatro e Artur Jorge, então estudante de letras em germânicas, jogador de Futebol da AAC e Benfica e treinador do FCP e Benfica. Durante muito tempo seriam anti-praxistas. Hoje consideram-se não praxistas, apenas. Lembro-me do Cruz. Nunca mais o vi.

República 5 de Outubro. Primeiramente, em 1967, estavam na Rua de Aveiro e depois transferiram-se para a Avenida Bissaya Barreto. A sua criação foi vincadamente politica de oposição ao regime de Salazar e anti-praxista. Da 5 de Outubro creio que era o Professor agora de Teatro, o Kalash.

Real República Kimbo dos Sobas. Desde o ano de 1968, situada na Rua Antero de Quental e fundada por angolanos e alguns filhos de portugueses em Africa. Um dos seus fundadores foi Celestino Costa que foi primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, o poeta angolano Manuel Rui que chegou a pertencer ao governo Angolano e   Fernando Martinho e muitos outros nomes,  Havia muitas ligações destes estudantes aos movimentos dos independentistas de libertação nacional dos países africanos e de alguns partidos nomeadamente o MPLA em Angola, PAIGC, Cabo Verde e Guiné e Frelimo, Moçambique. Mas mais do MPLA de Angola. Aí esteve também o Victor Lamas. Por aí passou o escritor brasileiro Jorge Amado.

Real República dos Fantasmas: Está  Instalada no Bairro Sousa Pinto desde 1972 e na década de noventa foi seu membro o deputado do PSD Emídio Guerreiro, de Psicologia, Maestro da “Orxestra Pitagórica” da Secção de Fado da AAC e   ex. Presidente  da DG AAC, sobrinho neto do histórico Maçon e oposicionista ao Estado Novo de também de  nome Emídio Guerreiro, Fui a muitos centenário daí que era logo ali  ao caminho do Club de Rugby, E de ver num deles um cantar á desgarrada de uns velhos de Ponte de Lima que eles tinham convidado par vir que foi um espectáculo sempre de improviso.

Real República Rosa Luxemburgo: República feminina instalada na Rua Correia Teles desde 1972. Inicialmente assumidos anti-praxistas são actualmente não-praxistas.

Solar do 44: Desde 1983 na Rua da Matemática. Era um solar  que já existia como casa comunitária, cerca de vinte anos,  desde 1963. O seu estatuto de solar adveio do apoio do Reitor perante uma ameaça de expulsão.

República da Praça: Mesmo no centro da Praça da República desde o ano recente de 1989. Porém, teve origem numa casa comunitária já desde 1959.

Ceio que também pertenceu à casa foi o Ex Presidente da DG AAC, José Viegas, ligado a sectores do PS. Devido aos rotineiros excessos boémios da República, o senhorio tentou por vários meios despejar os estudantes, chegando ao ponto de cortar a água. No seio de uma espírito pragmático e par a chamar a atenção dos “Futricas” o de fora da academia, a população em geral e a opinião publica da cidade os seus membros chegaram a ir buscar água aos fontanários do Jardim da Sereia. A Reitoria interveio e o Professor Barbosa de Melo passou a ser o titular do contrato de arrendamento.

Solar das Marias do Loureiro: Feminina, Anti-Praxe, sediada na Rua do Loureiro. Crio que a Filipa Alves, irmã da Sandra, da Casa da Esquina, era das Marias.

Solar do Kuarenta: instalado na Rua da Matemática desde o ano de 1975 apenas seria   reconhecido já no ano de 1994. Assume-se como Anti-Praxe.

A Clepsidra, Por volta de 1970 era criada   uma   cooperativa   de   consumo   frequentada   por   estudantes   ligados   às repúblicas e ao movimento associativo. Noites de copos até às tantas.  A Clepsidra começou a rebentar pelas costuras, a entra na moda da Bohemia coimbrã com a afluência de sócios e não sócios. m museu de instrumentos musicais. O Pino era do meu próprio pai que lhe perdeu um rastro. Contudo parece-me que foram os meus irmãos que o partiram uma noite ou acabaram com os que já estava todo partido

Era eu muito pequeno e lembro-me de lá ir e acho que foi lá o lançamento dos Disco da Brigada, quem sai aos Seus. Eu devia ter aí uns 10 anos. A Clep também era sala de ensaio. Como diz João Figueira no Livro, Espaços Perdidos, Coimbra, Minerva, 2008 e cita nomes que eu conheci desde muito criança :”Né Ladeiras,  da  primeira Brigada Victor Jara, nesse  “Eito Fora”. Houve o encerramento da cooperativa em que se afirma que senhorio movera um processo de despejo por desvio dos fins da cooperativa. Cooperativa de consumo para abastecimento das Repúblicas de estudante ter-se-ia  transformado  noutra  coisa  qualquer. O Juiz  não  queria despejar os estudantes, mas  quando fez uma visita às  instalações  para  avaliar, in  loco,  se  a instituição abastecia ou  não  os  cooperantes, só encontrou  amendoins  além  de equipamento e de produtos  próprios de um estabelecimento de cafetaria, diz João Figueira Nos   momentos  mais  inquietos,  nos  momentos  de  maior  incomodidade,  a “Clep”  também  contou   professores  universitários  entre  os  seus  frequentadores, Orlando de Carvalho e Joaquim Namorado, na mesa que fica mais perto do telefone.

Finalmente, aquela República com que tenho mais afinidades por questões familiares, de amizade e conhecimento: A Real República Palácio da Loucura. Fundada no ano de 1953 na Rua das Flores, onde já existira a República Algarvia e a República dos Sovietes. Os seus membros acabaram despejados por coação da vizinhança em resultado dos ambientes tertuliares noites-dentro, acabando por se estabelecer depois na Rua Antero de Quental.  O líder dos seus repúblicos é designado, devidamente, ‘Louco-Mor’. Nomes como os irmãos Araújo Correia, Camilo e João, o primeiro de Medicina, o segundo de Direto, filhos do escritor João Araújo Correia, Camacho Vieira de Medicina, posteriormente Médico da Selecção Portuguesa de Futebol, ainda nomes que eu conheci. Os Irmãos Loff, fundadores, Herberto Hélder., o grande Poeta Português, muitos dizem ser o maior poeta contemporâneo pós Pessoa, que recusou o Prémio Pessoa que lhe foi atribuído, O meu pai, Louzã Henriques, de Medicina, era lá comensal. O “Mor” era o Ataliba, de Medicina. Depois Mor, o Flávio Sardo que conheci bem, de Direito. Era o Pantera, o Dr. Gil Agostinho, Médico radiologista bem conhecido na cidade, o Ribau, o Zagalo, o Lacerda, também de Direito, Advogado de Lamego, o Dr, Diamantino Henriques, o  Dr José Vitória, Professor Catedrático de matemática e o Dr. João Poiares, também Prof. Catedrático de Farmácia e  muitos outros dessa geração. Muitos já cá não estão, os dessa geração. Mas ainda os conheci bem.

Posteriormente, o Dr. Pio de Abreu, Psiquiatra, Celso Cruzeiro activista estudantil de grande relevo e de Direito, o Dr. Miragaia também de Direito, malta que também conheço muito bem e Proença de Carvalho, famoso advogado entre outros. De outra geração, nos anos oitenta, conheci bem o amigo estudante de Direito Paulo Vaz de Carvalho e que seguiu mais a carreira  de Professor Universitário de Música, O João Curto, Psiquiatra, o Julinho, o Zé Leite, O Rui Leite,  o Orlando, o Julinho .Estes não sei de que curso, e o filho do Flávio Sardo, o Delfim Sardo,  meu amigo, então estudante de Filosofia ,hoje crítico de Arte de Renome .professor de História de Arte Contemporânea na Universidade de Coimbra e que foi director do Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém e consultor da Fundação Calouste Gulbenkian e actualmente assessor da Culturgest para as Artes Visuais, o Rui Mário Lacerda que andava em Engenharia Civil, filho de outro palaciano que já disse, o João Lacerda, o Rui Leite, e o meu amigo músico que era da Brigada Victor Jara , o Ricardo Dias. Não sei se a Aurélia Madeira pertenceu, mas estava lá sempre. Mas houve muitos, muitos mais.

A minha festa de Formatura foi lá, no terraço de cima com uma grande febrada no Terraço do 1º andar, que designaram por Jardins Suspensos. Consumiram-se nesse final de tarde e noite de Verão, em Junho, 3 barris de cerveja, um tacho de litro de Sangria e ainda mais 2 barris de cerveja que ainda fui buscar a meio da noite ao bar Restaurante bar de um amigo meu. Festa aberta, de porta aberta como se quer nas Repúblicas. Foi lá que o Gefac também fez uma homenagem ao meu pai.

Fui desde novo, criança a todos os centenários e milenários, pela juventude e Estudante, Lembro-me dos Centenários como o  Prof. Orlando de Carvalho, como o Dr. Ferrer Correia, o Dr. Luzio Vaz, vice-reitor para  dos Serviços Socais da Universidade, o Dr. Avelãs Nunes, creio mesmo que com a presença ainda do Dr. Paulo Quintela que ainda conheci em pequeno, com o Dr. Rui Alarcão, Reitor da UC e que ainda foi meu, nosso, Reitor nos anos  90 e nos deu todo apoio com a Luta anti propinas ondo ao nosso lado o Senado da Universidade .Lembro-me ainda da presença do caro Lopes de Almeida e de conhecer lá o Carlos Candal dirigente associativo da Crise de 62 e mais tarde do PS.

Os Centenários eram um fenómeno com o povo Estudantil a vir para a rua cantar e  tocar ao som dos músicos da Brigada Victor jara e do Gefac. Também a bailar.

O Palácio era muito ligado a dois Organismos da Associação Académica, O TEUC, Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e GEFAC, Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra e por inerência à Brigada Victor Jara. Muitos estudantes iam para o TEUC e o GEFAC, organismos culturais da academia.  Por ali passaram muitos os de Letras, cultura, espectáculo e Ciências.  e Miguel Torga, muitas vezes, enquanto convidado.  Comemorado no ano de 1985, o seu 50º Centenário, contaria com a presença do Magnifico Reitor e Governador Civil. Os centenários, sempre de porta Aberta ao Povo.

O Hino é :Na Rua Antero de Quental ao vinte e um/ Está o Palácio da Loucura,/ Onde a malta sem excepção de nenhum/…

Leva a vida menos dura ....Viva a Real República Palácio da Loucura.

O grito será :É Palácio ...   É Palácio…. loucura; pontapé no cura; pontapé no cura… chiça penico. chiça penico. chiça penico! E ogrito e vir para mesa é À Pà- lha!!!

Herberto Hélder numa das paredes do seu quarto escreveu um dia “ O Senhor do Monóculo. E reza assim: “O senhor do monóculo, usava uma boca desdenhosa, e na botoeira, a insolência duma rosa. Era o poeta. Quando passava - figura subtil e correcta, toda a gente dizia que era o poeta. - Era, portanto, o poeta...Mas um dia, o senhor de monóculo quebrou o monóculo, guardou a boca desdenhosa, e esqueceu na mesa de cabeceira a flor que punha na botoeira, a insolente rosa... Entrou nas tabernas e bebeu, cingiu o corpo das prostitutas ,jogou aos dados e perdeu, deu a mão aos operários, beijou todos os calvários- e aprendeu. E o mundo, que o chamava poeta, esqueceu; e quando o via passar limitava-se a exclamar: - o vagabundo! Mas o senhor do antigo monóculo, da antiga figura subtil e correcta, sentia vozes dentro de si, vozes de júbilo que diziam: - É o Poeta! É o Poeta!..(Herberto Helder), Tantas vezes vi esse poema na letra da parede!

Na sala, ainda há pouco tempo estava lá em cima da estante da Televisão um Busto de Lenine. E sobre a parede da sala a célebre pintura do artista plástico e cenógrafo, Tóssan, chamada “Ceia Louca” com uma mesa virada de pés para o ar, do avesso.

Na sala de jantar de Minha casa tenho uma pequena salva de prata trabalhada no bordo com figuras florais e no centro o símbolo da República que diz por baixo, gravado. Ao Manuel Louzã Palaciano de Sempre…. Homenagem de Todos os Palacianos, 03.08.1957, faz agora precisamente 64 anos, uma vida, uma reforma. Está guardada e exposta aqui na sala a Salva. Do seu lema Heroico “Nunca tão poucos deveram tanto a tantos” Numa das paredes de um quarto,  Júlio Roldão, também Poeta, escreveu:

 “ Em Coimbra meu amor, a Loucura tem um Palácio!

( Luís Louzã Henriques, Coimbra, Agosto, 2012)