De novo com Idalécio Cação

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Uma vez mais, após a visita à feira da Tocha, voltei a “encontrar-me” com o escritor, num restaurante do Escoural, onde frequentemente ele se ia deliciar com a broa quente e o bacalhau assado com batatas a murro, manjar que deixou testemunhado naquela sua crónica “ A boa comida gandaresa”. Também esse foi o meu almoço nesse dia, tendo ouvido, no decurso do mesmo, palavras elogiosas à figura simpática e dialogante daquele antigo cliente. Essas palavras de recordação tocaram-me particularmente ao serem proferidas por Oksana, uma funcionária Ucraniana que ali trabalha há 18 anos e com quem o Professor, como era tratado, sempre conversava, querendo saber coisas da terra de onde ela viera e da sua integração e da família. Quanto ao restaurante, está “como ele o deixou!”: o mesmo ambiente, a mesma confecção, a mesma disposição das mesas, o mesmo apetite dos clientes, o mesmo convívio, e até o mesmo estacionamento, paredes meias com a casa e o quintal do Engº Manuel Ribeiro, que já naquele tempo era um amigo comum. E quem por cá não conhece este exímio tocador de guitarra e, nas horas livres, mestre artesão de instrumentos de corda, como um dia o referenciou com veemência o célebre Inesiano, Paulino Mota Tavares, também ele do clube destas coisas da cultura! Assim eram as notícias que  ia dando ao nosso ditoso autor do Glossário de Termos Gandareses - meu breviário de mesinha de cabeceira -, enquanto esgalhava com a mão mais um, outro e outro bocado à broa que tinha à frente e continuava quente. Ainda agora, parece que o ouço a rir, ao lembrar-me para não a cortar com a faca, senão quando ficasse fria, pois uma crença antiga aqui na Gândara vaticina que o homem que tal fizer fica sem força para as mulheres! Com o meu interlocutor, falei ainda da sementeira da floresta que está finalmente a acontecer, depois de tantos anos do fogo. E dei-lhe conta que a areia está agora limpa de infestantes e se apresenta branca e sulcada de regos à espera do penisco. Dentro em pouco, eu estava de regresso. Ao dirigir-me para o carro, porém, fui surpreendido com duas placas de estacionamento reservado para o Clube União 1919. Intrigado com a questão, a resposta não tardou, tudo se resumindo ao facto de, actualmente, um grupo de aficionados e antigos jogadores do União de Coimbra, dos quais faz parte Rui Moço, dali natural, terem decidido almoçar, às quintas-feiras, naquele restaurante, e tomado eles próprios a iniciativa de colocarem as placas! É evidente que o lema “Vai tudo”, se mantém! E eu pensei: Se Idalécio Cação fosse vivo e de tal soubesse, por certo, já estava filiado neste clube!

António Castelo Branco   

Imagem retirada da net