A “venda da pasta” na Queima das Fitas
Desde há dezenas de anos que, durante a Queima das Fitas, se reserva em Coimbra um dia dedicado à “venda da pasta” , cuja receita reverte a favor da Casa da Infância Elísio de Moura.
As “pastas” que se vendem são pequenos livrinhos com poemas e as cores das Faculdades. Durante muitos anos conseguiram-se verbas muito interessantes: os estudantes e a população não era abonada, mas colaborava; hoje… já nem tanto.
Há valores que se vão perdendo, o que é pena.
Sobre o início do “peditório”, eis um bonito texto:
Por
Ricardo Figueiredo Crédto ao curso do conhecido Pantaleão, iniciador desse acontecimento e que tanta felicidade dava às meninas do Asilo, por um dia, almoço e lanche, contato com o público e alguma ajuda financeira à Nobre Instituição.
Com a devida vénia a:
https://tunauc.wordpress.com/.../henrique-pereira-da-mota/
Indissociável da boémia académica coimbrã, o carismático Henrique Pereira da Mota pertenceu ao “Curso Médico de 1931-1932, o qual se celebrizou por ter instituído a venda da Pasta em benefício do Asilo da Infância Desvalida”[20] no programa da “Queima das Fitas” de Coimbra de 1932.
Sobre esta novidade programática, transcreve-se um excerto jornalístico:[21]
“Ontem [25 de Maio de 1932], foi o «Dia do Quintanista». Dia de colheita de donativos para uma obra altamente simpática: o Asilo da Infância Desvalida.
Os quintanistas, com as suas pastas de luxo, andaram por aí, de rua em rua. Acompanhavam-nos as criancinhas alegres, sadias, do Asilo. Aquelas criancinhas que o Dr. Elísio de Moura e sua Ex.ma Esposa acarinham, desveladamente, educando-as, preparando-as para a vida.
Elas pediam – e todos davam, pouco ou muito. Em troca, as mãozinhas débeis das asiladas – muito asseadas nos seus fatinhos – entregavam pequenas pastas, com as fitas de todas as Faculdades.
Por aí andaram todos, de manhã à noite, em ranchos.
Uma nota curiosa: os drs. Jorge de Morais e Henrique da Mota – os impagáveis Xabregas e Pantaleão da Coimbra boémia – vieram para a rua, de guitarra e viola, a tocar e a cantar, ao desafio – como os cegos. Acompanhava-os o «Dim-Dim»[22], puxando um carro de mão, e duas criancinhas. E, assim, arranjaram de tudo: brinquedos, géneros alimentícios e dinheiro. Todos os recebiam de braços abertos. Na rua, havia magotes, para os ouvir. E o dinheiro ía caindo, milagrosamente, nas saquitas das asiladas. (…)”
[20] “A Voz da Justiça”, Figueira da Foz, Ano 36.º, n.º 3554, 29 de Maio de 1937, p. 1
[21] “Diário de Coimbra”, Coimbra, Ano III, n.º 699, 26 de Maio de 1932, p. 4
[22] Adenda: Refere-se a Alcino Marques Mano, conhecido por «Dim-Dim», de acordo com “A Voz da Justiça”, Figueira da Foz, Ano 36.º, n.º 3563, 30 de Junho de 1937, p. 4
Henrique Pereira da Mota (com viola) e Jorge Alcino de Morais (com guitarra) na primeira “Venda da Pasta” da “Queima das Fitas” de Coimbra, em favor do Asilo da Infância Desvalida (25 de Maio de 1932)[23]
Ver também
https://tunauc.wordpress.com/arquivo/bau-de-memorias/tunos-tt/henrique-pereira-da-mota/
Fotografia: © UC | Marta Costa