A QUESTÃO DOS TROLEIS DE COIMBRA PASSARAM DE MODA?
No ano passado, em 2024, a discussão foi grande e, inclusivamente, com alguma violência entre a oposição e o executivo da Câmara de Coimbra sobre o fim ou não dos troleicarros em Coimbra. A ponto da oposição, eleita pelo PS, chamar ao atual presidente da Câmara de Coimbra “coveiro dos tróleis”. Mas isto apenas em 2024.
Se em 2024 houve crispação de ataques partidários, em 2025 parece que se perdeu o interesse por este assunto. O Ponney entende que esta questão é importante demais para ficar perdida como se fosse um assunto que passou a “fora-de-moda”. Por isso vamos lembrar e reavivar esta discussão.
A verdade é que já foram retiradas muitas das infraestruturas da rede que permitia a circulação dos tróleis em Coimbra pela Infraestruturas de Portugal (IP). O caso da retirada de catenárias (que são sistemas de cabos para a distribuição e alimentação elétrica aérea dos tróleis) pela IP provam que se os tróleis não acabam em Coimbra, estão a ser completamente reduzidas as linhas e comprometida a sua utilização. Aqui a responsabilidade é da Câmara Municipal de Coimbra que define as linhas dos transportes municipais.
Ana Bastos, vereadora da Câmara Municipal de Coimbra com o pelouro dos transportes municipais, disse no ano passado que “a retirada das catenárias tem a ver com o andamento dos trabalhos da empreitada do Metrobus que obriga a retirar toda a infraestrutura de rede de tração”. Acrescentando, na altura, que “mesmo que o trólei volte a funcionar não poderá usar o mesmo corredor do Metrobus”. Sendo vontade do executivo substituir um sistema de transporte elétrico por outro que inicia com infraestruturas mais caras ao erário público.
A vereadora, em 2024, garantiu que ainda não tinha sido tomada qualquer decisão definitiva sobre o fim dos tróleis, a autarca revelou que a intenção do município é manter os troleicarros, mas num registo mais voltado para o turismo. “Os tróleis têm uma história com mais de 100 anos em Coimbra e que não pode morrer de um dia para o outro”. Espera-se que, também, não seja uma morte lenta. Tendo sido uma questão que perde pelo esquecimento.
O argumento para o anunciado fim das linhas dos tróleis é claro e afirmado pela vereadora, Ana Bastos, quando disse que o uso dos troleicarros servirão apenas “para o setor do turismo e da cultura, não como uma rede de transportes coletivos, porque em termos de operação é muitíssimo mais caro.” Sendo de manutenção cara vai, alegadamente, sendo um argumento para pôr fim aos tróleis em Coimbra, pois a vereadora acrescenta “custa o dobro de um autocarro normal” quando se refere aos troleicarros. Alegadamente por esquecimento, não referiu os custos que comportam os do Metrobus.
A verdade é que o característico transporte de Coimbra, que chegou a ser inovador na sua inauguração em 1947, pela sua maior velocidade e se manteve mais anos a circular na cidade de Coimbra está a ser, propositadamente ou não, esquecido.
A realidade é que já tinha deixado de circular em 2017, por causa da construção da Praça Princesa Cindazunda, na Avenida Fernão de Magalhães. Na altura, conforme noticiado, o então autarca Manuel Machado revelou que os tróleis e a rede estavam em reparação. Voltariam a circular depois, mas apenas cinco, de um total de 12, sendo que os excedentes “ficaram para peças.” Voltaram à estrada em 2018, mas no final de 2020, as obras na zona do Arnado fizeram-nos recolher aos SMTUC na Guarda Inglesa onde permanecem em abandono.
O Ponney lembra que a frota de tróleis conta com cerca de vinte unidades, de construção Salvador Caetano / EFACEC, aos quais foi recentemente acrescentado um modelo Trolino da marca Solaris; em 2003 foram adotados dois tróleis do Porto que estavam destinados para o museu dos transportes do Porto.
Continua a não se saber há quanto tempo já estava definida a retirada das linhas dos tróleis em Coimbra pela IP. Sendo que tanto o executivo anterior como o atual não estavam muito dispostos a manter a linha dos troleicarros em Coimbra dado que, alegadamente (não se tem informação para comparação de custos), teriam “um custo muito alto”.
O Ponney propõe relatar os argumentos a favor e contra dos troleicarros em Coimbra. Sendo claro que os troleicarros são de particular importância para cidades escarpadas ou montanhosas, como é característica da morfologia de Coimbra, onde a eletricidade é mais efetiva que o diesel na hora de subir colinas; para além disso, têm maior aderência que os elétricos.
ARGUMENTOS A FAVOR DOS TROLEICARROS
1_Os troleicarros, tal como todos os veículos elétricos, são vistos frequentemente como um meio de transporte menos poluentes que os autocarro de combustão, que consomem hidrocarbonetos e emitem gases.
2_Outra vantagem que raras vezes está presente em outros veículos (exceto alguns turismos híbridos) é que podem gerar energia elétrica a partir da energia cinética quando travam ou vão encosta abaixo num processo chamado travagem regenerativa. Sugeriu-se que os troleicarro se tornarão obsoletos numa economia de hidrogénio. Contudo, a transmissão direta de eletricidade, como a usada no troleicarro, é muito mais eficiente que a produção, o transporte, o armazenamento e o aproveitamento energético do hidrogénio em células de combustível num fator de 2,2 a 1, e muito menos perigoso.
3_A vantagem para uma imagem característica de Coimbra deve fazer parte de investimento no turismo do concelho de Coimbra.
4_É um transporte municipal sustentável e fora do que é usado.
ARGUMENTOS CONTRA O USO DE TROLEICARROS
1_Se o troleicarro se separa acidentalmente da catenária, pára. Pelo mesmo motivo, os trajetos possíveis se limitam aos trajetos com catenárias instaladas. Contudo, pode-se incorporar uma bateria ou um motor térmico convencional para permitir uma maior versatilidade.
2_Se repentinamente ocorre um corte elétrico não funcionarão (a menos que contem com uma fonte de reserva como uma bateria ou um motor auxiliar).
Nos anos setenta, os autocarros a diesel foram mostrando maior eficiência no transporte de passageiros. Mas na altura não havia a relevância do combate à poluição como hoje é colocada. Por isso foi pensada e usada cada vez mais autocarros elétricos e a solução de um “MetroBus” aparece agora com um investimento enorme.
A questão que se coloca é se o enorme investimento com o “MetroBus” dentro da cidade (dado que a ligação entre concelhos no distrito de Coimbra é perfeitamente necessária) justifica o fim da linha dos tróleis em Coimbra. Pois as infraestruturas dos troleicarros já estavam anteriormente montadas e estão a ser usados autocarros elétricos em paralelo.
Por outro lado, a questão que foi colocada, em 2024, pela oposição ao atual executivo deve ser completamente transparente sobre o fim que irá levar o cobre e o aço das linhas desmanteladas ou a desmantelar. O Ponney fez contas por alto e só para o cobre o valor ronda os 120 mil euros para uma das linhas que vinha da rua do Brasil até ao antigo “bota-a-baixo”.
É necessário que haja transparência sobre o fim destes materiais tão caros e não deixar cair no esquecimento algo que todos vamos pagando.
JAG
20-06-2025