A CAPELA DE NOSSA SENHORA DA ESPERANÇA

Capela-de-Nossa-senhoras-das-Esperancas.png

 A capela de Nossa Senhora da Esperança está no morro com a mesma invocação, na margem esquerda do Rio Mondego, acima e a pouca distância do mosteiro de Santa Clara a Nova, de cuja construção, no essencial, é contemporânea.

Neste local, existiu uma capela mais antiga, mas que por estar arruinada e já não servir a população, por ordem régia de D. Pedro II, foi substituída por esta nova, que importou em 12.000 cruzados; foi concluída em 1702. Manuel do Couto, ao tempo com várias empreitadas na cidade, quer na Universidade quer em colégios, foi o autor da sua traça e talvez quem dirigiu as obras de construção, pois nessa altura era ele que construía o vizinho mosteiro novo de Santa Clara.

Exteriormente, a capela de Nossa Senhora da Esperança é muito simples. A frontaria é plana, com o corpo inferior quadrangular, marcado nos ângulos por pilastras da ordem toscana simplificada, com uma porta estreita com breve molduração e verga ornada com símbolos religiosos, ladeada por duas janelas rectangulares de molduras de calcário da região. A empena, é triangular, com entablamento recto na base, igualmente moldurada e também da ordem toscana simplificada, abrindo-se um óculo modesto no tímpano, e tendo de cada lado dois pináculos paralelipipédicos. Encima-a uma pequena cruz.

As fachadas laterais, com amplas janelas no alto, e com a do lado sul também com uma porta simples virada à cidade, seguem o mesmo modelo, avultando apenas as pilastras da zona final da nave, muito desenvolvidas e bem desenhadas, sendo a capela-mor mais baixa e excedendo largamente o corpo, como se fosse uma redução deste. Do lado sul, fica uma pequena sacristia, visível do exterior. Toda a capela é rebocada e caiada a branco, sendo bom o efeito do contraste com os elementos de desenho clássico em calcário amarelo de Bordalo do entablamento, pilastras, pináculos e molduração dos vãos.

O interior tem uma só nave e uma cabeceira apenas com uma capela igualmente rectangular, a que se acede por um amplo arco de cantaria e de volta perfeita, tendo de cada lado um nicho com duas belíssimas esculturas barrocas de madeira dourada e policromada, do início do século XVIII. Todo o topo do lado da cabeceira está revestido de azulejos de padronagem azuis e brancos, certamente de fabrico lisboeta. O mesmo se passa na capela-mor, que é abobadada e tem duas janelas laterais, e um lambril de azulejos até à empena.

As paredes laterais da nave são também revestidas de azulejos, do mesmo tipo dos que referimos anteriormente, e têm altares de talha barroca com altos-relevos na zona central, da época de D. Pedro II, como o mor, no chamado “estilo nacional”. Formam um conjunto invulgar, raro em edifícios secundários, e estão ligados estilisticamente aos da igreja do mosteiro de Santa Clara-a-Nova, executados pelos entalhadores portuenses António Gomes e Domingos Nunes,

O altar-mor é um excelente exemplar do “estilo nacional”, com colunas e arquivoltas helicoidais cobertas de folhagem, anjos e meninos, com um dourado notável. A grande escultura de Nossa Senhora em pedra calcária policromada que está no trono é atribuível ao escultor gótico conimbricense Diogo Pires-o-Velho, que a terá executado nos últimos anos do século XV.

Pedro Dias