O Silêncio e a Palavra
Um dia o silêncio e a palavra começaram a andar de mãos dadas. Tinham cruzado o som naquele instante em que o acaso se eterniza com a convicção da simplicidade. Percorriam os dias lado a lado, impercetivelmente. As mãos davam-se sem serem apercebidas pelos outros. Como poderiam esses compreender tal estranheza?
Ele era silêncio profundo, flutuando por cima da confusão, era recolhimento e solidão, carregando uma intensidade de sentimentos exacerbados.
Ela era luz, arrebatamento. Companhia, ruído. Não era uma palavra concisa, comedida. Dela saíam, constantemente, muitas pequeninas palavras. Alegres, tristes, de mágoas e de alegrias, atropelando-se na ânsia de chegarem antes das outras. Mas não uma daquelas palavras que falam muito sem dizerem nada.
Ele sussurrava-lhe coisas ao ouvido, gostava da voz dela. Ela iluminava o dia dele, fazia-o saltar nas letras. Ele continha o coração no silêncio, ela traduzia-o em palavras. Arquitetavam vidas imaginárias, encontrando-se num espaço de difícil equilíbrio, mágico, suspendendo o tempo.
Até quando?
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