INFEÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EXPLODEM NA EUROPA

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O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) aponta para uma “onda preocupante” de infeções por clamídia, gonorreia e sífilis por toda a Europa.

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) estão a espalhar-se rapidamente na Europa. De acordo com vários relatórios publicados no dia 7 de Março, deste ano, pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), os relatos de infeções bacterianas por clamídia aumentaram 16% entre 2021 e 2022; o aumento atingiu os 48% para gonorreia e 34% para sífilis. Estas três Infeções Transmissíveis Sexualmente (ITS) causaram, respetivamente, 216.000, 70.000 e 35.000 casos confirmados em 2022.

Durante o período de maior preocupação de Covid-19 marcou uma paragem na deteção, depois dos níveis pré-pandémicos, os números foram agora amplamente excedidos.

O ECDC registou uma “onda preocupante” e de uma “necessidade urgente de aumentar a sensibilização”. A diretora da agência, Andrea Ammon, apelou, durante um comunicado de imprensa, para que se “possa dar prioridade à educação em saúde sexual, expandir o acesso ao rastreio e tratamento e combater a estigmatização” das pessoas infetadas. Segundo a diretora Ammon é necessário, “promover o uso consistente de preservativos e incentivar o diálogo aberto sobre as IST. Pois só assim se pode ajudar a reduzir as taxas de transmissão que já começam a ser alarmantes”.

O estudo salienta que se sabe como tratar a clamídia, a gonorreia e a sífilis e que, se não forem tratadas, podem levar a “complicações muito mais graves”, como inflamação pélvica ou dor crónica. A clamídia e a gonorreia também podem causar infertilidade. A sífilis pode causar distúrbios neurológicos e cardiovasculares, bem como “efeitos adversos graves” nas crianças, se as mulheres grávidas estiverem infetadas.

É difícil comparar países, pois o ECDC não dispõe de todos os números de cada uma das trinta nações abrangidas pelo seu âmbito, referentes aos 27 países da União Europeia, mais o Liechtenstein, a Islândia e a Noruega. Não havendo dados da Áustria e com números muito fragmentados vindos da Alemanha.

Entre os países para os quais foi possível calcular uma taxa de prevalência, as duas nações mais afetadas pela clamídia (doença sexualmente transmissível causada pela bactéria “Chlamydia trachomatis”) são a Dinamarca e a Noruega, com respetivamente 709 e 539 casos por cada 100.000 habitantes. Em termos absolutos, o maior número de casos de infeções por clamídia foi registado na Dinamarca com 42.000.

As doenças sexualmente transmissíveis aumentaram em 2022 e afetam principalmente os mais jovens. A clamídia é predominante nas mulheres entre os 20 e os 24 anos e aumentou 72% entre os homens. A notificação de casos de clamídia subiu em Portugal, de 914 casos em 2021 para 1.501 casos em 2022, e em relação aos países da UE/EEE foram notificados 216.508 casos confirmados de infeção por clamídia em 2022, com uma taxa bruta de notificação de 88 casos por 100.000 habitantes, mais 16% do que a taxa de 2021.

A maioria destas notificações de clamídia refere-se a mulheres com idades entre os 20 e os 24 anos, apesar de, entre 2018 e 2022, o número de casos de clamídia também notificados como transmissão entre homens que fazem sexo com homens (HSH) aumentar 72%.

Registaram-se 70.881 casos confirmados de gonorreia em 2022, com uma taxa bruta de notificação de 17,9 casos por 100.000 habitantes, um aumento de 48% na taxa comparando com 2021 e de 59% com 2018. A prevalência da gonorreia (Doença sexualmente transmissível causada por gonococos, caracterizada por inflamação purulenta da uretra e prepúcio no homem, da uretra e vagina na mulher) é elevada, especialmente na Irlanda e no Luxemburgo (75 e 74 casos por cada 100.000 habitantes).

Em Portugal, a notificação de casos de gonorreia aumentou de 1.252 em 2021 para 2.253 em 2022. Nos relatórios divulgados a maioria dos países da Europa registam aumentos em 2022 na notificação de gonorreia, mas os países com crescimentos superiores a 50% foram: Irlanda, Luxemburgo, Espanha, Portugal, Bulgária, Chipre, Estónia, Finlândia, Itália, Letónia, Liechtenstein, Noruega e Polónia.

O relatório da ECDC mostra a taxa mais elevada de casos de sífilis em Malta (24,4 casos por 100 000 habitantes), seguida pelo Luxemburgo (23,4 casos por 100.000 habitantes), Irlanda (16,6 por 100.000 habitantes), Espanha (16,6 por 100.000 habitantes ), Liechtenstein (15,3 por 100.000 habitantes) e Portugal (14,8 por 100.000 habitantes ), e taxas de menos de três casos por 100.000 habitantes na Croácia, Estónia, Letónia, Roménia e Eslovénia.

A ECDC alerta ainda para aumentos dos casos de linfogranuloma venéreo (LGV), que em Portugal subiu de 55 casos em 2021 para 63 casos em 2022, e de sífilis congénita (causada pela transmissão da mãe para o feto), que em Portugal não aumentou e caiu de 15 casos em 2021 para 14 em 2022.

O “aumento significativo” do número de casos de IST notificados em 2022, face ao ano anterior, com os casos de gonorreia a aumentar 48%, os de sífilis 34% e os de clamídia 16%, sublinham a necessidade “urgente de medidas imediatas” para prevenir novas transmissões e mitigar o impacto das IST na saúde pública, diz a ECDC.

JF