O MEDO QUE SE TRANSFORMA EM ARMAMENTO NUCLEAR

O MEDO QUE SE TRANSFORMA EM ARMAMENTO NUCLEAR1

 

As últimas guerras que estamos a assistir, quer com a invasão da Ucrânia, quer com os ataques do Hamas contra Israel, fazem-nos ver que de um dia para o outro a ameaça de guerra mundial (que vai afetar mais países) se torna real.

Dar mais poder a superpotências que demonstram que os seus governantes têm uma enorme probabilidade de tornar o mundo mais inseguro é mais problemático a curto prazo do que a grande questão ambiental do mundo. De um momento para o outro não há sequer razão para se falar do ambiente dado que grande parte da população estará morta ou com pouca esperança de sobreviver.

Segundo fontes do ICAN (https://www.icanw.org/) e do Departamento de Defesa dos Estados Unidos a Rússia, estimativa de 2023, tem 5889 ogivas nucleares. Pela forma como Putin ameaçou o mundo depois da invasão da Ucrânia podemos entender o alcance da ameaça. Putin tem o maior número de ogivas nucleares do mundo. Logo a seguir os Estados Unidos da América com 5224 ogivas nucleares; a China, logo a seguir com 410 ogivas nucleares; a seguir a França com 290; o Reino Unido com 225; o Paquistão com 170 ogivas nucleares, o que nos deixa com sentimento maior de insegurança; A Índia com 164; Israel com 90 ogivas nucleares e a Coreia do Norte com 30 ogivas nucleares. Segundo o relatório da ICAN «Juntos, estes Estados possuem 12.700 ogivas nucleares, das quais 9.400 estão em arsenais militares ativos.»

Já lá vai o tempo em que a China tinha um arsenal nuclear com um número reduzido o que prometia uma certa estabilidade, com um número de ogivas nucleares mais ou menos equivalente ao da França. A realidade é que essa estabilidade acabou de vez com o aumento de investimento em armas nucleares.

Publicada esta semana, a última avaliação anual das capacidades militares chinesas realizada pelo Departamento de Defesa dos EUA confirma a estimativa que Pequim terá, pretensamente mais 90 ogivas nucleares operacionais desde Maio de 2023 ( o que deixará de ser apenas 410 para cerca de 500 ogivas nucleares. Um aumento de 25% em comparação com as 400 mencionadas no relatório de 2022 . A China está muito próximo de ultrapassar as projeções anteriores - segundo os EUA, o que ameaça o mundo, enquanto o arsenal chinês manteve estável o número de ogivas nucleares, que se manteve estável durante anos, neste ano de 2023 passou a haver uma duplicação em apenas três anos.

Estas 410, ou mesmo 500, ogivas chinesas são certamente um número ainda modesto comparando com as 5.889 e 5.224 possuídas pela Rússia e pelos EUA, respetivamente. Mas estes números colossais incluem todas as ogivas das duas superpotências nucleares da Guerra Fria, incluindo as de reserva e as reservadas para uso tático. Por outro lado, ao abrigo do tratado russo-americano New Start – que deixou de ter qualquer validade desde a decisão, anunciada por Vladimir Putin, de não participar neste tratado. Desde Janeiro de 2023, a falta deste tratado coloca o número de ogivas nucleares estratégicas operacionais de Washington e Moscovo como uma ameaça latente ao mundo.

Ainda assim muito do material detido pela Rússia e pelos EUA foi fabricado no tempo da Guerra Fria o que torna a proporção, entre estes dois países e a China, de um para três e não de um para dez entre o arsenal chinês, de um lado, e os arsenais russo-americanos, do outro, é, por isso, mais precisa. O Pentágono prevê ainda que “ a China terá 1.000 ogivas nucleares operacionais até 2030 ” e que a expansão do arsenal chinês também continuará “ até 2035 ”. Neste contexto, em breve teremos de falar de três superpotências nucleares que ameaçam todo o mundo.

O grande receio dos EUA, provocado pelo maior armamento da China, pelas ameaças de Putin e pelas imensas ameaças de grupos terroristas islâmicos levam a que o Departamento de Defesa (DoD) americano anunciasse no dia 27 de Outubro,deste ano, o desenvolvimento de uma nova bomba nuclear gravitacional, a B61-13, uma variante modernizada da tradicional B61.

Esta decisão está, no entanto, dependente “ da autorização e aprovação do Congresso ”, especifica o Parlamento americano no comunicado do DoD (Departamento de Defesa) que acrescenta que “ a produção da B61-13 não aumentará o número total de armas no nosso arsenal nuclear. As novas B61-13 substituiriam oficialmente certas B61-7 que aparecem no arsenal nuclear tático americano, que atualmente inclui cerca de 200 bombas B61, incluindo cerca de uma centena implantadas na Europa”.
Até agora, as B61-12 eram as mais modernas bombas nucleares americanas, mais precisas em particular que as versões anteriores da série B61, mas também menos potentes, com uma carga de "apenas" 50 quilotons - o que já é significativamente mais do que o de Hiroxima e seus 12 kt. As novas B61-13 combinarão a precisão dos B61-12, mas terão a potência dos B61-7 com os quais partilharão a mesma ogiva de 360 kt (30 vezes a de Hiroshima).

Estamos a falar de potências 30 vezes maiores do que os estragos que fizeram com a bomba nuclear que arrasou com a cidade de Hiroxima e Nagasaki.

O desenvolvimento desta nova arma nuclear tática “ reflete um ambiente que se deseja de segurança, para prevenir as ameaças crescentes de potenciais adversários ”, disse o vice-secretário da Defesa, John Plumb, que ainda acrescenta que “os Estados Unidos têm a responsabilidade de continuar a aumentar as capacidades que precisamos para dissuadir de forma credível e, se necessário, responder a ataques estratégicos e tranquilizar os nossos aliados.”

Os Estados Unidos da América (EUA) com as suas 5224 armas nucleares, para além da localização no seu território, ainda concentram em 5 outras países: Turquia, Itália, Bélgica, Alemanha e Holanda. Numa localização geográfica distribuída.

Uma única ogiva nuclear poderia matar centenas de milhares de pessoas, com consequências humanitárias e ambientais duradouras e devastadoras. Colocando a questão, que é dramática do ambiente, em segundo plano de problema mundial.

Para termos uma ideia a detonação de apenas uma arma nuclear sobre Nova York causaria cerca de 583.160 mortes. Se se multipliacar o número de vítimas pelo número total de 13.000 armas nucleares (números por baixo) dá um número de vítimas no Mundo inteiro de 7 581 080 000 pessoas mortas. A população estimada no planeta Terra é de 8.000.000.000 (oito biliões) o que significa que era o fim da humanidade.

Combinados, a Rússia, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a China, a Índia, o Paquistão, Israel e a Coreia do Norte possuem um total estimado de cerca de 13.000 armas nucleares , a maioria das quais são muitas vezes mais poderosas do que a arma nuclear lançada sobre Hiroxima o que revela que enquanto a ONU não conseguir eliminar as armas nucleares de todos estes países a questão ambiental é secundária.

Portugal ainda não assinou o tratado contra as armas nucleares proposto na ONU.

AF