ISTO NÃO É O COMEÇO, É O FIM

TOPINHAS5

 

Começando pelo fim, dado que sou pouco amigo de cumprir regras, devo avisar que a minha crónica de hoje pode acabar mal.

Mas vamos começar do fim: em 2022, o país mais populoso do mundo viu a sua população diminuir pela primeira vez em sessenta e um anos, mas o assunto é amplamente negado pelas autoridades desse país.

Adivinha a que país me refiro?

Se pensa que é Portugal está redondamente enganado. Mas Portugal depende muito desse país. Bem como o resto do mundo necessita das suas grandes fábricas que pagam com “taças de arroz” os trabalhadores.

Claro que falo da China. A superioridade do sistema político chinês, segundo os seus próprios líderes e os seus apoiantes, estaria mais apto para pensar a longo prazo do que as democracias do resto do Mundo.
Desta vez não tiveram uma visão a longo prazo com o caso da demografia. Embora as autoridades chinesas tenham acabado de reconhecer que o país mais populoso do mundo começou a ver a sua população diminuir em 2022, a primeira em sessenta e um anos, estão a minimizar o fenómeno ao fingirem acreditar que está ligado ao Covid-19. Dá-me vontade de rir dado que também é usado como argumento para explicar os muitos erros dos muitos governos - onde Portugal não é exceção. Portanto, não há qualquer necessidade para preocupação, segundo o sistema comunista chinês.

Mas tudo indica que a situação é preocupante para a China.

Na China o fim da política do filho único acabou por também não criar um novo “baby boom” , muito pelo contrário. A taxa de fertilidade diminui todos os anos e é ainda mais baixa do que durante os trinta e cinco anos (1979-2015) que durou esta medida. Resultado: segundo a ONU, a China poderá perder cerca de metade da sua população até ao final do século XXI.

A China não é, de forma alguma, uma exceção. No fundo está a seguir a mesma trajetória do Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Mas, ao contrário destes países, o assunto não é objeto de qualquer debate público na China. No sistema comunista não há a tradição de debates com o comité central.

É até amplamente negado pelas autoridades. Isto porque o declínio demográfico constitui um grande desafio para Xi Jinping. Afirmou o ditador comunista chinês, durante o 19º Congresso do Partido Comunista Chinês em 2017, que “o Oriente, o Ocidente, o Sul, o Norte, o centro, o partido lidera tudo” (palmas).

O declínio da fertilidade prova que o “sábio” comunista está redondamente errado (o “arredondamento” fica muito bem aqui).
Há quem fique feliz com esta informação.

Independentemente de sentimentos mais ou menos felizes, a verdade é que as Ditaduras, comunistas ou fascistas, não resolvem os problemas que as democracias não conseguem resolver. O que é cómico é a forma como a tirania deseja esconder os seus erros. Além disso torna o “sonho chinês” cada vez mais inacessível e mais longínquo.

Quanto mais vão passando os anos, mais difícil será para a China inovar!
Não só porque haverá cada vez menos jovens a entrar no mercado de trabalho, mas também porque as despesas sociais para responder ao envelhecimento da população aumentarão.

Uma diminuição da população não é necessariamente uma catástrofe. Mas obriga aqueles que estão no poder a fazer escolhas dolorosas, a abordar assuntos impopulares como o prolongamento da vida ativa ou o aumento da imigração. A China não está de forma alguma preparada para estas questões e, contrariamente ao que afirma, o seu sistema político constitui uma enorme desvantagem.

Ao apenas prometer um futuro brilhante e apenas publicar estatísticas favoráveis ao regime, o Partido Comunista Chinês está a mentir à população e a esconder o problema debaixo do tapete chinês. Entusiasmado com o crescimento económico excecional ao longo de um quarto de século, o partido está convencido de que os seus sucessos passados lhe garantem um futuro brilhante. O mesmo fenómeno que se passou com Salazar.
E só por isso está errado.

Desde que Xi Jinping chegou ao poder em 2012, o crescimento económico tem vindo a diminuir. Ops! Isso não sabiam os meus leitores. Aposto!

Em 2022, a China registou mesmo um crescimento inferior ao dos seus vizinhos da Associação das Nações do Sudeste Asiático. Agora visto como um rival por muitos países ocidentais, o país enfrenta desafios geoestratégicos, desequilíbrios económicos e problemas sociais consideráveis.

Isto não é nada uma boa notícia para a China, liderada por um futuro septuagenário que pretende permanecer no poder por mais dez ou quinze anos. Mas se o regime ficar tenso a coisa corre-lhe mal.

Já em Portugal, os governantes, têm que tomar medidas sérias em relação aos acordos de poder da China sobre Portugal. Isto sou eu a escrever com os nervos por ser um tuga.

António Pinhas
(Tó Pihas para os amigos)