BURNOUT E DESCONFIANÇA NOS GOVERNOS EM PORTUGAL

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Depois de se celebrar o “Dia Internacional do Trabalhador”, ontem no primeiro de Maio, convém perceber que Portugal é o quarto país da UE onde se trabalha mais. A seguir à Grécia, com 41 horas; a seguir à Polónia com 40,4 horas; à Roménia e Bulgária, ambas com 40,2 horas.

Os portugueses, vêm logo a seguir, trabalhando em média 39,9 horas por semana, mais que os restantes cidadãos europeus, segundo o estudo do Eurostat feito em 2022, já pós-pandemia.

A realidade é que quase 10% dos profissionais trabalham habitualmente mais de 50 horas por semana fruto de uma mentalidade onde a cultura de trabalho em Portugal valoriza a dedicação excessiva. Existe um estigma relativo a "ambientes de trabalho mais felizes” e os diversos governos entenderam como “não prioritário” a fiscalização laboral. O que resultou para que Portugal fosse um dos países da Europa com muitas horas de trabalho por semana.

É esta a realidade da vida dos trabalhadores em Portugal. Em média, a duração da semana da laboral no país, considerando apenas o emprego principal, é de 39,9 horas. Mas há profissionais para quem é ainda mais longa, considerando que acumulam mais do que uma ocupação.

Estes são os dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e mostram que Portugal fica acima da média da zona euro (com uma média de 36,4 horas na UE). Provocando nos portugueses ativos o chamado ‘burnout’. Para as pessoas menos familiarizadas com o termo o ‘burnout’, ou síndrome do esgotamento profissional é uma doença resultante do stress crónico no local de trabalho. Ganhou especial destaque durante a pandemia, sobretudo entre os profissionais da linha da frente de combate à Covid-19.

Segundo o mesmo estudo da OCDE: «Em Portugal, a média da renda líquida ajustada disponível dos 20% da população de classe alta é estimada em US$ 39.702,00 (34.947,09 euros) por ano, enquanto os 20% da população de classe baixa vivem com uma estimativa de US$ 6.870,00 por ano (6.048,64 euros).» Apesar de mais horas de trabalho, Portugal tem dos ordenados mais baixos e que revela mais ansiedade laboral.

Em 2022, o burnout, foi mesmo classificado como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um reconhecimento que deu lugar a um alerta que, por sua vez, levou empresas e outras entidades a implementar ações promotoras da saúde mental dos seus trabalhadores.

Como sintomas e consequências como:
1_O cansaço extremo, a falta de concentração e diminuição de produtividade são alguns dos sinais, mas o burnout não tem impacto apenas ao nível laboral, estende-se também à vida pessoal, comprometendo seriamente a qualidade de vida.

2_ Ao nível físico: problemas gastrointestinais, taquicardia, sensação de falta de ar, tonturas, transpiração excessiva (sudorese), problemas cardiovasculares, enxaquecas, fadiga crónica, tensão muscular com dor, insónia, alterações do apetite, sistema imunitário fragilizado.

3_ Ao nível emocional: tristeza, apatia, falta de prazer nas tarefas diárias (anedonia), frustração, irritabilidade, sensação de injustiça e de falta de recompensa, ansiedade, depressão ou baixa autoestima, entre outros sinais.

4_ Ao nível cognitivo: dificuldade de concentração, lapsos de memória constantes, confusão mental, maior lentidão na execução de tarefas, decréscimo da criatividade, pensamentos persistentes relativamente ao trabalho (ruminações), necessidade de controlo.

Nos comportamentos: impessoalidade, atitude de crítica constante, afastamento, impulsividade e irritabilidade, possível abuso do consumo de substâncias (tabaco, cafeína, álcool, drogas ou medicação).

5_ Ao nível social: isolamento, falta de empatia, comportamento conflituoso com familiares, amigos ou colegas de trabalho.

Criando problemas existenciais, como: conflitos de valores e crenças, necessidade de redefinir prioridades e objetivos, raiva e revolta perante o caminho que a vida está a tomar, alteração da forma como o indivíduo se perspetiva.

A nível laboral começa a notar-se pelos constantes atrasos, absentismo, baixas médicas constantes, maior rotatividade laboral, maior número de erros no trabalho, baixa realização profissional, vontade de desistir e menor produtividade e eficácia.

Os sintomas e consequências do burnout são, pois, físicas e psicológicas, podendo levar a comportamentos de alto risco e até mesmo ao suicídio.

Um inquérito realizado pelo Laboratório Português dos Ambientes de Trabalho Saudáveis revela que 50,6% dos trabalhadores nacionais apresentam risco elevado de sofrer burnout, mas cerca de 80% dos profissionais apresentam, pelo menos, um sintoma associado à doença e metade já três sintomas: exaustão, tristeza e irritabilidade.

Por sua vez o STADA Health Report 2022 revelou que mais de metade dos portugueses (57%) dizem já ter estado perto de sofrer um burnout.

Na origem desta doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estará a sobrevalorização do trabalho, em especial o multitasking, o facto de se ficar para além da hora, de atender sempre o telefone e responder aos emails, em suma, o não desligar, remetendo sempre o lado pessoal e familiar para segunda plano.

Com a pandemia, o teletrabalho impôs-se como solução e ficou, para muito, como opção. O regime de trabalho híbrido (uns dias em teletrabalho e outros no escritório), de acordo com especialistas, está associado a um melhor ambiente de trabalho e é o que mais protege a saúde mental dos profissionais. No entanto, tal não é viável em grande parte das áreas profissionais.

Este esforço enorme obriga a um trabalho menos produtivo e que se repercute na economia nacional. De acordo com o “Workforce Index” os trabalhadores que se sentem obrigados a ultrapassar o seu horário normal registam pontuações de produtividade 20% mais baixas do que os que desligam no final do dia de trabalho.

Porém, em Portugal, os trabalhadores enfrentam a probabilidade de 9,1% de perderem seus empregos, o que está acima da média da OCDE de 5,3%. O que aumenta a possibilidade de entrarem facilmente em burnout.

Com este cenário a realidade é que a confiança nos governos em Portugal é muito baixa. O que baixa muito a possibilidade para a coesão portuguesa e o bem-estar social.
O Estudo da OCDE considera que em Portugal, apenas 18% dos cidadãos afirmam confiar nos governos nacionais, abaixo da média da OCDE, que é de 39%.

A participação eleitoral é uma outra medida que mede a confiança pública no governo pela participação dos cidadãos nos processos eleitorais. Nas últimas eleições para as quais existem dados disponíveis, a participação eleitoral em Portugal foi de cerca de 58% dos eleitores registados. Este número representa uma das menores taxas na OCDE, onde o resultado médio é de 72%.

O estudo da OCDE revela também um facto interessante. Considerando que em Portugal, a participação eleitoral para os 20% com mais desafogo económico é estimada em 63% enquanto que a participação eleitoral para os 20% menos favorecidos é estimada em 56%.

Estes dados servem para que se possa refletir como está a ser gerido o trabalho em Portugal, onde a solução para que haja mais trabalhadores a trabalhar mais e com menos ordenado é abrir as portar à migração - como medida política usada pelos dois maiores partidos portugueses.

O que se reflete na satisfação geral dos portugueses onde o estudo da OCDE revela que para “classificar a satisfação geral numa escala de 0 a 10, os portugueses atribuíram maioritariamente uma nota de 5,2. Que é considerada uma das mais baixas pontuações da OCDE, cuja satisfação com a vida média corresponde a 6,6.
A OCDE conta com 38 países membros.

FG
02-05-2025