Albarda-se o burro à vontade do dono

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Os meus avós maternos tinham uma burra, cega de um olho mas terrivelmente esperta. E com uma memória que até metia aflição.

Das minhas recordações dos doze anos, mais coisa menos coisa, devo-lhe a recordação caricata de ter andado de albarda às costas a correr atrás dela – eu é que a tinha albardado mal-   e outras não tão risonha como a de ter fracturado o joelho esquerdo ou ela ter caído num poço à beira da estrada e eu não a ter conseguido tirar de lá sem ajuda.

Com a evolução da linguagem e do vocabulário, já pouca gente se lembra do que é uma albarda. E tudo isto porque, obviamente – ou claramente -, os burros andam cada vez mais pelas urbes citadinas, engravatados, tendo substituído as albardas por cheviotes, e já nem caminham sobre 4 patas, muito menos com ferraduras. É vê-los todos faustosos, com sapatos de marca, bem engraxados, a viajar em automóveis de alta cilindrada e muitos … cavalos …

 

A albarda era um selim grosseiro (e grosso…) que se punha em cima do costado das alimárias asininas.

 

A arte da sua feitura não é nada simples, por isso se ouvia frequentemente o provérbio popular “Albarda-se o burro à vontade do dono”, o que, em linguagem corrente – ou decorrente -, quer dizer que devemos fazer as coisas à vontade do chefe e do patrão…

 

Em cada aldeia e vila, havia sempre pelo menos um albardeiro, que era o homem que fazia e consertava as albardas, e o ferrador que “calçava” as bestas.

 

Hoje, os albardeiros são pouco mais que recordações em placas toponímicas, porque, engravatando-se, os burros passaram a asnos, o que lhe “dá” categoria social e até poder de mando.

Zefe