SER NACIONALISTA: UM ATO DE AMOR À PÁTRIA
Vivemos tempos estranhos, em que os símbolos perderam o peso do seu significado, e em que a simples manifestação de amor à pátria se confunde, muitas vezes, com ideologias extremas que nada tem a ver com o verdadeiro sentimento nacional.
Ergue-se uma bandeira de Portugal na janela de um carro e rapidamente surgem olhares de desconfiança, sussurros que associam esse gesto a intenções políticas duvidosas.
É curioso — e profundamente revelador — que tal suspeita desapareça como por encanto quando a seleção nacional entra em campo. Aí, o mesmo símbolo é aceite, celebrado, até incentivado. Ser português, nesse momento do futebol, é permitido.
Fora dele, parece que se tornou quase um ato de coragem.
Mas desde quando amar o nosso país é motivo de vergonha?
Desde quando é preciso pedir desculpa por sermos portugueses?
Porque é que a identidade nacional se tornou um campo minado, onde a mera defesa da nossa cultura, da nossa língua, do nosso património, soa a ameaça em vez de sentido de pertença?
Ser nacionalista, no seu sentido mais puro e legítimo, é reconhecer o valor intrínseco da nossa História, das nossas tradições, dos nossos saberes. É compreender que há algo de único em ser português, algo que merece ser cuidado, preservado e partilhado com o mundo.
Não se trata de exclusão, mas de pertença. Não é superioridade — é responsabilidade.
Defender Portugal não pode ser um ato sazonal, limitado aos noventa minutos de um jogo de futebol.
Ser português é um compromisso diário: com a justiça, com a educação, com a solidariedade, com o trabalho digno, com a língua que falamos e com os valores que herdámos.
É construir um país onde se possa viver com honra e deixar aos nossos filhos algo de que se possam orgulhar. É preciso resgatar o sentido profundo da palavra nação: uma comunidade de destino partilhado, que se reconhece nos mesmos símbolos, que honra os seus antepassados e projeta o futuro com os pés bem assentes na sua identidade.
Não devemos ter medo de ser portugueses. Não devemos ter vergonha de erguer a nossa bandeira.
Devemos, sim, combater o esquecimento, a indiferença, a perda lenta do que nos torna únicos.
Ser nacionalista não é erguer muros, mas sim construir pontes com as nossas muitas raízes. E quem tem, como nós, portugueses, muitas raízes e profundas não deve temer os ventos das mudanças no mundo — sabe de onde vem e para onde vai.
E como não recordar, com um nó na garganta, os tempos em que se jurava bandeira no serviço militar?
Era um momento solene, que nos atravessava a alma.
Quantos não deixaram cair uma lágrima, sentindo o peso da responsabilidade e o orgulho de servir Portugal?
Quantos não entoaram o hino nacional com a voz firme, afinada pela emoção, sem necessidade de letra escrita, porque a sabíamos de cor e, mais do que isso, de coração?
Naqueles tempos, sabíamos o que representava a bandeira de Portugal:
- O verde simboliza a esperança do povo português;
- O vermelho representa o sangue derramado por aqueles que lutaram pela independência da pátria;
- O escudo central, com as cinco quinas, evoca os cinco reis mouros vencidos por D. Afonso Henriques, e os pontos brancos representam as cinco chagas de Cristo — a fé que sustentou os nossos fundadores;
- Os sete castelos simbolizam as fortalezas conquistadas durante a formação do território nacional;
- E a esfera armilar dourada, por trás do escudo, representa o nosso passado glorioso nos Descobrimentos, o espírito universalista que nos levou a cruzar mares e a levar a nossa língua e cultura aos quatro cantos do mundo.
A bandeira é mais do que um pano.
É a nossa memória coletiva, o sangue dos nossos, a fé dos nossos avós, o génio dos nossos navegadores, a coragem dos nossos soldados, a esperança dos nossos filhos.
É tempo de voltarmos a sentir esse arrepio no peito, não apenas nos dias de festa, mas em todos os dias da nossa vida.
Porque ser português não é um instante: é uma herança, uma missão e, acima de tudo, um ato de amor.
Sancho Antunes