MÁSCARAS DA SIMPATIA E CARREGAS DE PORRADA!
Tendemos a esconder os nossos defeitos, a entretê-los às ocultas, para que não nos apanhem no ato e não tenhamos de nos justificar. Cobre-nos uma máscara de simpatia, maquilhada num perfil que nos desejam os outros. Claro!
Mais nos obrigam a cobrir, com as máscaras da simpatia, as chefias laborais.
Mas há defeitos, aparentemente inócuos, que incomodam mais a quem os surpreende do que a quem deles sofre: falo, por exemplo, da perversidade de me assumir como ser humano quando estou em contacto com clientes, chefes ou mesmo colegas de trabalho.
O conselho inopinado com que as chefias nos controlam a atitude, para mantermos a “máscara de simpatia”, fazem-nos brotar internamente todos os sintomas de esgotamento. Ou como fica mais chique dizer: passamos a ter “burnout”, ou Síndrome de Esgotamento Profissional! Ora porra para isto!
Para não dizer: “merda para isto” só para citar Paul Celan, aqui em rude paráfrase!
A reação de estupefação, de alguém que confortavelmente pode dizer tudo e descarregar as suas angustias, nervoseiras e outros problemas psiquiátricos ou psicológicos sobre subordinados, empregados, trabalhadoras como as que trabalham diretamente com clientes deveriam ter direitos extras.
Sim, desses direitos especiais para quem se exponha ao esgoto psicológico dos outros por razões profissionais. Por isso reivindico o direito a dar uma carrega de porrada num chefe, colega ou cliente uma vez por mês. Manifestamente apenas uma vez por mês, não mais do que isso!
Em nome do poeta Paul Celan cito esta parte de um poema seu que diz:
«Mais negro de negro, fico mais nu.
Só quando sou rebelde sou fiel.
Eu sou tu quando sou eu.»
Será que os outros não se apercebem que nos contaminam e só quando somos rebeldes é que somos fieis. Por isso bota de dar uma carrega de porrada num parceiro profissional que nos funde os circuitos.
Ou se quiserem, à laia de moral digo-vos: o Direito de dar uma carrega de porrada fica suspenso quando cada um de nós entra em férias. E passa a ser cliente e exigimos que do outro lado sejam pessoas que se cubram com a “máscara da simpatia”.
Maria Júlia