LENDA DE COIMBRA USURPADA A CONDEIXA-A-VELHA
Eh Lá! Já basta ficarmos com o nome, não é “nechechário” apanharmos também a lenda. Há coisas que se fazem porque têm de ser feitas. A elas se é impelido e porque fomos postos aqui para isso. É isso que acredito. Uma delas é a “Lenda da Coluber” da cidade de Coimbra usurpada de Condeixa-a-Velha.
Bem sei que deveria calar e fazer de conta que a lenda era desta cidade de Coimbra, mas não é. Desculpem lá os que mandaram pintar no Largo das Ameias a pintura que invoca a lenda de Coimbra. Por sinal está muito bem feita, mas o contexto está errado! Por muito que me achem uma “chata” não gosto de usar o tautológico “porque sim” ou “porque não” também não o uso para este caso da lenda atribuída a Coimbra.
O seu a seu dono, ou como dizia Jesus «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (nos evangelhos de Mateus 22:21; Marcos 12:17 e Lucas 20:25). Tal como dar a César é apenas uma ilusão, também a lenda está atribuída a Coimbra quando deveria ser dada a Conimbriga (Condeixa-a-Velha).
Explico a razão: no último quartel do século VI, o bispo de Conimbriga (Condeixa-a-Velha) veio fixar-se em Aeminium. Com o bispo vieram a população e a Cúria Episcopal e o nome de Coimbra substituiu para sempre o nome de Aeminium. Mas não pode herdar também as lendas. O território de Coimbra tinha o nome de Emínio (em latim: Aeminium) e que significa “elevação” ou “altura” muito possivelmente com nome dado pelos antigos povos lusitanos. Lá está e deveria ser esse o tema para o tal painel no Largo das Ameias.
A piada está na usurpação da lenda para além do nome. Assim como Guimarães usurpou o “berço da nação”. No máximo Guimarães é o “berço” de D. Afonso Henriques. O “berço” da nação é no território que já se chamava Coimbra. Foi aqui neste território que D. Afonso Henriques, o fundador, decidiu iniciar o país. Não o condado, mas o país.
Tal como um amigo meu que queria meter conversa com uma moça e que disse: «- Posso hablar com os tenes?» e a moça sem mostrar qualquer expressão respondeu: « - Sim. Com os tenes, com os sapatos, com os chinelos...» num bom português. Esta coisa de achar que sabemos dá nisto.
Acontece que estou a aprender a não me ralar com as minhas alegadas ruindades. Prefiro ocupar-me a desmanchar ideias, desligar automatismos e expandir limites percebidos. Prefiro escolher a liberdade de poder pensar em vez de repetir o que se anda a dizer.
Por outro lado omissão é consentimento. Deixar de dizer que o rei vai nu é patrocinar o desfile. A Verdade não precisa de arautos para ser verdadeira, mas para ganhar terreno à mentira e à injustiça.
E agora vou ali beber uma água com limão fresquinha.
Maria Júlia