“A RAPOSA E A CABRA”

JO JONES63

 

Na nossa encantadora cidade de Coimbra, onde as tradições são inúmeras, há histórias que se destacam pela sua singularidade. Esta semana, convido-vos a conhecer a lenda de uma raposa muito especial. Não se trata da raposa animal, aquela que tememos pelas nossas galinhas, mas sim de uma figura mítica que evoca o medo dos chumbos, um temor que atravessa gerações. Nesta narrativa, a raposa torna-se um símbolo de astúcia e mistério. Convido-vos a explorar os contornos de uma tradição que permeia o imaginário coimbrão. Preparem-se para mergulhar numa história que desafia a lógica e nos transporta a tempos em que o real e o fantástico se cruzavam de forma indissolúvel.

Nos meus tempos de estudante, uma advertência da minha mãe ecoava frequentemente nos meus pensamentos:
- No dia em que trouxeres uma raposa para casa, minha filha, os teus dias de estudo estarão contados, e o trabalho será o teu novo destino. Não penses que vais andar a passear os livros.
- Vais imediatamente aprender costura.

Aquela ideia não me era nada agradável. Eu nem gostava muito de costura. Gostava mais de trabalhar na renovação de alguns móveis antigos ou construir uns carrinhos de rolamentos com os quais fazia umas competições.
Sempre gostei de coisas diferentes. Também já gostava de me dedicar a alguns textos escritos e à leitura de alguns autores.
Mas naquela altura, aquelas palavras envolviam um mistério que não eu compreendia, e a figura da raposa, mencionada com tal seriedade, parecia distante e quase mítica.

No entanto, ao longo do meu percurso enquanto estudante , descobri que essa raposa era muito mais do que uma simples lenda. Era um símbolo de astúcia e incerteza que pairava sobre os estudantes da venerável Universidade de Coimbra.

Localizada na icónica Faculdade de Direito, a raposa encontra-se imortalizada num azulejo que adorna a antecâmara da sala de exame final. Esta peça, com as suas cores outrora vibrantes, não é apenas um elemento decorativo, mas um símbolo repleto de significados profundos.

Os estudantes, em momentos de ansiedade e expectativa, dirigem-se a ela, alguns procurando a sua bênção ao encostar-se à figura astuta, enquanto outros, receosos de um eventual "chumbo", preferem manter uma prudente distância do velho azulejo já gasto pelo tempo. A raposa transformou-se, assim, num talismã de sorte, mas também num portador de infortúnios.

A sua presença é uma constante lembrança de que o sucesso e o fracasso andam de mãos dadas, e que, na vida académica, é não só, a linha entre a vitória e a derrota, pode ser tão ténue quanto a própria cauda do animal. Os estudantes, em momentos de frustração, descarregam a sua ira contra o azulejo, que, ao longo dos anos, sofreu as marcas de inumeráveis pontapés e desabafos, agora protegido por um painel que tenta preservar o que resta da sua integridade.

Num gesto de criatividade e homenagem, o Conselho de Veteranos da FDUC decidiu criar uma réplica do azulejo na parede exterior da sala do "Sr. Xico". Assim, os alunos podem "pontapear" as respostas erradas, transformando a frustração em riso, e a lenda da raposa continua a viver, não apenas como um símbolo de astúcia, mas como um testemunho da experiência estudantil na emblemática cidade de Coimbra.

Hoje, ao refletir sobre as palavras da minha mãe, percebo que a raposa, com todo o seu simbolismo, é uma parte intrínseca do percurso de cada estudante, lembrando-nos de que, por detrás de cada desafio, existe uma oportunidade de crescimento e aprendizagem . Esta lenda , que une gerações, revela a complexidade da vida académica e a eterna procura pelo sucesso.

Não se esqueçam também que há outros "animais" muito importantes na universidade. Deste 1728, dos quatro sinos da torre, Um deles chama- se " a cabra". Denominação dada pelo facto de ter como principal função acordar os estudantes pela manhã. Ainda hoje toca a partir da 7h30m durante as atividades letivas ou de informar à cerca dos atos solenes e em alguns casos do falecimento de docentes da universidade. Mas falaremos melhor sobre a nossa cabra numa próxima crónica. Até lá, bom fim de semana.

Boas leituras com o nosso O Ponney.

Manuela Jones