COIMBRA E A IMPORTÂNCIA PARA PORTUGAL

COIMBRA E A IMPORTANCIA PARA PORTUGAL1

 

Um país só sabe para onde quer ir quando investe no conhecimento da sua História.


É sabido que Portugal não investe muito em conhecer a sua História e uma das provas é uma certa antipatia que, normalmente, os poderes autárquicos têm em relação aos estudos de Arqueologia quando “atrapalham” as obras ou não deixam que se construa em todos os espaços caros para o mercado.

Também confirma uma certa antipatia pela História de Portugal demonstrada pela falta de organização dos arquivos históricos portugueses e assim continuar (recomendamos o livro «Arquive-se, uma viagem pelos arquivos nacionais», escrito por Rita Almeida Carvalho e editado pela FMS) .

Claro que cada área considera-se como “área fundamental”. Isto é lugar comum.
Mas será exatamente assim no caso da História de Portugal, que faz parte do ensino e que é a base de qualquer área que vai da Economia até à Saúde?

Fazemos algumas perguntas que nos pode dar algumas pistas para conhecer melhor o nosso país, a nossa cultura e sabermos para onde desejamos caminhar.

Que se sabe dos Lusitanos?
Sabe-se muito pouco e grande parte das fontes provêm de documentos romanos. Apesar da pouca documentação uma das obras de referência da literatura portuguesa seja exatamente «Os Lusíadas» como povo que deu origem aos portugueses. Pois Luís de Camões encontra a valentia como herança dada pelos lusitanos aos portugueses e essa essa herança que devemos procurar.

A palavra ‘valentia’ como: intrepidez; coragem; denodo; proeza que nos levou a enfrentar desconhecido mar aberto. Essa mesma valentia com que, também, os lusitanos resistiram à invasão do império romano que durou 200 anos e que deu força para que Portugal não fosse uma província de Castela.

Esta valentia não corresponde a um caráter belicoso entre si, mas a uma defesa de valores - como diz Jorge de Alarcão no seu artigo «Novas perspetivas sobre os Lusitanos (e outros mundos)» que escreve: «Não parece que, internamente, os Lusitani se guerreassem, pois nem nas fontes literárias do século II a.C. temos testemunho disso. O discurso de Galba (em Apiano, Ib., 58-60) parece referir-se mais a guerras movidas pelos Lusitani a outros, do que a lutas de Lusitani entre eles.»

A questão que, naturalmente, se coloca é o que motivava os lusitanos (a lembrar que tanto homens como mulheres era exigida essa valentia) a defender tão obstinadamente (luta de 200 anos) contra a cultura romana?

Não seria, com toda a certeza, o de não aceitarem culturas estrangeiras. Os lusitanos tinham a figura de “hospitium”, numa tradução mais direta o ‘hóspede’ para todos os estrangeiros que quisessem entrar e eram bem recebidos. A própria Lusitânia era constituída por povos diversos que se juntavam e com algumas diferenças entre si. Interessante a ligação da imagem que se tem do português e mais tarde a própria razão para se manter Portugal independente.

O que nos é mostrado, ao longo de alguns estudos, é que os lusitanos não aceitavam que a propriedade se sobrepusesse, na aceitação social, às características individuais de coragem e valentia como símbolo maior de uma ética lusitana.

O Doutor Jorge de Alarcão escreveu no mesmo artigo já aqui citado: «O discurso de Viriato a Astolpas, no decurso da boda com que o sogro celebrou o casamento do caudilho (Diodoro, 33, 7, 1), insistiu exatamente na vulnerabilidade da riqueza de Astolpas, dependente das armas dos guerreiros lusitanos. Foi um discurso, não de vergonha de ser pobre, mas de orgulho de ser poder, ou de ter poder de proteger.»
A riqueza tem a fraqueza de não ser reveladora da pessoa, mas apenas revela uma posse desligada da pessoa, enquanto a valentia é muito apreciada para a Lusitânia.

Para confirmar a posição sobre a propriedade está o autor Apiano (historiador romano de origem grega que viveu entre os séculos I e II d.C) revela a existência de uma propriedade comunitária, que para além de terras incluía cavalos, produtos agrícolas e diversos outros bens comunitários incluindo um tesouro público, do qual fala Diodoro. Esta propriedade comunitária era outra característica que os lusitanos queriam defender da cultura romana.

Concluimos que os lusitanos deixaram aos portugueses:
1-O valor da valentia acima da propriedade, que deveria servir a comunidade e não ser característica individual - por isso a herança dos baldios ainda nos dias de hoje que provam a preocupação que o outro não passe necessidades;
2-O de aceitar toda e qualquer cultura diferente - pois só assim se formou a Lusitânia e cristalizado na frase bem portuguesa «seja bem vindo quem vier por bem».

A ligação à formação de Portugal temos uma figura que muito depois de Viriato vai revigorar a herança lusitana.

Desta vez vem de um judeu nascido em Tentúgal com o nome Sesnando Davides, que depois de ter sido levado pelos muçulmanos e de se tornar um guerreiro, provou a inteligência e a coragem, na forma de valentia que os lusitanos tanto enalteciam, acabando por acordar a herança lusitana.

A sua cultura e o seu grande conhecimento sobre as três religiões do Livro Sagrado: Judia, Cristã e Islâmica rebate qualquer opinião que considera “Sesnando Davides como um herói improvável”! Pois quando Fernando I o eleva a Conde de Coimbra pela última reconquista cristã no ano de 1064 - Sesnando Davides - torna o condado de Coimbra um espaço de plena liberdade religiosa que chega a chocar os poderosos cristãos, senhores de uma enorme intransigência religiosa e cultural.

Sesnando não só nada tinha de “herói improvável” (curiosamente um título de um livro infantil que ensina mal as crianças e adotado pela CMC) como tinha plano para a união de culturas revivendo a hospitalidade que tão bem era aceite pelas gentes herdeiras da cultura Lusitânia desta gente concentrando o território na região central de Portugal.

Ora é exatamente o principio de hospitalidade e abertura a outras culturas, junto com valores de valentia que irá fundar Portugal a que não é estranho o facto de o próprio Conde D. Sesnando ter casado com a filha do Conde Nuno Mendes. Já o sogro de Sesnando reivindicava a independência do Condado de Portugal.

Um pouco mais tarde, pela cronologia, D. Afonso Henriques centra a sua residência em Coimbra (inclusivamente decidindo por Coimbra como última morada) e que obviamente é redutora pensar que era para estar mais próxima das linhas inimigas - como se quer fazer crer.

O que não só torna o berço da nacionalidade em Coimbra (diferente do possível berço de Afonso Henriques que é Guimarães) como é muito possível que Afonso Henriques vá encontrar, ou sabia que iria encontrar, em Coimbra o sentido de liberdade de culturas e de culto trazido pela mão de D. Sesnando e herdado dos velhos lusitanos e enraizado no povo.

O que nos leva a pensar que uma boa semente só germina quando a terra onde cai é propicia para o desenvolvimento da planta. A “terra” já existe, que é o pensamento português, mas falta a consciência de quem é para acolher as boas “sementes”, as ideias que incentivam as boas características do povo português.

Não tendo intenção de ser uma aula de História, por tantas mais importantes informações aqui não caberem, mostra a importância do maior estudo sobre a nossa História para desenvolvermos um país na medida da nosso pensamento e cultura.

FG