Romance da Rainha Santa Isabel

Rainha-Santa-Se-Velha-Coimbra.jpg

Peço graça com fervor

Do divino Manuel,

Para que haja de rezar

Da Rainha Santa Isabel:

Em Saragoça nascida,

Segundo a oração diz,

Foi rainha mui querida,

Mulher d’el-rei Dom Dinis;

Aos pobres socorria

Com entranhas do coração;

Pois de ninguém se fiava,

Sua esmola apresentava

Com a sua própria mão.

Vindo a “santa” um dia,

Com seu regaço ocupado,

Pelo tesouro que havia,

Com el-rei eis encontrada!

«Que levais aí, Senhora?

Levo cravos e mais rosas,

Para mais nossa alegria.

Bem sei que levais dinheiro,

Segundo sois costumada;

Antes que muito me cheira,

Rosas em Janeiro,

É de maravilha achá-las!»

A Senhora

O seu regaço lhe amostrou,

Cravos e rosas achou,

Um cheiro que admirava.

«Ó rainha excelente!

Meu tesouro podeis dar,

Minha coroa empenhar

Porque tudo estou contente.»

Estando a “santa” um dia

Na sua sala sentada,

Chegou-lhe um pobre chagado,

Se o podia arremediar;

Ela lhe disse

Com palavras de amor:

«Mandarei chamar o doutor,

Que vos haja de curar.

Senhora, se queredes

Ter o vosso coração inflamado,

Deitai-me na vossa cama,

Que eu serei remediado.»

A Senhora

De pés e mãos o lavou,

Na sua cama o deitou.

Um cavaleiro, que no paço

Havia encontrado,

A el-rei tudo é contado.

Vindo el-rei muito agastado,

Com tenção de a matar,

Contra a clemência que usava;

Na cama onde repoisava

Deitar um pobre chagado.

A Senhora correu o cortinado,

Achou Jesus crucificado!

Muito chorou o rei com ele

Dos milagres, que ela tinha obrado.

Em Estremoz acabou

Em Coimbra está sepultada,

No convento que formou

De Santa Clara sagrada.

 

in Romanceiro e Cancioneiro Popular Português

Arte: - Rainha Santa Isabel, "Milagre das Rosas" - Sé Velha de Coimbra, Séc. XVII, óleo sobre tela.