Um Amor Unido

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Hoje vou tentar surripiar-te um abraço e um beijo. Não como se fossem os últimos,

[Desde sempre que sabes que odeio despedidas…]

mas como se fossem os primeiros. E eu sei que sabes que, quando em vez, gosto de regressar aos primeiros tempos. Ah, o tempo, meu amor! O tempo é tudo, sei que sabes sobre tudo isso. Eu sei que sabes que eu sei que sabes tudo. Sobre mim e sobre ti. Sobre nós. Como não haveria eu de o saber?

[É mais fácil a vida partilhada… Não é, amor?]

Não é que seja necessário fazerem-se pazes. Não houve zaragatas. Não há pazes a fazer. Mas há sinais de fumo a tentar enviar mensagens que só o amor descortina no horizonte. Nos horizontes.

E está a chegar o tempo. Talvez uma nova coligação! Esquivo, o amor, não é? E, como dizia o filósofo, que estranho é o amor quando dele se fala… Consegues perceber-me?

Claro que consegues, tu consegues (quase) tudo. Mas tu também sabes como eu sou: por vezes, baralho tudo e interrogo-me se pretendo maioria sozinho, se pretendo nova coligação, se pretendo mudar de estratégia. E, como sabes, a mudança muda

[Ai se muda…]

e até pode ser má conselheira, se feita antes do tempo certo! E que haveremos nós de fazer? Continuar assim juntinhos-desunidos? Ficarmos nós "quietos" e enfiarmo-nos num envelope e remetermo-nos para outros "leitos"? Mais uns?

Quiçá, um dia destes, decidirei escrever algo sobre ti, sobre nós, sobre como conseguimos manter isto de uma forma aparente e sem desconfianças. Escrever algo mesmo profundo, deixas-me?

Se não deixares acabaremos com a "geringonça", respeitarei… Mas, nesse caso, que faço eu com a escrita ou com o amor por ela e por ti e por nós, que são coisas que ardem sem se ver e, cumulativamente, que se vêem e ardem e queimam e atormentam o coração?

[E, entretanto, dás-me um abraço e um beijo, como os primeiros?]

© Luís Gil Torga

Arte - René Magritte - Os Amantes