TRITURADORA

 

Desde sempre o PSD tem sido uma trituradora de líderes, muito embora, para surpresa de todos, ou não, alguns tenham durado para além das previsões mais optimistas.

Quando foi que, mesmo havendo mais de dois candidatos, estes não foram sujeitos ao sacrifício?

Nunca o PSD teve um candidato à liderança que se tenha apresentado, perante os sempre poucochinhos militantes, como o candidato natural e indiscutível. Tão poucochinhos que tiveram de reeditar o caciquismo.

A razão é o facto de o PSD ser um terreno minado por grupos que disputam interesses particulares, fazendo disso a política. A política mais suja que se possa imaginar. Os escândalos conhecidos são disso bom exemplo.

O BPN serviu, principalmente, para arrastar no tempo um líder que soube privilegiar um dos grupos de interesses, beneficiando, melhor, pagando a outros grupos de interesses, do bolso dos contribuintes.

Por isso, quanto mais liberalidade, melhor.

O coelho sacrificado – as qualidades não eram conhecidas – fez o País pagar aos grupos de interesses que o mantiveram, sem reduzir a dívida do País.

Agora, o que mais importa não é o superior interesse nacional, sempre invocado. O que importa é restituir o poder à “direita”.

Daí que o candidato ganhador já esteja com prazo à vista.

Para os grupos unidos em torno do saque aos contribuintes, nem se exige lucidez ao novo líder. Lucidez no diagnóstico que fez e na definição das estratégias e políticas a preparar na ponderação do diálogo.

Infelizmente, há mais trituradoras neste País de espremidos!

Sande Brito Jr

 

João Miguel Tavares

Opinião

Rui Rio ganhou… a pensar na derrota de 2019

Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

16 de Janeiro de 2018, 6:23

 

Há muita gente espantada com o facto de Rui Rio ter anunciado durante a campanha para a liderança do PSD a sua disponibilidade para se aliar com António Costa em caso de derrota nas eleições de 2019. Nos debates com Santana Lopes, Rio não recorreu às habituais evasivas sobre o tema – “não é o momento para discutir esse assunto”, “não admito à partida a hipótese de derrota”, e outras banalidades –, preferindo assumir a possibilidade de perder as próximas legislativas e a abertura para formar um novo Bloco Central. Muita gente não percebeu esta opção e achou mesmo que ela iria beneficiar Santana – e pode, de facto, ter reduzido a margem da sua vitória. Mas, se pensarmos um bocadinho, o que Rui Rio fez é perfeitamente compreensível, e até avisado: o novo presidente do PSD tem menos de dois anos para se preparar para a derrota nas próximas legislativas, e por isso começou em Janeiro de 2018 a construir o caminho para a sua sobrevivência política após Outubro de 2019.

A não ser que o desacreditado diabo sempre acabe por aparecer, o que nesta altura ninguém prevê, António Costa vai ganhar as próximas eleições com facilidade, por mais intervenções vistosas que Rui Rio faça. A razão é simples: os governos caem por demérito próprio ou cansaço dos eleitores, e não pelo brilhantismo da oposição. Ora, o país não está cansado de Costa e do seu Governo. E Rio não esteve tanto tempo à espera de chegar à liderança do PSD para o seu mandato durar um ano e nove meses, e de seguida ser corrido por um qualquer Montenegro. A sua estratégia não pode, portanto, passar por imitar Santana Lopes, com um discurso exageradamente optimista e um voluntarismo inversamente proporcional à sua eficácia, mas sim de cautelosamente gizar uma estratégia que lhe dê alternativas para se aguentar na São Caetano à Lapa após uma vitória por maioria relativa do PS.

Claro que se Costa ganhar por maioria absoluta Rui Rio está condenado. Mas se o PSD encurtar distâncias para o PS e conseguir uma derrota honrosa, ele pode ter hipóteses de se manter no lugar. Se o PS aceitar a criação de um novo Bloco Central com o argumento das reformas de que o país precisa, o PSD acabará por regressar ao poder. E se o PS não aceitar – como, no fundo, penso que Rio pretenderá –, ele poderá então argumentar que o PS se encostou, por vontade própria, à extrema-esquerda, solidificando a posição do PSD como alternativa moderada a uma segunda “geringonça”, que certamente não terá a estâmina da primeira.

Não vale a pena estar aqui a argumentar com a imprevisibilidade da política. Sim, tudo isto pode correr mal. Mas, em cada momento, é necessário ter um plano para o futuro, e, se este for o de Rui Rio, não me parece mal construído – até porque Rio terá em Marcelo um aliado, por mais desentendimentos que possam ter tido no passado. Marcelo é pragmático e está pouco interessado em que os portugueses ofereçam uma maioria absoluta ao PS, desde logo porque isso iria diminuir o seu próprio poder. Visto desta perspectiva, a ideia de assumir à partida a possibilidade de um Bloco Central é a estratégia mais interessante para Rui Rio não ser um simples líder a dois anos. É evidente que aquilo que é bom para Rui Rio não é necessariamente bom para o PSD. Mas essa é uma outra conversa. Por mais ideias que Rio tenha para o futuro do país e do seu partido, ele precisa de permanecer na liderança para as implementar. A sua prioridade até ao final de 2019 será só uma: sobreviver.

Jornalista